Eu, Leitora

Por Kizzy Bortolo, em Colaboração para Marie Claire — Rio de Janeiro

“As inúmeras cidades e países por onde vivi e circulei ao redor do planeta, desde os meus três anos de idade, devido ao trabalho do meu pai, já definem toda a minha trajetória de vida. Tenho muito orgulho da minha criação, por tudo aquilo que passei. Vivi e vivo agarrando com afinco as oportunidades e, às vezes, a minha força até me assusta. Não tenho medo da morte, nunca tive, pois minha mãe teve o primeiro câncer aos 47 anos, quando eu tinha apenas 12. E, por isso, digo: ‘A herança da minha mãe, em todos os aspectos, me faz ir adiante’.

Estudei administração na American University, em Washington, quando morei lá, e terminei a faculdade no retorno ao Brasil, na universidade PUC do Rio de Janeiro. Nessa volta à minha cidade natal, fui trabalhar na IBM, no Rio, então, uma empresa de grande relevância global. Fui para o departamento financeiro, assim como na Odebrecht, para onde me transferi em 1985. Lá, eu era feliz, vivia minha vida muito bem, mas sentia um vazio enorme por não trabalhar com moda, que sempre amei. Se houvesse faculdade de Moda nessa época, possivelmente teria feito e seguido como uma segunda formação acadêmica. Depois de um casamento de 10 anos com meu primeiro marido, dei uma pausa, porque tudo em que mergulho é sempre de cabeça e a maternidade é uma responsabilidade muito grande.

A virada de milênio foi marcante para mim. Como se não bastasse a minha separação, retornei de vez ao Rio com meu pequeno Rafael com apenas 3 anos de idade à tiracolo e, assim, passamos a morar na Cidade Maravilhosa. Quando me separei, em 2000, vi a oportunidade de voltar a exercitar meu lado ‘business’, que antes estava adormecido, e montei com meu irmão, no Rio, uma franquia de um laboratório de serviços de revelação fotográfica, que durou o tempo em que a fotografia analógica se manteve ativa no mercado do grande público.

Aline Rocha abriu mão de uma carreira consolidada para investir em sua própria empresa — Foto: Ricardo Penna
Aline Rocha abriu mão de uma carreira consolidada para investir em sua própria empresa — Foto: Ricardo Penna

Porém, nesse meio-tempo, passei por vários percalços em relação à minha saúde. A vida parecia não parar de me testar. Primeiro que, aos 38 anos, tive um baita susto: em uma visita ao oftalmologista, soube que corria o risco de ficar cega das 2 vistas por conta de uma doença congênita que é, geralmente, hereditária e que havia começado a se manifestar em mim de forma rápida. Nessa época, me foi recomendado que eu fizesse o transplante de ambas as córneas, mas, enquanto aguardava a lista de espera da doação, tive um outro super baque que quase me tira do eixo: recebi o diagnóstico de um câncer de mama, onde precisei fazer uma mastectomia radical em um curtíssimo espaço de tempo de apenas uma semana. A recuperação se mostrou outro teste de resistência: entre 2003 e 2004, nesse curto período, fui submetida à 7 cirurgias de reconstrução do meu seio direito. Ou seja, passei por praticamente uma operação a cada dois meses. Foi uma loucura total! Tudo acumulou na minha vida, mas Deus é bom e cuidou de mim! A rota da vida muitas vezes nos é traçada, mas se a gente desvia, acaba voltando ao caminho certo. E esses desvios são, no fundo, um grande aprendizado para apreciarmos tudo melhor.

Por conta do câncer, foi necessário que eu desse um tempo para fazer o transplante das córneas. A visão de um dos meus olhos simplesmente estacionou, mas a ceratocone, que é a redução progressiva da espessura da córnea, avançava na outra vista. E, por conta disso, a operação acabou se tornando de urgência. Em 2007, veio uma nova virada, quando conheci meu segundo marido, com quem estou casada há 16 anos e vivo muito feliz. Conhecê-lo foi o início de uma relação estável, insuperável e incomparável. Nós fomos morar juntos com somente 3 meses de relação, o que, para muitos, é rápido demais. E, juntos, retomamos a questão das minhas cirurgias oculares, que fiz entre 2009 e 2010. E deu muito certo! Celso foi fundamental neste processo. Eu havia ficado com apenas 1% de visão no olho direito e, com o transplante, recuperei 60%. Mas, ainda assim, perdi a visão periférica. Com isso, preciso sempre decorar a posição dos móveis e objetos da minha casa e do meu atelier no trabalho para evitar esbarrões e possíveis quedas. Isso leva a um cansaço mental que me desconcentra no final do dia, hora em que paro tudo para, enfim, relaxar.

Sou escorpiana com ascendente em escorpião, portanto, gosto de uma boa batalha! E o melhor: acredito na coragem e gosto de desafios. Após me tratar das questões clínicas e médicas por cerca de uma década, entre 2002 e 2011, ainda precisei enfrentar, recentemente, um outro percalço: a morte da minha mãe, Regina. O grande amor da minha vida! Quando mamãe faleceu, meu chão poderia ter se desmoronado, mas a firmeza me manteve de pé.

Aline Rocha começou seu negócio em meio à pandemia — Foto: Ricardo Penna
Aline Rocha começou seu negócio em meio à pandemia — Foto: Ricardo Penna

Em 2019, comecei um novo negócio, em meio ao caos que se tornou a minha vida, comprando algumas camisas brancas e pintando à mão para vender para minhas amigas. Quando percebi que ‘deu samba’, vi que tinha que criar e produzir minhas próprias camisas. Daí, para cair na alfaiataria foi um pulo. E, assim, me reinventei no trabalho prestes a entrar em minha sexta década de vida. Este foi um profundo processo de reinvenção e encorajamento que só me impulsionou adiante, ao invés de me sucumbir às adversidades que a vida me impôs. Sempre reflito sobre isso quando penso em tudo aquilo que passei e aonde, agora, estou chegando.

Há 2 anos, aos 57, na pandemia, lancei minha marca, que leva meu nome, totalmente na contramão do mercado em um momento de ressignificação da minha vida. Depois de superar um câncer de mama e dar a volta por cima após quase ter perdido a visão dos dois olhos de uma só vez, fui à luta! Minha sede de viver me define. Por isso, acredito que o meu percurso de virada representa, não apenas mais um caso de superação, como também de antietarismo, pois precisei tanto driblar os infortúnios causados pelas doenças que enfrentei, quanto proporcionar a motivação para a minha reinvenção profissional como estilista e empresária, no auge da maturidade, após sair de uma carreira construída por décadas como administradora no mercado corporativo. Sou uma mulher independente, forte e com temperamento intenso. Acredito que é isso que me empodera!

No ateliê de camisaria e alfaiataria que conseguir abrir em Ipanema, comecei pintando à mão algumas camisas brancas para presentear minhas amigas e, para minha surpresa, foi puro sucesso! Entendi, então, que precisava criar e produzir minhas próprias camisas para poder pintá-las. E assim nasceu a minha confecção. Coloquei meu lado criativo e empreendedor para fora e ali nascia uma estilista! As camisas me levaram a criar uma linha completa de alfaiataria feminina. Nesta nova ocupação, procurei resgatar o sentido de elegância com o objetivo de criar uma marca de moda contemporânea, de pegada global, mas sempre alinhada com o lifestyle carioca. Isso tem tudo a ver com as minhas vivências desde criança.

Reencontrar-me em pleno processo criativo foi a válvula de escape para tudo que vivi nas últimas décadas. Foi punk, mas estou aqui, firme e de pé! Trata-se de um profundo caminho de encorajamento que só me impulsionou, ao invés de me fazer sucumbir às adversidades. Vejo questões como essas que passei como um estímulo à expansão da minha potência feminina e não como um subterfúgio para o encolhimento de mim mesma.

Aline Rocha trabalha com o filho Rafael em sua empresa — Foto: Ricardo Penna
Aline Rocha trabalha com o filho Rafael em sua empresa — Foto: Ricardo Penna

Hoje, com a mastectomia realizada, o carcinoma totalmente curado e com a doença ocular já controlada, comando uma equipe de 10 pessoas, sempre tendo como bússola o espírito global ensinado por minha querida mãe. Meu filho também trabalha na equipe e cuida do lado administrativo da empresa. O que me dá total prazer é, justamente, criar peças a partir de um minimalismo urbano tão carioca quanto universal e que promove a autoestima das mulheres. Essa é a minha missão: Empoderar essas mulheres e encorajar as minhas clientes!

Recentemente, estou na minha terceira coleção e o feedback delas tem sido muito positivo. Hoje, já vendo em mais de 25 multimarcas, em 11 estados brasileiros e também na Argentina, em Buenos Aires, mesmo com o crescimento que segue na contramão de um mercado ainda meio ‘tímido’ pós-pandemia. Espero aprender cada vez mais, me tirando sempre da zona de conforto, me reciclando e me renomado a cada coleção.”

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