Direitos Reprodutivos

Por Manuela Azenha


Roseane viajou à Argentina para conseguir realizar o aborto legal no país vizinho — Foto: Getty Images
Roseane viajou à Argentina para conseguir realizar o aborto legal no país vizinho — Foto: Getty Images

Quando Roseane Santos descobriu que estava grávida, em janeiro deste ano, levou o primeiro susto. “Medo de uma coisa horripilante”, descreve a operadora de telemarketing de 34 anos. Em processo de separação, contou a novidade ao ex-marido na espera de apoio e aí veio o segundo sobressalto. “Fui abandonada por ele de todas as formas que você pode imaginar. Me disse que o problema era meu. Então fiquei completamente só, com meu filho de 6 anos”, relata por videochamada de sua casa em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo.

Mãe solo, longe da família, que vive em Manaus, Amazonas, e na época desempregada. “Simplesmente não teria como cuidar de outra criança sozinha”, justifica, emocionada, a decisão de interromper a gravidez. Confidenciou a uma única amiga, que a ajudou a pensar em opções. E começa então o que Roseane descreve como “pesadelo” e “ida ao inferno”.

Entrou em depressão, trocou o dia pela noite, e passava o tempo pesquisando online como realizar um aborto. Tomou diversos chás supostamente abortivos, sem sucesso. Parou de comer, na tentativa de interromper a gravidez por inanição.

Por duas vezes caiu nas mãos de golpistas cibernéticos que desapareceram após receberem os pagamentos adiantados pelo procedimento. A primeira transferência foi de mil reais, a segunda de 400. Chegou a aplicar ocitocina nas nádegas, e pensou ter sofrido um aborto incompleto. Foi então a uma maternidade pública de Campo Limpo, bairro da periferia de São Paulo, onde conta ter sido humilhada por uma médica ao revelar que estava infeliz com a gravidez.

Desolada após a consulta, caminhou por três horas até chegar a sua casa. “Não queria chorar”, diz ao lembrar do tratamento recebido, e retira os óculos por alguns segundos para enxugar as lágrimas. “Voltei pensando, não me restava mais nada a fazer. E pensei em me matar. O que mais me dói é que nesse período não conseguia cuidar direito do meu filho”, conta.

Foi quando se recordou de uma das reportagens que leu exaustivamente, publicada pela BBC, sobre o Projeto Vivas, organização que auxilia – inclusive financeiramente, mulheres a realizarem o aborto legal dentro e fora do Brasil. O projeto foi criado por Rebeca Mendes, advogada que tornou-se símbolo da luta pela descriminalização do aborto. Após ter o procedimento negado pelo Supremo Tribunal Federal em 2017, viajou à Colômbia para interromper a gravidez de forma legal.

Roseane entrou em contato com Rebeca pelo Instagram do projeto em um domingo de manhã e ao fim do dia já estava no aeroporto de Guarulhos de passagem na mão para a Argentina, onde realizaria o aborto no dia seguinte.

Foi sua primeira viagem internacional na vida. “Contei para minha amiga e ela me respondeu: ‘você sabe que vai morrer, né?’. E na hora só pensei que, se morresse, tudo bem, tamanho o desespero”, relata.

Todos os gastos da viagem e do procedimento foram pagos pela organização. “A palavra que define o que senti é alívio. Saiu todo um universo de cima das minhas costas e recuperei a vontade de viver”, declara. No país vizinho, Roseane ainda pôde colocar um DIU hormonal.

Rebeca estima que o Projeto Vivas já atendeu 350 mulheres desde que foi criado, em 2020. O perfil dessas mulheres varia, segundo a advogada. As que buscam a organização decididas a fazerem um aborto na Argentina - principal destino, dada a proximidade com o Brasil e os custos mais baixos, geralmente são brancas, com ensino superior completo, de classe média para cima, das regiões Sul e Sudeste. O perfil se inverte quando se trata daquelas que querem interromper a gestação de forma legal dentro do Brasil. Costumam ser mulheres de até 30 anos, negras, periféricas, com ensino médio completo e em situação de vulnerabilidade social. Nos casos de meninas menores de 14 anos, a maior parte vem das regiões Norte e Nordeste.

Inicialmente idealizado para auxiliar em procedimentos realizados fora do Brasil, o projeto passou a atender demandas internas também. “Principalmente durante o governo Bolsonaro, percebemos as dificuldades das mulheres em acessar o serviço de aborto legal no país”, conta Rebeca.

No Brasil, o aborto é legalizado em três circunstâncias: gravidez decorrente de estupro, se representar risco de morte materna e no caso de anencefalia fetal. A Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) de 2021 mostra que uma em cada sete mulheres, com idade próxima aos 40 anos, já fez pelo menos um aborto no Brasil.

“O que mais me impactou foi ver as mulheres argentinas na clínica, com direito a realizarem o aborto em segurança, com tranquilidade. Achei que seria um bicho de sete cabeças, mas elas tomam a medicação, sentem um pouco de cólica e já vão embora para casa. Enquanto no Brasil, mulheres estão enfiando objetos dentro de si e morrendo em procedimentos feitos de forma insegura”, afirma Roseane.

Ao voltar para o Brasil, três dias após realizar o aborto, decidiu trocar a faculdade de Marketing pelo curso de Direito, para trabalhar com direitos civis. “Não viemos nesse mundo a passeio. Não podemos apenas assistir aos absurdos que acontecem no Brasil, em que até vítimas de estupro têm dificuldade para abortar”, declara.

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