Um novo ensaio clínico na África do Sul, em Uganda, mostrou resultados positivos na luta contra o HIV. O medicamento antiviral de injeção semestral, chamado Lenacaprivir, fabricado pela Gilead Sciences, proporcionou proteção total às jovens mulheres com o vírus.
"Fiquei arrepiada", conta Linda-Gail Bekker, uma das investigadoras do ensaio do medicamento em entrevista ao The News York Times. "Depois de tantos anos de tristezas, especialmente em relação às vacinas, isso é realmente surreal".
Durante o ensaio, nenhuma das 2.134 mulheres que recebeu o medicamento no braço contraiu HIV. Em comparação, 16 das 1.068 pacientes (ou 1,5%) que tomaram o comprimido diário Truvada, disponível há mais de uma década contra o vírus, foram infectadas. Outras 39 das 2.136 participantes (1,8%) que receberam o medicamento mais recente chamado Descovy, tinham sido afetadas.
Esses resultados foram avaliados como impressionantes pela equipe, o que levou à interrupção antecipada do ensaio, conforme recomendação do comitê de revisão, que determinou que todos os participantes deveriam receber a injeção devido à sua eficácia superior. Nenhuma das mulheres que receberam a injeção semestral contraiu HIV, ao contrário das que usaram comprimidos diários.
"Para uma jovem que não pode ir a uma consulta em uma clínica na cidade, uma jovem que não pode manter pílulas sem enfrentar estigma ou violência — uma injeção apenas duas vezes por ano é a opção que pode mantê-la livre do HIV", explica Lillian Mworeko, que lidera um grupo chamado International Community of Women Living With HIV Eastern Africa.
A Gilead anunciou as conclusões, apesar de ainda não ter sido submetida à revisão dos pares, que está prevista para acontecer ainda esse ano. A fabricante afirma que pretende fazer um segundo ensaio em outros 6 países, incluindo Brasil e Estados Unidos, para mostrar a eficácia do Lenacaprivir em homens gays, em pessoas transgênero e em usuários de drogas injetáveis.
Em 2023, o Brasil registrou aproximadamente 960 mil pessoas vivendo com HIV. Esse dado faz parte do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids divulgado pelo Ministério da Saúde, que detalha o perfil epidemiológico das infecções por HIV e casos de Aids no país. Além disso, a taxa de detecção de HIV foi de 18,1 casos por 100 mil habitantes, mostrando uma redução significativa em relação aos anos anteriores.
Esse ensaio clínico, nomeado de Purpose 1, apresentou algumas particularidades devido à inclusão de participantes jovens, de 16 a 25 anos, e pelo fato de permitir que mulheres grávidas e lactantes continuassem no estudo. Historicamente, as empresas farmacêuticas têm sido relutantes em testar medicamentos nesses grupos, mas a comunidade insistiu que o ensaio incluísse os mais vulneráveis a novas infecções, como adolescentes sexualmente ativas.
Além disso, o Lenacaprivir é o primeiro medicamento de prevenção ao HIV cujos resultados dos ensaios foram disponibilizados para mulheres antes dos homens, uma vez que a maioria dos testes é inicialmente realizada em homens gays de países industrializados antes de chegar às mulheres africanas, que são a população mais vulnerável.