Cultura
Por e , redação Marie Claire — de Nova York (EUA)

"Gosto da moda que desafia, que traz um questionamento, gera desconforto e transgride”, diz Alice Braga, que passa a maior parte do tempo de jeans e camiseta, mas nestas páginas incorpora um visual sofisticado, inspirado em Marlene Dietrich. A atriz alemã, que turvava as linhas entre feminino e masculino usando calças criadas por Christian Dior e desafiando o status quo da época, inspirou a coleção Pre Fall 2024 da Dior. E Marie Claire acompanhou o desfile em Nova York ao lado de Alice e a namorada Renata Brandão, CEO da Conspiração Filmes.

No dia seguinte, a caminho do shooting, na frente do hotel Aman, testemunhamos também o encontro fortuito entre a atriz e a estilista Maria Grazia Chiuri. “Foi muito legal cruzar com ela – e de chinelos [risos]!”, relembra Alice, que vestia um look recém-desfilado, mas calçava Havaianas. “Tenho todo um flerte com a moda por esse viés e admiro ícones como a Marlene Dietrich, uma mulher que veio do glamour e o desvirtuou totalmente”, diz. “A moda pode cair na futilidade, na exaltação de riqueza e status, mas ela pode também ser um statement político e social. O que me interessa é seu lado subversivo.” Braga, Chiuri e Dietrich habitam um mesmo glossário de mulheres potentes, combativas e inspiradoras que articulam com grande inteligência os locais onde pisam, por isso dão passos tão certeiros.

Alice Braga veste trench, camisa, gravata e brincos; preços sob consulta; Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino
Alice Braga veste trench, camisa, gravata e brincos; preços sob consulta; Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino

Aos 41 anos, metade deles como atriz, Alice construiu uma sólida trajetória no Brasil e nos Estados Unidos, estrelando sucessos do cinema como Eu Sou a Lenda (2007), com Will Smith, O Ritual (2011), com Anthony Hopkins, Elysium (2013), com Matt Damon, e Hypnotic (2023), com Ben Affleck – além, é claro, do clássico brasileiro Cidade de Deus (2002) –, para nomear alguns. Na televisão, fez sucesso em séries como A Rainha do Sul (2016-21) e estreia neste mês Matéria Escura, uma produção da Apple TV+ sobre realidades paralelas. Além das interpretações na frente das câmeras, ela dá voz a diferentes personagens em produções como Soul (2020), animação da Pixar, e Las Guardianas (2024), podcast sobre mulheres de destaque na América Latina e cujo último episódio é sobre Marielle Franco. Comanda ainda, ao lado de Bianca Comparato, com quem manteve um relacionamento por sete anos, a produtora South, em que se dedica a projetos sobre temas de alta relevância social como garimpo ilegal e genocídio indígena.

Sobrinha da célebre atriz Sônia Braga, Alice conta que foi a mãe, Ana Braga, que foi atriz de teatro, sua maior inspiração para seguir a carreira artística. Ela fala também sobre a possibilidade da maternidade aos 40 e poucos, firma sua posição a favor do aborto, conta o porquê de manter a vida afetiva longe dos holofotes e debate os dilemas da era do streaming. Por fim, Alice Braga divide seu sonho, tão simples quanto essencial: “Estar presente”.

MARIE CLAIRE Como foi gravar a série Matéria Escura, que trata de múltiplas existências alternativas?
ALICE BRAGA
Ela é inspirada em um livro incrível do Blake Crouch, um escritor de ficção científica com uma fanbase enorme. Quando o roteiro chegou para mim, fiquei encantada. Crouch escreve muito conectado com as relações humanas, com o lado emocional das pessoas, então você cria uma empatia muito forte com os personagens. Para mim foi um sonho porque trata de um tema que adoro: essa coisa do “e se”. E se eu tivesse sido jornalista? E se eu tivesse namorado tal pessoa? E se eu tivesse tido filho nessa idade? Trata das possibilidades de escolha e do arrependimento, coisas pelas quais todos passamos.

Alice Braga veste blazer, calça, camisa, gravata e brincos, preços sob consulta, tudo Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino
Alice Braga veste blazer, calça, camisa, gravata e brincos, preços sob consulta, tudo Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino

MC Do que você se arrepende e do que não se arrepende?
AB
Eu me arrependo de, aos 20 e poucos anos, quando comecei a trabalhar muito, ter sido muito dura comigo mesma. Às vezes perdemos a oportunidade de viver 100% o presente porque nos cobramos demais. Isso me travou e me atrapalhou na atuação, na produção, nos relacionamentos. Hoje penso que o mundo já é muito cruel com as mulheres, então não sejamos duras com nós mesmas. É um arrependimento do qual tenho que lembrar para não repetir. Não me arrependo de me jogar no mundo da atuação. É um meio misterioso e perigoso porque não há garantia de sucesso. Um mundo incerto, desconhecido. Mas a cada passo se abre um novo universo. Não me arrependo de ter me jogado, de ter me apaixonado e aventurado em me transformar em atriz.

MC A Rainha do Sul foi um de seus trabalhos de maior fôlego. O que achou de viver a mesma personagem por seis anos?
AB
Foi um divisor de águas porque até então eu só tinha feito cinema, nunca televisão. Foi a primeira vez que me conectei com esse modo de atuar, em que o personagem fica vivo durante anos. Entrei com 32 e terminei com 38 e me doei muito a essa personagem. Fui crescendo, amadurecendo e me transformando junto com ela. Foi um desafio muito bonito e forte.

MC Além de dar vida à protagonista em cinco temporadas, você também foi produtora executiva a partir do segundo ano. Como foi a experiência?
AB
Foi muito legal, aprendi muito sobre produzir televisão e me envolver no todo, entender como a máquina funciona. Qual é o diretor, o elenco, a locação? Como desenvolver a história da forma mais potente e convincente possível, com todos os desafios de budget e tudo mais? E foi um sucesso mundial. É uma loucura.

Alice Braga veste blazer, saia, brincos e meias, preços sob consulta, tudo Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino
Alice Braga veste blazer, saia, brincos e meias, preços sob consulta, tudo Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino

MC Há alguns anos você vem se dedicando também à produtora South, em sociedade com a atriz Bianca Comparato. Como tem sido?
AB
Criamos a produtora não só para realizar nossos sonhos como atrizes, mas também incentivar e potencializar outros criadores e ajudar a contar histórias em que acreditamos. É curioso porque os projetos em que estou envolvida acabam sendo muito relacionados ao meio ambiente. Estamos na fase de captação de um projeto sobre garimpo ilegal. Também sonho em adaptar o livro da Eliane Brum, para os quais tenho os direitos – é um grande sonho antigo interpretar uma jornalista. Existe também outro projeto em andamento sobre genocidio indígena. Acredito profundamente que a arte pode não somente nos inspirar, mas também transformar nossas atitudes perante o mundo e o meio ambiente.

MC Como você vê a mudança na vida dos profissionais do audiovisual depois da revolução do streaming?
AB
O streaming nos trouxe uma coisa muito positiva que é ter mais meios nos quais trabalhar. Mas há outro lado preocupante que tem a ver com a uberização do mundo, que é querer baratear tudo, fazer todo mundo trabalhar mais, em larga escala, e as empresas é que acabam ganhando mais. Tem que haver um acordo e uma compreensão geral sobre leis governamentais em relação a como os streamings podem operar em cada país para não virar isso: todo mundo ralando para caramba e não ganhando por isso.

MC Você se considera uma ativista pelas questões trabalhistas na área do audiovisual?
AB
Não sei se me considero ativista, mas sempre me posiciono a favor de quem está lutando. Ninguém luta à toa. Temos que ouvir as causas. Antigamente você era remunerado toda vez que seu projeto era vendido. Hoje você ganha uma vez pelo trabalho e o streaming fica com o direito eterno à sua imagem. É a lógica capitalista, baseada no lucro, que atropela os seres humanos. Por isso é importante batalharmos. Principalmente agora com a inteligência artificial. Eu já sou inteira digitalizada. Voz, cabelo, olhos, tudo. Então como funciona isso? Porque eu fiz uma série da Apple ela vai ter direito sobre a minha imagem para todo o sempre?

Alice Braga veste macacão de couro, camisa, gravata e brincos, preços sob consulta, tudo Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino
Alice Braga veste macacão de couro, camisa, gravata e brincos, preços sob consulta, tudo Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino

MC Você procura adotar uma postura feminista no set, promovendo a equidade de gênero?
AB
Vim para os Estados Unidos com 20 anos e lembro da dinâmica dos grandes produtores, uma coisa muito gerida por homens brancos. Mas sinto uma mudança na indústria. Ainda há muito a se cavar, mas existe hoje uma força muito grande nas mulheres e uma abertura maior. Como produtora executiva, também quero gerar essa transformação. Não acredito que tenha que haver só mulheres contando histórias de mulheres, não é por aí, mas é preciso dar possibilidade de trabalho, porque senão ficamos com um só ponto de vista.

MC Como enxerga a evolução da questão da sexualidade no meio artístico? Há 10, 15 anos, assumir-se gay poderia ser um grande problema para atrizes e atores. Hoje o mundo mudou.
AB
Depois de muita luta o mundo foi se transformando e o respeito e os direitos foram surgindo, mas é uma luta diária, porque o Brasil é um país extremamente homofóbico e transfóbico. Quando vemos um garoto jovem espancado simplesmente por sua escolha sexual, vemos quanto preconceito ainda existe. Eu fui descobrindo minha sexualidade, minha bissexualidade, aos 20 e poucos anos. Sou gay, não sou gay, sou bi não sou bi? Ao mesmo tempo, estava começando a trabalhar e nunca quis expor minha vida pessoal. Já tive namoros com atores homens de que as pessoas nunca souberam porque sempre tive um desejo forte de que minha vida pessoal não atrapalhasse meu trabalho. As pessoas acham que não me exponho porque namoro mulheres, mas na verdade não gosto de estar o tempo inteiro mostrando minha vida – não é uma questão de não querer me assumir, é algo muito mais relacionado à minha personalidade.

MC Qual é a sua posição em relação ao aborto no Brasil?
AB
O aborto tem que ser legalizado. Os direitos da mulher são sempre decididos por homens brancos, e essa transformação é muito mais do que urgente. O aborto existe, só que para uma certa classe da sociedade, sabemos disso. Pessoas que não têm meios acabam morrendo por uma escolha do Estado, e eu acho isso absurdo. Muitas mulheres pobres são criminalizadas e morrem por falta de possibilidades. Por isso a igualdade de gênero é importante em todos os ambientes de poder. Não podemos deixar essa luta morrer em momento algum. Em qualquer governo, qualquer eleição, temos que lutar por isso.

Alice Braga veste camisa, gravata e brincos, preços sob consulta, tudo Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino
Alice Braga veste camisa, gravata e brincos, preços sob consulta, tudo Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino

MC Como é sua relação com a maternidade – ou a não maternidade?
AB
Cheguei aos 40 e não tive filhos, mas a maternidade não é algo que descarto totalmente. Para mim, ela não passa somente por um desejo físico. Não acredito nela como algo puramente biológico, e não sei se necessariamente vai passar pelo meu corpo. A adoção sempre foi uma possibilidade na qual penso desde pequena. Mas também admiro mulheres que não querem ter filhos. É uma escolha que tem a ver com uma consciência absoluta de desejo e autoafirmação, e não algo que a sociedade impõe, e eu acho isso lindo.

MC Você tem uma boa relação com sua mãe?
AB
Virei atriz por causa do meu relacionamento com a minha mãe. Ela era atriz de teatro, mas quando eu nasci ela virou assistente de direção, e eu vivi no set desde os 3 anos de idade. Ela é a minha maior referência. É a pessoa para quem sempre liguei, desde que comecei a fazer teatro na escola, e que sempre me falou palavras mágicas. Até hoje temos essa troca. É uma relação muito bonita de admiração, de agradecimento mesmo, porque foi por meio dela que eu caí por esse caminho.

MC Como é sua rotina entre Los Angeles e São Paulo?
AB
Uma loucura. E nunca filmo em Los Angeles ou São Paulo. Passei seis meses em Chicago para Matéria Escura, fiz Assassinato no Fim do Mundo na Islândia e em Nova York, Rainha do Sul eu filmava em Nova Orleans e Dallas… a vida está onde está o trabalho. Mas quero demais trabalhar no Brasil. Nunca digo que minha casa é só em Los Angeles porque eu sou muito brasileira. É de onde eu venho e para onde eu volto. Sou muito paulista, paulistana, da Vila Madalena!

MC Qual é o seu sonho?
AB
Tenho pensado cada vez mais nisso. Meu sonho é estar presente no momento. Estar em estado de felicidade e tranquilidade. Com isso conseguimos ser mais leves e gerar transformação ao nosso redor.

Alice Braga veste blazer, calça, camisa, gravata e brincos, preços sob consulta, Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino
Alice Braga veste blazer, calça, camisa, gravata e brincos, preços sob consulta, Pre Fall 2024 Dior — Foto: Gleeson Paulino

Equipe

Fotos Gleeson Paulino
Styling Ana Wainer (Agência AN)
Beleza Maquiagem Shayna Gold (The Wall Group) com produtos Dior Beauty
Beleza Cabelo Sky Kim (The Only Agency) com produtos Dior Beauty
Produção Executiva Vandeca Zimmermann
Assistente de styling Catarina Aranha
Assistentes de fotografia Flávio Melgarejo
Tratamento de imagem Thiago Auge

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