• Sabrina Ongaratto
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Em entrevista à CRESCER, a infectologista Rosana Richtmann, coordenadora de infectologia do Grupo Santa Joana, em São Paulo, revelou que, a partir de 2020, começou a observar a incidência de pacientes gestantes que haviam testado positivo para a covid e já chegavam aos hospitais da rede com óbito fetal. "Na época, não sabíamos da relação. Depois que as gestantes começaram a ser vacinadas, praticamente deixamos de ver essa condição. Apesar de não ser algo frequente, pode acontecer, e só reforça a importância da vacinação", alerta.

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A médica explica que a covid em mulheres gestantes, pode atacar a placenta, causando um processo "super-inflamatório". "O que ocorre não é uma má formação fetal, mas um processo inflamatório na placenta, que é o órgão responsável por nutrir o feto", explica.

Quando isso acontece, pode levar a morte fetal. Uma pesquisa publicada na última quinta-feira (10), na revista Archives of Pathology & Laboratory Medicine, confirma o impacto "destrutivo" que a covid-19 pode causar em mulheres grávidas não vacinadas e seus fetos em crescimento. “Ela pode tornar a placenta imprópria para cumprir suas funções”, disse David Schwartz, patologista perinatal em consultório particular em Atlanta, nos Estados Unidos, que liderou o estudo. “Esses fetos e recém-nascidos morreram por asfixia devido à falta de oxigênio. É quase exatamente o oposto do que vemos em outras doenças infecciosas como zika, rubéola ou sífilis”, disse ele. “Não é o feto que está sendo atacado e destruído pelo vírus. É a placenta”, completou.

A importância da vacinação na gravidez (Foto: Getty)

A importância da vacinação na gravidez (Foto: Getty)

Quando a gestante deve vacinar?

Segundo Rosana, o período da gravidez em que as mães não vacinadas costumam evoluir para quadros graves da covid é no terceiro trimestre. Para o bebê, no final da gravidez o problema é a prematuridade, que possivelmente não aconteceria se não fosse a covid.

No entanto, é no primeiro e segundo trimestres que a criança corre maior risco, por causa da impossibilidade de cesárea. "Quando a infecção ocorre no primeiro ou segundo trimestre da gestação, a maioria das gestantes evoluem bem, porém, vimos casos em que elas pararam de sentir o bebê mexer. Não são casos frequentes. São raros, mas podem acontecer caso a mulher não esteja vacinada", reforçou. 

Rosana ressalta que a idade para vacinar é: "qualquer momento da gestação". "Não se deve esperar hora nenhuma. Os recém-nascidos não costumam ter doença grave. Nossa preocupação é o óbito fetal, o abortamento e a morte materna. A Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) recomenda vacinar em qualquer período da gestação. O ideal é que elas façam a primeira, a segunda e a dose de reforço independentemente do estágio gestacional", finalizou.

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