Biologia

Por Redação Galileu

Um estudo publicado em 29 de fevereiro no periódico Journal of Plant Research revelou a descoberta de uma rara planta que não faz fotossíntese no Japão. A nova espécie e gênero (Relictithismia kimotsukiensis) de lanterna-de-fada não possui folhas verdes e se alimenta de micélios de fungos no solo.

Como consequência, essas plantas muitas vezes ficam escondidas sob folhas caídas e produzem por um curto período de tempo flores acima do solo que se assemelham ao vidro.

As lanternas-de-fada, que são da família Thismiaceae, são encontradas em regiões tropicais, subtropicais e de clima temperado. Thismia, um dos principais grupos dessa família de plantas, é conhecido como Tanuki-no-shokudai em japonês, o que significa “castiçal de cachorro-guaxinim”, referindo-se ao estilo de vida subterrâneo e ao formato inusitado dos seres vegetais.

Uma das características únicas mais intrigantes da recém-descrita Relictithismia kimotsukiensis é que seus estames (a parte masculina da planta) tocam o estigma (a parte feminina), facilitando assim a autopolinização. Esta adaptação é provavelmente vantajosa para uma planta que vive sob folhas caídas em florestas escuras onde os polinizadores são escassos. — Foto: Tagane Shuichiro
Uma das características únicas mais intrigantes da recém-descrita Relictithismia kimotsukiensis é que seus estames (a parte masculina da planta) tocam o estigma (a parte feminina), facilitando assim a autopolinização. Esta adaptação é provavelmente vantajosa para uma planta que vive sob folhas caídas em florestas escuras onde os polinizadores são escassos. — Foto: Tagane Shuichiro

O Japão é conhecido por pesquisar intensamente a flora e a descoberta de um novo gênero é uma raridade que não ocorre há quase 100 anos. A última descoberta de uma nova planta vascular que fosse diferente simultaneamente em gênero e espécie foi a Japonolirion, em 1930.

“Atualmente, foram identificadas aproximadamente 100 espécies dentro da família [Thismiaceae], quase metade das quais são conhecidas apenas desde a sua primeira descoberta, às vezes a partir de um único espécime”, explica o botânico da Universidade de Kobe, Suetsugu Kenji, especialista de renome internacional em estudos não fotossintéticos em plantas, em comunicado.

A nova espécie da lanterna-de-fada

Com base em análises genéticas e morfológicas, a equipe de pesquisadores concluiu que a nova espécie é diferente daTanuki-no-shokudai e que, portanto, também difere no gênero.

Os botânicos acreditam que provavelmente a planta divergiu de toda a famíliaThismiaceae em uma fase inicial da evolução e mantém características comuns ao grupo, mas que foram perdidas no gênero Thismia.

Por essa razão, Suetsugu Kenji nomeou a planta em japonês com o termo Mujina-noshokudai, que significa “castiçal de texugo". Mujina é uma palavra japonesa antiga para texugo, mas às vezes também foi usada para o guaxinim. Com isso, o nome remete à relação da planta com a Thismia.

Mas o nome latino da espécie é Relictithismia Kimotsukiensis, que pode ser traduzido como “Relíquia de Kimotsuki” (uma cidade e distrito japoneses onde a descoberta foi feita).

A planta recém-descoberta Relictithismia kimotsukiensis provavelmente divergiu numa fase inicial da evolução de toda a família e mantém características ancestrais. Essa história se reflete no nome da planta. — Foto: Suetsugu Kenji
A planta recém-descoberta Relictithismia kimotsukiensis provavelmente divergiu numa fase inicial da evolução de toda a família e mantém características ancestrais. Essa história se reflete no nome da planta. — Foto: Suetsugu Kenji

“Esta investigação pode sugerir que muitas outras novas espécies podem estar escondidas em regiões anteriormente consideradas bem estudadas e sublinha a necessidade crítica de exploração e investigação contínuas da flora do planeta, tanto no estrangeiro como no país”, afirma Suetsugu.

O pesquisador teve a colaboração de botânicos com acesso a áreas restritas em todo o Japão. O especialista afirmou que a dedicação dos especialistas em revelar a flora oculta dessas regiões tem sido crucial na identificação de espécies desconhecidas pela ciência.

A planta recém-descoberta se alimenta de fungos e sua propagação é limitada, o que a torna vulnerável às mudanças ambientais. Este fator motiva Suetsugu a continuar e aprofundar sua pesquisa: “Um segmento da nossa investigação futura será dedicado a estudos ecológicos que visam decifrar as interações entre a Relictithismia e os seus hospedeiros fúngicos, além de avaliar o impacto das alterações ambientais nestas associações”, ele diz.

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