Sua Estante

Por Vanessa Centamori

Repórter da GALILEU e autora da coluna "Sua Estante".

Após se deliciar com ovos de chocolate na Páscoa, nada melhor do que começar abril saboreando um bom livro. A coluna Sua Estante deste mês traz indicações de títulos sobre diversos temas, que vão de saúde e história a espaço.

O Bom da Idade, de Daniel J. Levitin, dá dicas de como envelhecer com saúde; Clarice na memória de outros, de Nádia Battella Gotlib, revela depoimentos de nomes como Caetano Veloso o e Chico Buarque sobre a icônica autora de A hora da estrela.

Estrelas e outros corpos celestes: Astrofísica para leigos, dos físicos Regina Pinto de Carvalho e Antônio Sergio Teixeira Pires, nos convida a entender a formação, composição e evolução do Universo. A lista conta ainda com Palestina: Um século de guerra e resistência (1917 -2017), de Rashid Khalidi, que traz uma visão histórica do atual conflito em Gaza.

Confira todos os livros a seguir:

1. O Bom da Idade, de Daniel J. Levitin (Objetiva, 544 páginas | Impresso: R$ 103,83 | e-book: R$ 44,90. Disponível desde 5 de março)

"O Bom da Idade", de Daniel J. Levitin — Foto: Objetiva/Divulgação
"O Bom da Idade", de Daniel J. Levitin — Foto: Objetiva/Divulgação

"A mensagem básica que vemos na cultura popular — a de que a velhice é uma época de declínio completo — não é correta", afirma o neurocientista e psicólogo cognitivo Daniel J. Levitin no livro O Bom da Idade.

A obra do professor emérito da Universidade McGill, no Canadá, traz estratégias para uma vida mais saudável e mostra que envelhecer não precisa ser algo desagradável. O livro reúne pesquisas recentes em neurociência do desenvolvimento e psicologia para guiar o leitor.

Para Levitin, "ser autoconsciente, estar receptivo às possibilidades de crescimento, contar com amigos, se relacionar com gerações mais jovens, ter entusiasmo pela vida e aderir a atividades mais saudáveis são o verdadeiro segredo para uma vida longa e feliz", resume a orelha do livro.

2. Nise da Silveira – Uma psiquiatra rebelde, de Ferreira Gullar (Paidós - Planeta, 192 páginas | Impresso: R$ 59,90. Disponível desde 25 de março)

"Nise da Silveira: Uma psiquiatra rebelde", de Ferreira Gullar — Foto: Paidós/Divulgação
"Nise da Silveira: Uma psiquiatra rebelde", de Ferreira Gullar — Foto: Paidós/Divulgação

Esgotado desde os anos 2000, o livro Nise da Silveira – Uma psiquiatra rebelde voltou às livrarias pelo selo Paidós da Editora Planeta. A obra traz a história da mulher que revolucionou a psiquiatria no Brasil: a alagoana Nise da Silveira, que propôs na década de 1940 a terapêutica ocupacional e o uso da arte no lugar de abordagens violentas, como lobotomia e choque insulínico.

O livro destaca grandes feitos da psiquiatra, que foi pioneira na difusão da psicologia junguiana no nosso país. O leitor tem acesso a fotografias de vários momentos da vida de Nise e pode conferir uma entrevista conduzida pelo autor, o jornalista e poeta Ferreira Gullar. O posfácio é do psicanalista e escritor Christian Dunker.

3. Clarice na memória de outros, de Nádia Battella Gotlib (Autêntica, 504 páginas | Impresso: R$ 94,90 | e-book: R$ 67,90. Disponível desde 28 de março)

"Clarice na memória de outros", de Nádia Battella Gotlib — Foto: Autêntica/Divulgação
"Clarice na memória de outros", de Nádia Battella Gotlib — Foto: Autêntica/Divulgação

Como era a autora de A hora da estrela e A Paixão segundo G.H. na vida pessoal? Este livro registra depoimentos de 65 pessoas que conviveram ou se encontraram com Clarice Lispector, incluindo Chico Buarque, Maria Bethânia e Caetano Veloso. São cartas, entrevistas, artigos em recortes de jornais, poemas e crônicas de familiares, amigos, admiradores, jornalistas, editores, pesquisadores, entre outros.

Na obra, há inclusive uma crônica de Rubem Braga, que conta como Manuel Bandeira inesperadamente se vê diante de Lispector. Também há uma imagem do encontro de escritores na 22ª Feira do Livro de Porto Alegre, quando autores — incluindo Lispector — assinaram um manifesto contra a ditadura militar de 1964.

Quem reuniu todo esse material foi Nádia Battella Gotlib, doutora em Literatura Portuguesa e Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP). “São depoimentos que coletei ao longo das últimas décadas, desde os anos 1980, quando comecei a dar cursos de pós-graduação sobre Clarice Lispector na Universidade de São Paulo. Tais textos ajudam a entender quem foi essa escritora hoje tão lida", conta a professora, em comunicado da Editora Autêntica, que lançou a obra.

4. Para pensar e escrever melhor: Pequenos textos, de Leandro Karnal (Planeta, 192 páginas | Impresso: R$ 54,90 | e-book: R$ 42, 90. Disponível desde 1º de abril)

"Para pensar e escrever melhor", de Leandro Karnal — Foto: Planeta/Divulgação
"Para pensar e escrever melhor", de Leandro Karnal — Foto: Planeta/Divulgação

O historiador, escritor e palestrante Leandro Karnal é bem conhecido nas redes sociais (ele soma 5,1 milhões de seguidores no Instagram e 1,8 milhão de inscritos no YouTube). Você também já pode tê-lo visto na TV, inclusive como apresentador do programa CNN Brasil Tonight.

A partir de crônicas publicadas anteriormente no jornal Estado de S. Paulo, Karnal dá uma aula de linguística no livro Para pensar e escrever melhor: Pequenos textos. A primeira das histórias, que ilustra o recurso da figura de linguagem hipérbole, fala sobre um casal que foi a muitos casamentos e, por isso, decidiu que faria uma cerimônia de matrimônio inesquecível.

Outras crônicas discutem temas como política, esperança, conflitos, humanidade e mostram o processo criativo do autor. Conforme a leitura avança, há explicação de diversos recursos linguísticos que podem auxiliar o leitor no processo de escrita e criatividade.

5. Revolucionárias: Joana d'Arc e Maria Quitéria, de Isabelle Anchieta (Planeta, 336 páginas | Impresso: R$ 89,90 | e-book: R$ 69,90. Disponível desde 1º de abril)

"Revolucionárias: Joana d'Arc e Maria Quitéria", de Isabelle Anchieta — Foto: Divulgação/Planeta
"Revolucionárias: Joana d'Arc e Maria Quitéria", de Isabelle Anchieta — Foto: Divulgação/Planeta

Este livro faz um paralelo entre duas mulheres: Joana d’Arc, do século 15, e Maria Quitéria, do século 19. A primeira liderou o exército francês, em plena crise do mundo medieval (algo inédito para uma mulher). Já a segunda foi a primeira brasileira a lutar no exército nacional em prol da Independência do Brasil, quando o país ainda era colonial e escravista.

Apesar dos 400 anos que separam a história dessas duas revolucionárias, a jornalista Isabelle Anchieta, doutora em Sociologia pela USP, cruza as trajetórias de ambas para abrir reflexões sociológicas atuais sobre temas como polarização social, nacionalismo, religião, intolerância e contradições nas relações entre homens e mulheres.

"Passei quase dois anos estudando e percorrendo cidades, museus, arquivos na França e no Brasil, por onde passaram a francesa Joana d’Arc e a brasileira Maria Quitéria, em busca de documentos originais e em contato direto com os locais, pesquisadores e representações sobre essas mulheres", conta Anchieta, na introdução da obra. Os resultados dessa pesquisa estão em QR Codes ao longo do livro.

6. Animais arquitetos, de Juhani Pallasmaa (Olhares, 188 páginas | Impresso: R$ 79,00. Disponível desde 1º de abril)

"Animais arquitetos", de Juhani Pallasmaa — Foto: Olhares/Divulgação
"Animais arquitetos", de Juhani Pallasmaa — Foto: Olhares/Divulgação

Um dos grandes pensadores contemporâneos da arquitetura, o finlandês Juhani Pallasmaa mostra em Animais arquitetos que o ser humano não é o único arquiteto. Praticamente em todo o reino animal existem hábitos de construção — que estão presentes não só entre os primatas, mas até entre protozoários.

"As construções animais são estruturalmente seguras, e tanto suas formas como o uso dos materiais foram aos poucos sendo otimizados pela lei da seleção natural", afirma Pallasmaa em sua obra. Ex-diretor do Museu de Arquitetura da Finlândia, ele cita entre vários exemplos de arquitetura na natureza a estrutura dos favos verticais das abelhas.

O arquiteto também fala de outros seres vivos, como os aracnídeos, discutidos no prefácio. "Atualmente, acredita-se que as construções humanas mais antigas tenham cerca de 1,8 milhão de anos (as estimativas variam muito), ao passo que foram encontradas aranhas com órgãos fiadores preservadas em âmbar por 300 milhões de anos", ele conta.

7. Palestina: Um século de guerra e resistência (1917 -2017), de Rashid Khalidi (Todavia, 432 páginas | Impresso: R$ 114,90 | e-book: R$69,90). Disponível em 8 de abril)

"Palestina: Um século de guerra e resistência (1917 -2017)", de Rashid Khalidi — Foto: Todavia/Divulgação
"Palestina: Um século de guerra e resistência (1917 -2017)", de Rashid Khalidi — Foto: Todavia/Divulgação

O historiador americano Rashid Khalidi, que já publicou várias obras sobre o Oriente Médio, começa seu livro Palestina: Um século de guerra e resistência falando de uma carta enviada pelo ex-deputado e prefeito de Jerusalém, Yusuf Diya al-Khalidi, a Theodor Herzl, considerado o pai do sionismo moderno.

No documento, o ex-deputado argumenta que as “forças brutais das circunstâncias tinham que ser consideradas”, pois o povo palestino nunca aceitaria de bom grado ser suplantado. Por fim, o político termina a carta com um apelo: “em nome de Deus, deixe a Palestina em paz.”

Por meio dessa correspondência, Khalidi, descendente do autor da carta, passa a relatar a guerra secular árabe-israelense. O historiador, que tira informações de pesquisas de arquivo, de familiares e das próprias experiências, guia o leitor por episódios-chave que explicam o conflito, como a Declaração Balfour de 1917, na qual a Grã-Bretanha se comprometeu a criar uma nação judaica na Palestina.

8. Estrelas e outros corpos celestes: Astrofísica para leigos, de Regina Pinto de Carvalho e Antônio Sergio Teixeira Pires (Autêntica, 128 páginas | Impresso: R$ 64,90 | e-book: R$ 45,90. Disponível em 12 de abril)

"Estrelas e outros corpos celestes:Astrofísica para leigos", de Regina Pinto de Carvalho e Antônio Sergio Teixeira Pires — Foto: Autêntica/Divulgação
"Estrelas e outros corpos celestes:Astrofísica para leigos", de Regina Pinto de Carvalho e Antônio Sergio Teixeira Pires — Foto: Autêntica/Divulgação

Ao olhar para o céu noturno, você já se perguntou de onde vêm as estrelas? Será que elas vão durar para sempre? E a que distância os astros ficam de nós? Os físicos Regina Pinto de Carvalho e Antônio Sergio Teixeira Pires discutem esses assuntos em linguagem acessível no livro Estrelas e outros corpos celestes: Astrofísica para leigos.

Carvalho é professora e pesquisadora aposentada do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Pires é Doutor em Física pela Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados Unidos. Os autores explicam no livro a formação, a composição e a evolução do Universo, começando pelas estrelas semelhantes ao Sol, e outras maiores ou menores que ele, mais antigas ou mais recentes.

Os especialistas contam ainda o que são buracos negros, estrelas de nêutrons, quasares e examinam buracos de minhoca — passagens hipotéticas no espaço-tempo que aparecem em vários filmes de ficção científica.

9. Terra Viva: Minha Vida em uma Biodiversidade de Movimentos, de Vandana Shiva (Boitempo Editorial, 216 páginas | Impresso: R$ 65,00. Disponível em 16 de abril)

"Terra Viva: Minha Vida em uma Biodiversidade de Movimentos", de Vandana Shiva — Foto: Boitempo Editorial/Divulgação
"Terra Viva: Minha Vida em uma Biodiversidade de Movimentos", de Vandana Shiva — Foto: Boitempo Editorial/Divulgação

Na autobiografiaTerra Viva: Minha Vida em uma Biodiversidade de Movimentos, a cientista e ativista ambiental indiana Vandana Shiva relata sua luta de mais de quatro décadas para defender a biodiversidade, a conservação das florestas e a soberania alimentar.

Shiva se tornou uma expoente ativa do "Ecofeminismo" e é fundadora do Navdanya, um movimento indiano pela conservação da biodiversidade e pelos direitos dos agricultores. Na obra, a doutora em física quântica aborda sua infância em uma fazenda na Índia, além da perspectiva que teve ao entrar na faculdade e viver em grandes centros urbanos indianos e no exterior.

Ela começou a se engajar em sua aldeia natal por meio do Movimento Chipko, no qual mulheres se agarravam a árvores para impedir a desflorestação nas montanhas do Himalaia, segundo detalha o site do Grande Prêmio Fukuoka, que homenageia indivíduos nos campos dos estudos asiáticos, e premiou a ativista em 2012.

"Não podemos enfrentar as mudanças climáticas – e suas consequências muito reais – sem reconhecer o papel central do sistema alimentar industrial e globalizado, que contribui para as emissões de gases de efeito estufa desmatando, praticando operações concentradas de alimentação animal [...], utilizando embalagens de plástico e alumínio, fazendo transporte de longa distância e desperdiçando comida", argumenta a cientista em seu livro.

10. Marielle e Monica: Uma história de amor e luta, de Monica Benicio (Rosa dos Tempos, 240 páginas | Impresso: R$ 59,90 | e-book: R$ 31,41). Disponível em 22 de abril)

"Marielle e Monica: Uma história de amor e luta", de Monica Benicio — Foto: Rosa dos Tempos/Divulgação
"Marielle e Monica: Uma história de amor e luta", de Monica Benicio — Foto: Rosa dos Tempos/Divulgação

Monica Benicio, a viúva de Marielle Franco e militante pelos direitos humanos, conta pela primeira vez em Marielle e Monica: Uma história de amor e lutas sobre o relacionamento que teve com a vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018. De amigas, elas viraram namoradas (inicialmente, às escondidas) e passaram por períodos de afastamento e de reaproximação ao longo de 14 anos de uma conexão intensa.

No dia 20 de fevereiro — justamente na data em que conheceu Marielle há 20 anos —, Monica compartilhou a capa do livro em seu perfil de Instagram. "Eu estava sentada na frente da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, na Maré, esperando pra fazer minha primeira viagem de carnaval com as amigas. Faltava apenas uma pessoa, completamente atrasada, pra fechar a van e sairmos pra Jaconé", recorda a viúva na publicação. "Eu tinha 18 anos e não fazia ideia de aquela era a espera de uma vida inteira. Foi nesse dia em que conheci Marielle".

O livro foi a forma que Monica encontrou de processar o luto e também lutar por justiça. "Não a justiça que o Estado Brasileiro deve a mim e aos familiares de Marielle. Mas a justiça que o mundo deve a Marielles que, como ela, moveram as estruturas para construir um lugar digno pra nós, mulheres, mulheres lésbicas, LGBTs, faveladas e favelados, pessoas negras, pobres", ela explica no post.

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