Rotinas de skincare seduzem pré-adolescentes e acendem alerta para riscos na pele

Motivadas por vídeos no TikTok, meninas entre 8 a 14 anos têm uma lista de produtos de beleza em sua rotina de cuidados com a pele, alguns deles, desnecessários para suas idades. Especialistas apontam os riscos causados na pele e na saúde mental desse grupo

Por Mariana Rodrigues, Redação Marie Claire — São Paulo


Pré-adolescentes nas redes sociais Getty Images

A geração Alfa - de nascidos a partir de 2010 - está na mira da indústria da beleza. É cada vez mais comum abrir o TikTok e se deparar com meninas entre 8 e 14 anos compartilhando suas rotinas de skincare, que incluem, além de sabonete e protetor solar, produtos como sérum, hidratantes e vitaminas antiidade - muitas vezes com ácidos na composição.

A enxurrada de conteúdo voltado para este público acendeu o alerta em pais e especialistas, que se preocupam com os efeitos causados na saúde mental e física dos "tweens", como são apelidados os pré-adolescentes. Segundo estudo publicado pelo Jornal de Dermatologia Pediátrica americana, em março de 2020, a Universidade da Virgínia Ocidental concluiu que 41% dos adolescentes buscavam auxílio nas redes sociais para tratamentos de acne. No entanto, apenas 31% das recomendações dadas nas redes sociais estavam alinhadas com a Academia Americana de Dermatologia.

A dermatologista Giselle Sanches explica que o assunto já é pauta nas reuniões de dermatologistas no Brasil e chama atenção para os perigos ao usar produtos que não são destinados à pele jovem. "Tudo o que a gente aplica na pele é absorvido pelo organismo. Uma pele imatura absorvendo produtos com disruptivos endócrinos pode causar alteração da produção hormonal, como antecipação da puberdade e amadurecimento dos folículos ovarianos."

Sanches também é mãe de duas meninas, de 8 e 9 anos, e conta que no aniversário das filhas se assustou com a quantidade de produtos de beleza como maquiagens, hidratantes e produtos para as unhas que as meninas ganharam de presente. A especialista explica que além dos influenciadores digitais, a indústria de beleza tem criado cada vez mais produtos que chamem atenção de crianças e adolescentes, gerando desejo.

“O apelo mercadológico e estético da embalagem com cores, glitter, e desenhos é muito alto, porém a qualidade do material é um lixo dermatológico. Um dos ingredientes principais destes produtos são perfumes, corantes e conservantes, que funcionam como irritantes da pele", explica a dermatologista.

No TikTok, a febre das meninas compartilhando seus itens de beleza virou uma bola de neve e vem causando grande impacto em lojas físicas. Nas últimas semanas, vídeos de vendedoras de uma grande varejista no ramo da beleza pipocaram na rede social dos vídeos curtos. As profissionais alegam que crianças e pré-adolescentes entram nas lojas em grupos e acabam com estoque dos produtos disponibilizados como testadores, além de consumirem itens que não são indicados para a faixa de idade.

A jornalista Ellen Paes precisou frear a empolgação da filha Valentina, de 13 anos, com as rotinas de skincare envolvendo mais itens que o necessário. “Ela começou a usar os meus produtos de limpeza, hidratação e renovação que tenho expostos no banheiro, além do filtro solar, que acho necessário”, conta.

No entanto, ao perceber que estava saindo do controle, Paes viu no diálogo a forma de fazer com que a filha buscasse uma rotina mais enxuta, além de explicar que um estilo de vida saudável tem ainda mais impacto que um skincare com vários passos. "Nesse último ano comecei a perceber que estava excessivo, então atentei que a pele precisa ser cuidada mais de dentro para fora e que ela só tem 13 anos. Fazer o básico é suficiente", afirma.

Para a psicóloga Ana Carolina Duarte, os danos que a exposição em excesso à conteúdos de beleza nas redes sociais podem causar são alarmantes. “Uma tentativa de identificação com essa imagem altamente manipulada e manipulável das redes sociais pode gerar frustração, angústia e até mesmo depressão”, afirma.

Segundo Duarte, a chave para a prevenção de danos está na comunicação. “É fundamental é que a palavra possa circular na família: conversar, perguntar o porquê do interesse excessivo em beleza, procurar saber e acompanhar o que os filhos estão consumindo e eventualmente, limitar o consumo tanto de conteúdos quanto de itens de beleza”, garante a psicóloga.

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