Um pesquisador da Universidade de Bristol, do Reino Unido, descobriu que um raro documento do século 17, antes atribuído ao pai do poeta e dramaturgo William Shakespeare, foi escrito, na verdade, pela irmã desconhecida do escritor, Joan.
A novidade foi descrita em um artigo publicado na revista Shakespeare Quarterly na última terça-feira (19). O texto escrito pela irmã de Shakespeare era um tratado religioso, no qual ela se compromete a ter uma morte católica — isso quando o catolicismo era desaprovado na Inglaterra.
Naquela época, o país passava pela Reforma Protestante, quando muitos católicos eram perseguidos, torturados e mortos por sua fé. O documento foi encontrado em 1770 por um pedreiro, oculto entre as vigas da casa de Shakespeare em Stratford-upon-Avon.
Anteriormente, uma dupla de pesquisadores analisou o texto, concluindo que ele pertenceria a John, pai de Shakespeare, que morreu em 1601. Posteriormente reavaliado, especialistas acreditaram que o manuscrito poderia ser uma falsificação projetada para dar a impressão de ser um documento da época de John.
Contudo, Matthew Steggle, professor do Departamento de Inglês da Universidade de Bristol, mostrou que, na verdade, o texto é uma tradução do livro italiano "O Último Testamento da Alma". Ele utilizou o Google Livros e bancos de dados online para localizar edições antigas da obra em italiano e outras seis línguas, que estão dispersas pelas bibliotecas do continente europeu.
Como o texto era de vários anos após a morte de John Shakespeare, o autor do manuscrito só poderia ser outro "J. Shakespeare": Joan, que viveu de 1569 a 1646.
Cinco anos mais nova que seu irmão William Shakespeare, ela passou toda a vida na cidade britânica de Stratford-upon-Avon. Indícios apontam que Joan se casou com um comerciante sem muitos recursos financeiros e que, juntos, tiveram 4 filhos. A mulher viveu por aproximadamente 77 anos, e foi a única familiar viva nos últimos anos de vida do poeta, além de sua própria esposa e filhas.
Apesar disso, há poucos registros sobre ela. "Há apenas sete documentos sobreviventes da época de Joan que sequer mencionam seu nome”, conta Steggle, em comunicado. “Virginia Woolf escreveu um ensaio famoso, 'A irmã de Shakespeare', sobre como uma figura como ela nunca poderia esperar ser uma escritora ou ter sua escrita preservada, então ela se tornou um símbolo para todas as vozes perdidas das mulheres do início da era moderna".
"Eu, [Joan] Shakespeare, protesto que estou disposta, sim, infinitamente desejo e humildemente peço, que desta minha última vontade e testamento, a gloriosa e sempre Virgem Maria, mãe de Deus, refúgio e advogada dos pecadores, a quem honro especialmente acima de todos os outros santos, possa ser a principal testamenteira juntamente com estes outros santos meus patronos, Santa Winifred, todos os quais invoco e suplico que estejam presentes na hora da minha morte para que ela e eles possam me confortar com sua desejada presença e suplicar ao doce Jesus que Ele receba minha alma em paz".