Eu, Leitora

Por Depoimento A Kellen Rodrigues


Thamara Paiva (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Marie Claire
Thamara Paiva (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Marie Claire

"Sou de uma cidade muito pequenininha no interior de Minas Gerais, chamada Guarani. Fui uma criança ativa, cresci brincando de bola na rua, mas também amava brincar de casinha, com aquelas bonecas que parecem bebês. Brincava de ‘família’. Mas na adolescência pensar em casar e ter filhos não passava pela minha cabeça. Aliás, nem em namoro eu pensava. Fui a última do meu grupo de amigas a beijar na boca. E somos em 12, um grupo grande. Era muito zoada por isso.

Quando dei meu primeiro beijo em uma festa, aos 15 anos, com um amigo do meu primo, todo mundo parou para olhar. Quando vi, tinha a maior plateia assistindo, fiquei morrendo de vergonha. E não é que eu fosse tímida, nunca fui. Mas simplesmente não pensava em apressar nada, deixava tudo acontecer naturalmente. Dali em diante fiquei com várias pessoas em festas. Sempre fui bem festeira, aliás. Com duas amigas criei um site de fotos de eventos e entrávamos de graça em todos, era a maior diversão.

Minha primeira vez também foi tarde, aos 21 anos. Nessa época eu estava morando em Juiz de Fora, onde cursava faculdade de jornalismo. Não que eu estivesse apaixonada por ele, foi mais uma questão de química mesmo. Começamos a ficar e eu senti que era hora de acontecer. Ficamos por algum tempo, até ele se mudar para o Rio de Janeiro.

Uma amiga costumava contar sobre seu sonho em se casar na igreja, ter uma festa de princesa e formar uma família de comercial de margarina. Eu não tinha isso. Sou zero romântica. Ouvi várias vezes que era a ‘solteira mais convicta’ que conheciam. Enquanto meus amigos namoravam, eu nunca estava com alguém fixo. Algumas pessoas achavam estranho, mas nunca me importei.

Já no final da faculdade fui fazer intercâmbio em Portugal. Lá, conheci um polonês, mas eu sabia que não teria futuro, logo voltaria para o Brasil. Ficamos juntos, mas não deixei de ir a festas e nem curtir meus seis meses por lá da melhor forma que pude.

De volta ao Brasil, consegui trabalho na produção de pauta de um jornal em Vitória, no Espírito Santo. Mas o que queria mesmo era jornalismo esportivo. Um dia, já desgastada e meio sem perspectivas de mudanças, resolvi me mudar de mala e cuia para São Paulo. Era 2015. Nunca tinha pisado na cidade, mas foi amor à primeira vista. Fiquei morando com minha irmã e uma amiga e fui me apaixonando cada vez mais pela cidade. Consegui um trabalho, fui fazendo amizades, a vida foi se desenrolando. Passei a frequentar muitas festas na Vila Madalena, beber bastante e conhecer muita gente. Me reencontrei também com uma antiga paixão: a corrida. Fiz dela meu refúgio. Se estava feliz ia correr, se estava triste, também. Era o momento de conexão comigo mesma. Incentivada por um amigo, passei a participar de provas de rua e a investir cada vez mais nesse esporte.

Um dia, em 2017, li em um livro uma frase que me chamou atenção: ‘Nem todo mundo nasceu para ter um relacionamento’. Ela ecoou dentro de mim como uma virada de chave de algo muito profundo. Nunca tinha lido ou ouvido nada sobre isso antes, nunca tinha parado para pensar que isso poderia ser possível. Muito pelo contrário, o que a gente sempre ouve quando está quase completando 30 anos são as frases: ‘Quando vai casar e ter filhos?’, ‘Cadê o namorado?’, ‘Tenho um amigo que é a sua cara’. Na mesma hora, me identifiquei com essa parte da sociedade que não quer se relacionar com ninguém e está feliz assim. ‘Se existem pessoas que não nasceram para ter relacionamento, talvez eu seja uma delas’, pensei. Mandei na mesma hora uma foto do livro para minha amiga de infância. ‘Acho que eu faço parte dessas pessoas.’ Ficou uma sementinha plantada dentro de mim. E segui a vida.

No ano seguinte, o trabalho começou a ficar maçante. A vida estava muito sem graça. Correr era a única coisa que me deixava feliz. Mas não queria voltar para Guarani, precisava de uma sacudida. Aconselhada por uma amiga, busquei um curso de meditação. Foi quando conheci o centro Sri Chinmoy. Lá, as pessoas que são solteiras quando decidem levar uma vida espiritual permanecem solteiras e optam pelo celibatarismo. Como eu estava sozinha e não tinha a menor intenção de me relacionar com ninguém, decidi seguir. Mas prestes a me aprofundar nos estudos, a vida me preparou uma surpresa.

Conheci o Pedro*, amigo de um amigo. Trocamos mensagens pelas redes sociais e marcamos um encontro. De repente me vi preocupada se ele iria gostar de mim, se eu estava bonita… O primeiro encontro foi ótimo, tivemos muita química logo de cara. Gostávamos das mesmas coisas, tínhamos muito em comum. Vi que ele era uma pessoa legal e, com o passar dos dias, pela primeira vez pensei que seria alguém que poderia, enfim, ficar. Me sentia muito feliz ao lado dele, uma sensação que ele sempre estaria ali, que não havia motivo para ter medo. Encontrei um companheiro.

Pedro me pediu em namoro no mês seguinte em um bar. Relutei em um primeiro momento porque eu tinha um curso de inglês comprado e passaria nove meses na Irlanda. A viagem ainda não tinha data, mas era certo que eu iria. Ele disse estar disposto a ir comigo, já que tinha passaporte europeu, e ali tive certeza que só poderia dizer ‘sim’. Foi tudo muito intenso, parecia que estávamos juntos há meses. Acho que em todos os relacionamentos que tive eu deixei as pessoas livres para decidir se queriam ir ou ficar, sem expressar exatamente o que eu sentia. Com ele foi diferente. Estava, de fato, apaixonada e queria deixar claro. Até mudei o status no Facebook e foi a maior festa – tantas pessoas comentaram que fiquei até nervosa.

Avisei meus pais que levaria um namorado para conhecê-los, pela primeira vez. Minha mãe ficou muito empolgada. Estava tudo certo para irmos no Carnaval para Guarani. Então tudo começou a desandar. Pedro mudou de comportamento – mandava mensagem e ele não respondia, sentia que ele não queria se encontrar comigo e não dava muita explicação. Um dia, estava tudo combinado para ele ir comigo ao aniversário de um amigo, e ele desapareceu, me deu o maior bolo. Comecei a achar tudo estranho. Voltei atrás, disse que ele não precisava mais ir conhecer meus pais e que estávamos acabando por ali, que não me procurasse mais. Terminamos por WhatsApp. Viajei sozinha e o Carnaval foi horrível. Fiquei muito triste com o término e chateada também com a expectativa que havia criado em meus pais. Decidi então marcar a viagem para a Irlanda.

Thamara Paiva (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Marie Claire
Thamara Paiva (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Marie Claire

Cheguei a Dublin em abril de 2018. Logo de cara amei o lugar, até o céu parecia diferente. Comecei a fazer bicos, fui conhecendo pessoas… e, um dia, andando na rua, dei de cara com o cartaz do centro de meditação. Era o mesmo que eu havia conhecido em São Paulo. Mal pude acreditar. Parecia um sinal de que aquele era mesmo o meu lugar.

Semanas depois, no meu primeiro dia de trabalho fixo, recebi um e-mail do Pedro. Comecei a rir de nervoso. Ele contou que havia acabado de chegar à Irlanda e queria conversar comigo. Respirei fundo, pensei… E aceitei a conversa. No reencontro ele me pediu desculpas. Senti que ele estava diferente, parecia ser o mesmo de quando havíamos nos conhecido, por quem me apaixonei. Ele estava de volta. Resolvi dar uma segunda chance para nós.

Nas semanas seguintes, no entanto, percebi que algo havia se perdido em mim no nosso término. Pedro começou a implicar com minhas corridas e eu ainda não confiava nele para dormirmos juntos. Eu gostava dele, mas não tanto quanto antes. Acho que no fundo eu só me iludi, talvez por uma vontade adormecida de querer namorar alguém. Só estava me enganando. Tentei me colocar naquela caixinha onde está grande parte das pessoas, as que têm um relacionamento. Lembrei da frase do livro. Talvez relacionamento não fosse mesmo para mim. Assim, pus um ponto-final definitivo na nossa relação.

Com isso, mergulhei de vez na vida espiritual. Voltei ao Brasil no início de 2019 e continuei seguindo os ensinamentos de Sri Chinmoy. Senti que ali, sim, era meu lugar. Para mim estava muito claro que tudo que eu vivi foi para me preparar para esse momento. Me tornei vegetariana e escolhi não me relacionar amorosamente com mais ninguém, optei pelo celibato.

Sei que isso causa estranhamento nas pessoas, porque não é tão comum. Mas entre meus amigos o estranhamento maior foi por eu parar de beber, isso é muito engraçado. Minha família também apoiou minha decisão. Na verdade, as pessoas veem o quanto estou mais leve hoje, continuo me divertindo e tendo uma vida normal. Vivo uma vida espiritual moderna, trabalho, pratico esportes e medito. Ainda continuo sendo eu. Não sinto falta de sexo. Mas também não procuro estimular alguma vontade, não pratico a masturbação. Tenho um propósito muito maior, quero transcender as energias vitais.

Vivo mais feliz hoje. É uma felicidade muito interior, não aquela eufórica de antigamente. Antes eu vivia com medo, insegura, e hoje em dia me sinto muito mais corajosa. Consigo me conectar mais comigo mesma. Sei que a felicidade está dentro de mim. Às vezes a gente fica insistindo em relacionamentos porque a sociedade diz que deve ser assim. Mas garanto que é possível ser feliz sozinha. Descobri meu caminho. Aprendi um novo amor.”

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