Eu, Leitora

Por Depoimento A Kizzy Bortolo


Vera Lúcia e Jeri se conversaram por dois anos ao telefone até o primeiro encontro — Foto: Arquivo Pessoal
Vera Lúcia e Jeri se conversaram por dois anos ao telefone até o primeiro encontro — Foto: Arquivo Pessoal

“Na década de 60, telefone era raridade nos lares brasileiros, era muito caro ter um. Em 1961, meu pai conseguiu comprar uma linha para a nossa casa e foi uma festa. Nossos vizinhos e familiares ficaram muito curiosos e vinham conhecer o aparelho e ver como ele funcionava. Com isso, minha casa ficava sempre cheia de gente, falar ao telefone passou a ser uma diversão.

No dia 8 de dezembro de 1961 uma prima veio nos visitar e aproveitar para conhecer o aparelho telefônico. Assim que ela chegou, nós começamos a brincar e discar qualquer número aleatório para ver se alguém atendia. Eu tinha 14 anos na época. Começamos, na mais pura brincadeira, a passar trote para as pessoas. Logo na primeira ligação, atendeu uma menininha e lhe perguntei, mesmo sem saber: ‘seu irmão está aí’? Ela respondeu que sim e foi chamar. Lembro que fiquei com tanta vergonha que desliguei a ligação.

Minha prima me contestou perguntando porque eu não esperei chamar o rapaz. E eu não lembrava mais o número discado, porque ligamos qualquer número aleatório. Só que, naquele tempo, não tinham tantos números telefônicos assim, então ficou fácil tentar. Disquei várias vezes, até que na décima vez, acertei a numeração e eis que a mesma menininha atendeu a ligação novamente e me disse: ‘já chamei meu irmão, espera aí’.

Quando o rapaz atendeu, começamos a conversar. Eu estava supertímida e ele me perguntou: ‘porque você me ligou?’ Expliquei que era uma novidade o telefone na minha casa e que havia telefonado, aleatoriamente.

Ele me perguntou meu nome e minha idade. Curioso, também quis saber como eu era e lhe disse que era loira, de cabelos compridos até a cintura e olhos verdes. Galanteador, ele falou que parecia estar conhecendo um ‘anjo que caiu do céu’. Logo ele se apresentou também: se chamava Jeri, tinha 16 anos e disse ser uma pessoa comum. Ele parecia ser um cara muito atencioso e gentil e, coincidentemente, morava na mesma cidade que eu, em Santo André, São Paulo.

Vera Lúcia e Jeri se casaram após 13 anos de namoro — Foto: Arquivo Pessoal
Vera Lúcia e Jeri se casaram após 13 anos de namoro — Foto: Arquivo Pessoal

Jeri pediu o meu número para me ligar outros dias, mas eu não podia dar porque se meu pai atendesse à ligação ia ser muito desastroso e ele poderia brigar comigo. Então, lhe disse que eu ligaria e pedi seu número de telefone, porque não tinha anotado.

Toda vez que meu pai saia de casa, eu corria para ligar para Jeri e nós conversávamos por horas e horas. Ficamos nessa brincadeira nos falando ao telefone por dois anos sem nos conhecermos pessoalmente. Ele sempre dizia que queria me ver, me conhecer, mas eu não podia porque meu pai era muito rigoroso. Jeri tinha a voz macia, eu achava parecida com a do Ronnie Cord. Me lembro que eu dormia na sala da minha casa e nós conversávamos muitas vezes até o dia amanhecer. Eu colocava o telefone embaixo das cobertas, estrategicamente, para que meu pai não ouvisse. Nessa época, até que a conta do telefone era bem barata.

Nosso primeiro encontro foi em maio de 1963, na padaria perto da minha casa, o único lugar que eu podia ir sem a presença da minha mãe. Assim que o vi, logo achei que era ele, pois Jeri era exatamente como eu o imaginava: bonito, alto, um homem de presença. A gente nem conversou direito, só nos vimos rapidamente e ele logo foi embora. Tínhamos muito medo do meu pai descobrir ou que alguém contasse para ele.

Vera Lúcia e Jeri estão juntos há 61 anos — Foto: Arquivo Pessoal
Vera Lúcia e Jeri estão juntos há 61 anos — Foto: Arquivo Pessoal

Todos os anos, meu pai levava eu, minha mãe e irmã para passarmos as férias na praia e, em seguida, ele voltava para a nossa cidade para trabalhar. Meu pai trabalhava com café. Aliás, desde os meus nove anos eu trabalhava com ele vendendo café. Ao chegarmos de férias na praia, falei para Jeri que iria passar uns dias na Praia Grande, litoral de São Paulo, e o nome do edifício onde estaríamos hospedados, já que, normalmente, ficávamos sentados na escada do prédio.

Num belo dia das nossas férias, num fim de tarde, para minha surpresa, eis que surge Jeri em carne, osso e belezura. Jeri convenceu seus pais para irem também para a mesma praia e ainda alugou um apartamento perto do meu. Ou seja, passamos as férias juntos. Conheci os pais dele e a menininha que atendeu o telefonema do trote, a irmã caçula do Jeri.

Assim que nos encontramos sozinhos na praia, demos o nosso primeiro beijo ao som das ondas do mar, num clima perfeito e paradisíaco. Ali eu tive a sensação de que ele era o primeiro e único amor da minha vida. Fui sua primeira namorada e ele também o meu.

Depois disso, ele quis pedir minha mão aos meus pais para namorarmos. Naquela época ainda tinha disso. Quando Jeri foi conversar com meu pai, ele não consentiu e disse que éramos ainda muito novos para pensar em namoro e que poderíamos esperar um pouco mais. Sempre muito determinado, Jeri insistiu e disse ao meu pai que não poderia mais viver sem mim. Só assim meu pai consentiu, mas lhe alertou que só poderíamos namorar com a presença da minha mãe por perto. Com isso, só nos víamos aos sábados e domingos e podíamos ficar juntos até às 22 horas, sempre com a minha mãe nos vigiando no sofá ao lado.

Quando queríamos ir ao cinema tínhamos sempre que levar minha mãe junto ‘segurando vela’. Essa rotina durou uns oito anos. Jeri queria se casar comigo, mas eu ainda achava que não era hora, pois queria me casar já tendo uma casa comprada. Como na época nós dois trabalhávamos, começamos a economizar para comprar a nossa casa. Jeri vendeu o carro para dar de entrada no nosso primeiro apartamento. Depois, financiamos o restante. Naquele tempo, penso que era mais fácil conseguir um financiamento, os bancos tinham menos burocracia.

Depois de treze anos de namoro, aos 27 anos, nós já tínhamos nossa casa própria, toda mobiliada e estávamos com tudo pago sem nenhuma grande dívida, tínhamos somente a prestação da casa para pagar por mês. Só aí, resolvemos nos casar. E o grande dia chegou: 13 de julho de 1974.

Nosso casamento foi lindo! Me senti uma verdadeira princesa. Foi tudo do jeitinho que sempre sonhei. A lua de mel foi no Rio de Janeiro, no Hotel Martinique, superchique. Essa foi a nossa primeira viagem juntos, sem ter ninguém nos acompanhando. Enfim, estávamos nos sentindo livres.

Comecei a trabalhar em outubro de 1964 e, desde então, não parei mais até o ano de 2006, quando me aposentei. Meu marido se aposentou em 1997, mas continuamos a trabalhar, pois eu tinha que sustentar a minha irmã e minha mãe que foram morar conosco desde que me casei. Eu trabalhava fora como secretária e tesoureira, e à noite ainda costurava. Meu marido era analista de contas numa grande multinacional, onde trabalhou por 45 anos. Minha mãe era muito doente e faleceu em 1979. Já minha irmã continuou a morar comigo até 2010, quando um tio nosso faleceu e ela foi morar com minha tia que ficou viúva.

Jeri é o meu primeiro e único amor de toda uma vida. Nós estamos juntos há 61 anos e tivemos dois filhos lindos: Paula Cristina, hoje com 44 anos, e Luiz Fernando, com 40. Nós também temos uma neta muito amada, Manuela, de 11 anos. Seguimos juntos, unidos e muito felizes até hoje.”

Vera Lúcia e Jeri — Foto: Arquivo Pessoal
Vera Lúcia e Jeri — Foto: Arquivo Pessoal
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