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Por Por Paula Jacob (@pjaycob)


Um colapso físico e econômico na zona empresarial de uma pequena cidade rural em Nevada coloca em risco a vida de diversas famílias. Incluindo a de Fern (Frances McDormand), que, após a morte do marido, decide trocar a rotina no subúrbio pelas estradas dos Estados Unidos, morando dentro de um motorhome. Nomadland, indicado ao Oscar 2021 em seis categorias, é um filme que poderia ser sobre a vida de muitos norte-americanos, e a escolha da diretora Chloé Zhao em misturar realidade e ficção mostra os dois lados da moeda quando se faz a decisão de viver como um nômade no país que respira capitalismo.

A crítica social é acompanhada de uma homenagem à existência neste mundo, onde as coisas vão e vem com o estalar dos dedos, mas os laços humanos que criamos ao longo da jornada nos fortalecem enquanto seres. A poesia visual começa com a escolha da diretora chinesa em aliar o drama convencional ao documentário, com uma personagem fictícia, Fern, rodeada de pessoas reais que vivem a vida cruzando a enorme extensão de terra estadunidense. Essa mescla não só renova o cinema em si, como também reforça a aproximação do fazer fílmico à audiência.

Frances McDormand in the film NOMADLAND. Photo Courtesy of Searchlight Pictures. © 2020 20th Century Studios All Rights Reserved

 (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Frances McDormand in the film NOMADLAND. Photo Courtesy of Searchlight Pictures. © 2020 20th Century Studios All Rights Reserved (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Durante o caminho percorrido com Fern, é possível compreender e sentir (sentir muito) as decisões que se toma na estrada em prol da continuidade da vida nela. Ela trabalha anualmente em um galpão da Amazon para conseguir juntar um bom dinheiro e ter onde dormir/estacionar seu carro pelo período. A partir daí, percorre caminhos pelos mais diversos ecossistemas, trocando trabalho por estadia, praticando economia circular com os outros colegas de vida nômade e vivendo o oposto que o american dream tanto vende – mas, seria ele a resposta para tudo? Teria Fern trocado uma vida de “luxos” por uma vida “sem teto”, como uma das antigas amigas gosta de identificá-la?

Chloé Zhao, Joshua James Richards e Frances McDormand no set de "Nomadland' (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Chloé Zhao, Joshua James Richards e Frances McDormand no set de "Nomadland' (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Nomadland: realidade e ficção na poesia visual de Chloé Zhao (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Nomadland: realidade e ficção na poesia visual de Chloé Zhao (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Todos na estrada estão nela por razões pessoais e intransferíveis: a perda de filhos ou entes queridos, a aposentadoria, a falta de perspectiva em uma sociedade do cansaço e da competição, a oportunidade de viver ao ar livre, a necessidade de gastar menos, a idealização de uma vida mais sustentável e por aí vai. O que torna Nomadland um poço de sentimentos são as histórias reais que cruzam o caminho da personagem, compartilhadas com muita honestidade e capturadas de forma respeitosa. Palmas para o diretor de fotografia, Joshua James Richards, que consegue unir essa individualidade ao passo que joga as pessoas em cena dentro de paisagens deslumbrantes em que é possível perceber a pequeneza da vida. Um existencialismo de forte impacto, de forma e conteúdo.

Nomadland: realidade e ficção na poesia visual de Chloé Zhao (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Nomadland: realidade e ficção na poesia visual de Chloé Zhao (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

E para amarrar toda essa construção delicada e profunda do ser humano em busca de si, em busca da melhor forma para existir em si, entra a figura ilustre dessa ópera: Frances McDormand. A vencedora do Oscar de Melhor Atriz por Fargo (1997) e Três Anúncios Para um Crime (2018) vive a única personagem fictícia do filme e segura brilhantemente a metalinguagem proposta por Chloé Zhao. Sua entrega à Fern e ao modo de vida nômade dá uma credibilidade imensa para o formato, que emociona com a beleza do cotidiano e a simplicidade dos sentimentos. Ela é um acontecimento neste filme que, sim, merece todo o reconhecimento das premiações internacionais. Principalmente pela sua produção independente, que não deixa a desejar em nada comparada com as grandes cifras de Hollywood, e pelo exercício de empatia que propõe para uma sociedade tão mergulhada no próprio umbigo. Um salve para as mulheres no cinema!

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