Nesta semana, a Nasa divulgou um relatório com os resultados de seu quinto exercício bienal de defesa planetária. O evento, que reúne diversas agências dos Estados Unidos e outras partes do planeja, visa avaliar a capacidade de resposta humana a ameaças espaciais – como cometas ou asteroides – que estejam em rota de colisão com a Terra.
Embora não há riscos conhecidos de impacto no futuro próximo, a Nasa ressalta que os exercícios hipotéticos dão informações valiosas ao explorar opções de resposta e oportunidades de colaboração para situações diferentes.
O conteúdo do relatório, porém, revela que a humanidade não está totalmente preparada para uma crise espacial sem precedentes – o que poderia até gerar até um cenário distópico como oretratado no filme "Não Olhe para Cima", de 2021. No longa da Netflix, dois astrônomos descobrem que, em poucos meses, um meteorito destruirá o planeta e, assim, assumem uma missão alertar a humanidade sobre o perigo que se aproxima. Questões de ordem política e econômica aparecem como um impasse nesse processo e retardam a execução de planos para de fato impedir a tragédia.
Exercício hipotético
Para fazer o exercício hipotético, os participantes consideraram as potenciais respostas dos EUA e da comunidade global em um cenário no qual um asteroide tinha 72% de chance de atingir a Terra em aproximadamente 14 anos. Para complicar ainda mais o cenário, o rastreamento do asteroide precisaria ser adiado por pelo menos sete meses – uma perda de tempo preocupante –, enquanto a rocha espacial passava por trás do Sol.
"Como os telescópios veriam esse asteroide apenas como um ponto de luz no espaço, teríamos incertezas muito grandes sobre suas características”, explica Terik Daly, supervisor do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins, em comunicado. “Consequentemente, isso causaria incertezas sobre quais seriam as consequências caso o astro atingisse o solo”.
![Representantes da Nasa, FEMA e da comunidade de defesa planetária participam do 5º Exercício de Mesa Interagências de Defesa Planetária para informar e avaliar nossa capacidade como nação de responder eficazmente à ameaça de um asteróide ou cometa potencialmente perigoso — Foto: Divulgação/NASA/JHU-APL/Ed Whitman](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/H6lm5i3hAjl0lw6fRuo2HEQNsEM=/0x0:1200x661/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/m/Q/PrpmBHSeqRODOEBE7gIw/448917920-843553981001686-5427265171480646603-n.jpg)
Os cálculos dos especialistas determinaram que o asteroide hipotético teria um tamanho entre 60 m e 800 m de diâmetro. Estimou-se que, se chocasse com a Terra, a provável rota de ataque passaria por cidades do México, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito e Arábia Saudita. “Mesmo um astro menor pode ter um grande impacto, dependendo de onde atingir a Terra. Um lugar no meio do oceano é diferente de uma área metropolitana��, lembra Lindley Johnson, oficial da Nasa.
Os participantes do exercício discutiram três opções para acompanhar o astro durante os anos que antecederiam o impacto: simplesmente esperar e não fazer nada; iniciar uma missão espacial liderada pelos EUA para fazer uma espaçonave passar pelo asteroide e obter mais informações; ou criar um esforço para construir uma espaçonave mais cara, que seria capaz de passar algum tempo ao redor do asteroide e possivelmente até mudar sua trajetória no espaço.
Ao contrário das simulações anteriores de ameaça de asteroides, esta não teve um final dramático – mas, nem por isso, positivo. “Na verdade, ficamos presos em um momento do exercício. Não avançamos”, conclui Daly. Em discussões anteriores, os especialistas técnicos tendiam a assumir que o acesso ao financiamento não seria um problema em uma situação tão sem precedentes, mas “a realidade é que o custo seria, sim, uma preocupação”.
O relatório da Nasa observa que “muitas partes interessadas expressaram que gostariam de obter o máximo de informações sobre o asteroide o mais rápido possível, mas apresentaram ceticismo quanto à possibilidade de financiamento para obter tais informações sem um conhecimento mais definitivo do risco”. Embora os representantes tivessem uma clara preferência pela ação, “o que fariam realmente os líderes políticos?” foi uma das questões que movimentou o debate.
“Sustentar a missão espacial, a preparação para desastres e os esforços de comunicação ao longo de um cronograma de 14 anos seria um desafio devido aos ciclos orçamentários, mudanças na liderança política, pessoal e eventos mundiais em constante mudança”, lembra o relatório.