Cultura

Por Priscilla Jucá, em colaboração para Marie Claire

Foi na ala das crianças, aos 10 anos, que Georgia Chagas começou sua história no Carnaval. Agora, aos 22, ela chama atenção como destaque de chão da Portela, escola de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. Nascida em Pilares, zona norte carioca, ela atrai os olhares por fugir do "corpo padrão" da avenida.

"O padrão do Carnaval é pé no samba", defende Chagas, passista preta e gorda, em seu perfil no Instagram onde acumula pouco mais de 38 mil seguidores. O número de likes sobe ainda mais em sua rede social quando ela publica vídeos direto da avenida ou quadras de escolas de samba e quando ela defende a presença de todos os corpos e luta contra a gordofobia na folia.

[A presença de mulheres gordas] ainda é vista como se fosse algo muito diferente. Quando na verdade não é. Estou fazendo o mesmo que a pessoa magra faz. Samba no pé não depende do peso”, diz Chagas em entrevista a Marie Claire.

Além do seu posto na Portela - que neste ano vai abordar o romance da escritora Ana Maria Gonçalves com o enredo "Um Defeito de Cor" e homenagear as mulheres negras -, a passista é Rainha de Bateria do G.R.E.S Feitiço Carioca (série prata, Intendente Magalhães) e Rainha dos Passistas da G.R.E.S Em Cima da Hora (série Ouro, Sapucaí).

Em meio ao ensaios e expectativa para fazer sua estreia na Marquês de Sapucaí, a carioca lembra que já pensou em desistir do Carnaval, conta como enfrenta o preconceito e sua inspiração para seguir em frente. Leia a entrevista na íntegra:

MARIE CLAIRE Como você lida com a pressão estética desta época? Acredita que algumas mulheres cedem a ela?
Georgia Chagas Para ser sincera, acredito que muitas mulheres acabaram cedendo a pressão sim. Hoje em dia, tem muitas pessoas de fora do Carnaval que gostam de ver como funciona a nossa arte e, além disso, gostam de julgar o que estão vendo, porque eles não entendem que ali têm pessoas que construíram sua história no meio carnavalesco desde a infância. Muitas meninas acabam cedendo porque acreditam que tem algo de errado.

MC Mas o movimento pela aceitação corporal está cada vez maior, não é?
GC Tem alguns anos que essa movimentação vem crescendo sim, mas a pessoa gorda ainda é vista de uma forma que não é correta. É visto como se fosse algo muito diferente, absurdo, fora da caixa... quando na verdade, não é. Sou igual uma pessoa magra, estou fazendo o mesmo que a pessoa magra, não sei porque vão me ver e pensar: "meu Deus como ela é batalhadora". Essa situação cansa.

MC Como lida com a ideia de sexualização do seu corpo?
GC Ainda é gigantesca e é horrível ter que lidar com isso. As pessoas ainda têm a mania de ver a passista como só um corpo para poder servir de maneira sexual. Acham que tudo que vestimos, fazemos e os nossos passos, que já existem há muito tempo, são para atrair homens, o que não é. A gente está ali porque gostamos da arte do samba.

MC Já teve algum receio de pisar na avenida?
GC No final de 2022 teve um mini desfile das escolas de samba do grupo especial na Cidade do Samba e na época eu estava integrando o grupo show da aula de passistas da Mangueira. O uniforme da ocasião era um body muitoo cavado, só que era um uniforme padrão, não tinha como optar por não usar. Viralizou no Facebook e muita gente caiu matando em cima de mim, a ponto de pessoas conseguirem meu número e me mandarem mensagens. Passou de opinião para um ataque. Na ocasião, fiz até boletim de ocorrência. Lido há anos com situações desse tipo, só que ali naquele momento vendo aquela enchente de pessoas falando tantas coisas ruins sobre mim sem saber quem eu sou, sem saber o que faço, me machucou muito.

MC Chegou a cogitar abandonar o Carnaval?
GC Depois de passar por isso eu jurei que em 2023 seria meu último Carnaval. Postei um comunicado no meu perfil dizendo que não ia mais desfilar. Larguei tudo que tinha em rede social e só voltei em junho. Foi quando teve a mudança na Riotur (Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro) para que fosse obrigatório que todas as escolas e blocos da cidade enviassem uma candidata para a corte do Rio. Minha escola já estava ciente que eu não participaria, mas insistiram porque acreditaram que era a chance de me reerguer. Fiquei com muito medo, mas logo na primeira eliminatória deu tudo certo e extrapolou todos os níveis que a gente achava que iria acontecer. Não ganhei, cheguei até a semifinal e meu discurso viralizou. Coloquei pra fora tudo que estava preso. E, daquele dia em diante, enxerguei uma Georgia que eu não via há muito tempo.

MC Quem te inspira a seguir e não ligar para as más línguas?
GC Aqui no Rio é um pouquinho difícil de você ver hoje em dia mais de uma pessoa gorda numa ala de passistas, mas em 2014 a ala de passistas da Grande Rio era a que tinha mais mulheres plus size, hoje em dia quase não tem. Mas tem uma passista em específico, que é a que eu mais tenho contato e me espelho muito, que é a Pâmela Antunes. Mais conhecida como Pâmella Gil ou Gordelicia do Samba, destaque do Salgueiro, e é uma inspiração pra mim.

MC Como está o coração para sua estreia na Portela?
GC Estou há cinco meses na Portela, faço a minha estreia nesse Carnaval, especificamente neste domingo (28), que é o ensaio técnico na Sapucaí. É uma experiência nova estar na escola do grupo especial, onde todos os olhos de todo mundo estão ali. Todos esperando por aquele momento. É outro nível de responsabilidade, que só vai crescendo, mas eu não trocaria por nada. Só quero viver esse momento.

MC Faz parte do seu sonho levantar essa bandeira contra a gordofobia na Sapucaí?
GC Não, é mais por quem eu sou. Nem sempre fui uma pessoa gorda. Isso começou numa das escolas que fazia parte, onde o diretor antigo da ala de passistas ficava comparando o meu corpo com o de outras pessoas dizendo que eu precisava emagrecer. Na época, eu não estava tão acima do peso, comecei a ganhar e perder peso diversas vezes e, de 2019 para 2020, entendi que não podia mais machucar o meu corpo para poder agradar outras pessoas. Só poderia fazer qualquer coisa se fosse por mim.

Georgia Chagas — Foto: Anaiara Góis
Georgia Chagas — Foto: Anaiara Góis
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