Cultura
Por , redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Fotografia de Lygia Clark em frente às suas obras na I Exposição Neoconcreta, 1959; artista ganha mostra panorâmica na Pinacoteca de São Paulo — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo
Fotografia de Lygia Clark em frente às suas obras na I Exposição Neoconcreta, 1959; artista ganha mostra panorâmica na Pinacoteca de São Paulo — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo

Para se conectar com o trabalho de Lygia Clark, uma das mais importantes artistas brasileiras do século 20, é preciso estar disposto a se abrir para o mundo. Uma sacola de plástico, uma pedra, um gesto ou a própria psicanálise, do elemento mais precário ao mais inusitado: tudo virou poesia pelas mãos e mente da artista mineira que ganhou o globo com suas criações excêntricas, disruptivas e provocadoras; mas também pela quebra de hierarquia que divide o criador do espectador. Foi assim que ela conseguiu seu maior legado, o de transformar a passividade da obra como algo a ser admirado para algo com o qual se deve interagir e transformar.

A partir do próximo sábado, 2 de março, quem passar pela Pinacoteca de São Paulo poderá se render aos experimentos de Clark. As sete galerias do espaço recebem a mostra panorâmica Lygia Clark: Projeto para um planeta, que propõe um mergulho no legado de mais de 30 anos de sua produção artística – passando por seu papel crucial no início do movimento neoconcreto no Brasil, como uma das fundadoras do Grupo Frente, até a Estruturação do Self e os experimentos que misturam arte e terapia.

São 150 obras, algumas inéditas ou pouco vistas nos últimos anos, incluindo pinturas iniciais, escritos, proposições participativas e experimentos arquitetônicos, além de uma programação de ativações e bate-papos sobre a vida e obra da artista. Entre os trabalhos expostos estão réplicas da emblemática série Bichos (de 1960, cuja uma das peças nomeia a mostra), que poderão ser manipuladas pelos visitantes; a instalação sensorial A casa é o corpo (1968), que reconstitui as fases da reprodução humana; e uma reprodução em grande escala da Maquete para interior nº3 (1955), em que ela propõe um modelo de arquitetura que permite que as estruturas físicas sejam alteradas.

Lygia Clark com o bicho projetado “Projeto Para um Planeta”, que nomeia mostra panorâmica na Pinacoteca de São Paulo — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo/Arquivo Lygia Clark
Lygia Clark com o bicho projetado “Projeto Para um Planeta”, que nomeia mostra panorâmica na Pinacoteca de São Paulo — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo/Arquivo Lygia Clark

As curadoras Ana Maria Maia e Pollyana Quintella pontuam que, além de apresentar Lygia Clark para as novas gerações, o fio condutor da mostra panorâmica é reaproximá-la do público geral e do repertório artístico do país. Mas não só: ambas veem a exposição como um ponto emblemático para colocar Clark de volta, de forma definitiva, aos acervos de museus, galerias e espaços artísticos do país. “Lygia foi uma artista que pensou na recepção, no corpo de qualquer pessoa e na força da experiência. Não dá para falar disso só na teoria. É preciso voltar a colocar isso em prática para que as pessoas ganhem mais informações e contexto sobre a obra de Lygia; e, assim, voltar a vê-la no nosso acervo”, diz Maia.

Lygia Clark com estudos para Planos em superfície moduladas — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo/Cortesia Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark
Lygia Clark com estudos para Planos em superfície moduladas — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo/Cortesia Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark

“Não artista”

Nascida em Belo Horizonte em 1920, Clark começou seu trabalho nas artes em 1947, com apoio e financiamento do marido, o engenheiro civil Aluízio Clark Ribeiro. Foi pupila do arquiteto e paisagista brasileiro Burle Marx; além de ter estudado em Paris com os artistas franceses Isaac Dobrinsky e Fernand Léger e o pintor húngaro Arpad Szenes. O desenvolvimento artístico e o alcance de sua visão aconteceram de forma acelerada em um momento em que os espaços do segmento eram predominantemente masculinos e mais propensos ao convencional.

O interesse no sensorial fez de Lygia uma artista preocupada em pensar na corporalidade, em todas as suas formas, como maneira de refletir sobre a existência e buscar pelo impacto político que cada pessoa exerce ao se expressar no mundo, mesmo nas pequenas ações do cotidiano.

Obra Escada, óleo sobre tela, por Lygia Clark, 1951 — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo/Acervo Museu de Arte Brasileira – MAB FAAP
Obra Escada, óleo sobre tela, por Lygia Clark, 1951 — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo/Acervo Museu de Arte Brasileira – MAB FAAP

“Lygia teve coragem de produzir algo que não era lido de nenhuma maneira como experiência artística”, afirma Quintella. “Passadas algumas décadas, até hoje pode ser bem estranho estar diante da obra dela, seja pelo uso de materiais precários, pelo tom peculiar de suas pinturas e esculturas, mas também por explorar uma linguagem coletiva, de um tipo de arte direcionada à rua.” A própria Lygia passou a renegar a presença em museus e chegou a se identificar como “não artista” em suas fases mais relacionais.

Adepta das linguagens contra hegemônicas e da contracultura, foram essas as formas que encontrou para fazer despertar da passividade imposta pelo momento sócio político conturbado que atravessou a partir da década de 1960, com as ditaduras na América Latina e as tentativas de repressão da moral e dos costumes. Maia destrincha que, desde sua visão de que a pintura era uma janela para o virtual até a implementação dos ritos terapêuticos às criações, Clark está a todo momento reconhecendo os impactos estruturais do mundo, desde suas limitações até suas possibilidades.

Diálogo de mãos, 1966 — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo/Cortesia Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark
Diálogo de mãos, 1966 — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo/Cortesia Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark

As curadoras endossam que uma vasta gama das criações de Clark também partem de uma perspectiva do que é ser mulher entre as décadas de 1960 e 1970. Com um empurrão de seus status social e racial, a artista conseguiu se desvencilhar da posição domesticada e subserviente – ainda mais – esperada de suas contemporâneas. Mas não deixou de fazer essas contestações, dialogando com as dissidências de gênero e deslocando elementos esperados dos papeis das mulheres.

“No início de sua produção, Lygia constrói uma figura pública marcada pela feminilidade. Nos anos 1980, já uma artista respeitada, ela diz a um jornal que homem nenhum teria feito o que ela fez. Não faz isso para essencializar algo como uma dita ‘arte feminina’, mas porque ela traz elementos que uma experiência masculina não poderia ter proporcionado. Parte disso está, justamente, em misturar o que é público e o que é privado para desafiar os limites do que seria uma domesticidade feminina”, pondera Quintella.

Lygia Clark com obra da série Bichos sob projeção da proposição Máscara Abismo, da série Objetos Sensoriais, 1960 — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo
Lygia Clark com obra da série Bichos sob projeção da proposição Máscara Abismo, da série Objetos Sensoriais, 1960 — Foto: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo

É aí que reside o convite de Lygia para que cada pessoa redescubra seu próprio corpo; e, dessa forma, redescubra o mundo, despindo-se das armaduras para ser atravessado por ele. “Em um momento de tantas crises climáticas, identitárias e geopolíticas, esse convite para conexão e para o exercício da micropolítica vira uma ferramenta muito importante para voltarmos a medir o mundo. Como é que a gente se mantém vivo e resistente na realidade em que vivemos? Acho que esse é o convite de Lygia e a atualidade da obra dela”, diz Maia.

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