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Cura. Na primeira publicação que fez no Instagram, contando sobre seu terceiro parto, no início deste mês, a influenciadora e empresária Shantal Verdelho, 34, usou essa palavra para descrever como se sentia, ao lado de uma foto em que aparecia feliz, com toda a equipe médica e o marido. “Foram as melhores três horas da minha vida”, escreveu. Ao dar à luz Giuseppe, em 1° de junho, ela diz ter finalmente ressignificado a experiência de dar à luz, desde o trauma que vivenciou no nascimento da segunda filha, Domenica, em setembro de 2021. Na época, ela sofreu violência obstétrica em diferentes níveis, que a deixaram com feridas emocionais profundas. O caso, denunciado por ela, foi amplamente divulgado e debatido e mostrou que nenhuma mulher está livre de passar por esse tipo de agressão em um dos momentos mais importantes de suas vidas.

Shantal conseguiu viver a experiência de parto com que sempre sonhou: "Estou curada". Na imagem, a família completa — Foto: Arquivo pessoal/ Shantal
Shantal conseguiu viver a experiência de parto com que sempre sonhou: "Estou curada". Na imagem, a família completa — Foto: Arquivo pessoal/ Shantal

Mas, desta vez, seria diferente. Ela mergulhou de cabeça na experiência, estudou, buscou uma equipe que a fizesse se sentir confiante, acolhida e protagonista do seu próprio parto. “Escolhi um médico que não me desse medo e, então, consegui viver um parto do jeito que sempre sonhei”, contou, em entrevista exclusiva a CRESCER. Durante a conversa, ela, que é mãe de Filippo, 5, Domenica, 2, e, do recém-nascido, Giuseppe, abriu o coração sobre as experiências boas e ruins que teve com seus partos e contou que ficou tão feliz com a forma como o terceiro filho veio ao mundo, que sente até vontade de viver tudo de novo - embora outro bebê não esteja nos planos dela e do marido, Mateus Verdelho, 40.

CRESCER - Você usou uma palavra linda para descrever seu terceiro parto: cura. Como o nascimento do Giuseppe ajudou a cicatrizar as feridas do parto anterior?
SHANTAL -
Além de tudo o que aconteceu no parto de forma traumática - toda a violência física, psicológica, emocional -, veio uma culpa muito grande de não ter oferecido para minha filha a melhor chegada que eu poderia oferecer. Eu estava num momento de muita vulnerabilidade, com contrações que começaram 48 horas antes de ela nascer, ou seja, duas noites sem dormir, naquela tensão, sem comer… Dizem que, ao parir, a mulher vai para a “partolândia”, que é como se fosse outra dimensão. Realmente, eu estava, não conseguia prestar atenção em tudo o que estava acontecendo. Mesmo assim, senti essa culpa de não ter feito nada ali na hora. O que mais me dói, quando lembro do parto, é pensar que minha filha sofreu. Ela foi esmagada com a manobra de Kristeller, foi arrancada de mim. Ela não chegou num ambiente acolhedor, sereno, leve, alegre, de amor. Ela chegou em um ambiente tenso, hostil, de violência mesmo. Então, proporcionar para outro filho um parto consciente, em que eu estava ali, protetora e protegida… Aliás, nem precisei proteger, né? O que foi muito legal durante todo o meu pré-natal é que, em momento algum, deixei de falar sobre qualquer desejo meu ou qualquer coisa que não queria com medo de incomodar o médico, com medo de ele não gostar. Até porque escolhi um médico que não me desse medo e, então, consegui viver um parto do jeito que sempre sonhei.

C - Como era esse parto dos sonhos?
S -
O parto, para mim, não é só algo que tenho que passar para ter meu filho. Para muitas mulheres, não é importante. Algumas nem querem passar por isso, preferem a cesárea mesmo, para tirar o bebê logo, têm agonia de parto - e tudo bem. Só que, para mim, era o maior evento da vida, era a experiência que eu queria sentir, ver, viver, assim como foi feito nesse parto de agora. Fiquei com um espelho na mão durante o parto e, o tempo inteiro, eu olhava o que estava acontecendo, tocava, cheirava todas as substâncias, o cordão umbilical, a placenta, a bolsa, vi a cabecinha do meu filho saindo, tudo. Fui muito presente. Então, consegui ter a experiência com que tanto sonhava e que achava que tinha desperdiçado no meu parto passado. Tenho uma história bonita para contar e isso me curou.

C - Em algum momento, ao saber da terceira gravidez, teve medo de viver uma experiência ruim de novo?
S -
Não tive medo esse medo, mas me senti perdida no momento em que descobri que estava grávida. Sou muito organizada e, geralmente, programo ter um filho. Como engravidei sem querer, eu não sabia nem para onde correr. Eu tinha dois médicos em mente e acabei gostando do primeiro que fui. Eu sabia que escolheria alguém que, com certeza, não me deixaria passar pelo que passei antes. Eu sabia que seria alguém que me deixaria liderar o meu parto, que o parto seria meu, do meu filho e do Mateus, e não do médico. O médico está ali para auxiliar, mas o parto é da mulher, o corpo é perfeito, a natureza é perfeita. Eu já estava com outra cabeça. Quando temos muita informação, é diferente, porque sabemos o que não podemos permitir, o que vai nos ferir, o que não vai. Eu também estava mais corajosa, a ponto de enfrentar qualquer situação desconfortável que pudesse haver com o médico. Eu não teria o menor problema em mudar no meio do caminho, ainda que estivesse quase parindo. Estávamos com a cabeça mais preparada e ter informação foi muito importante para isso.

C - Buscar informação e, com isso, encontrar a equipe correta, para oferecer suporte em um parto respeitoso, fez toda a diferença. Quais foram os pontos que viraram a chave para você, no entendimento de como deveria ser um parto?
S -
Acho que buscar informação está além do buscar a equipe correta. As duas coisas têm de ser feitas, mas a sua informação não tem que vir da equipe que você escolhe para o seu parto porque, se essa equipe passa uma informação errada, você tem isso como verdade. Se essa equipe, por exemplo, indica uma cesárea que não teria indicação real, você, sem informação, vai acreditar naquela desculpa que deram para justificar a necessidade da cirurgia e vai acabar aceitando, ainda que seu desejo fosse ter um parto normal. Tive muita informação no curso que fiz de hypnobirthing e também quando o meu caso [o episódio de violência obstétrica, no parte de Domênica] aconteceu. Na época, recebi relatos de outras mulheres e também lia as matérias, em que outros especialistas falavam a respeito. Então, vem a equipe. Logo no começo, com tudo o que você já sabe, você pergunta se aquele médico tem uma conduta parecida com o que você entendeu que seria um parto respeitoso, bonito, legal. E aí, se você vê que não, tem tempo de mudar de médico, sem preocupação. Eu, por exemplo, via várias “bandeiras vermelhas” no meu médico, na época, mas pensava que, como eu já estava com ele, poderia ser perigoso trocar em cima da hora, porque ele sabia do meu caso, do meu histórico, de tudo o que tinha acontecido na gestação.

C- E nesse terceiro parto você se sentiu segura sobre a escolha da equipe logo no início?
S -
Acho que houve esse diálogo desde o começo e, quando vi que o médico estava de acordo com o que eu entendia ser o parto ideal, me senti tranquila em seguir ali. Mais uma vez, o parto é da mulher. Então, acredito que o médico tem que aceitar, dentro do que mantenha bebê e mães saudáveis, o que aquela mulher está pedindo, o que ela entende que seja ideal para ela. A escolha da minha equipe foi muito importante, mas, infelizmente, a realidade da maioria dos brasileiros não é essa. Você é atendida pelo médico plantonista, principalmente no sistema público de saúde. Por isso, é tão importante que criem-se leis para criminalizar a violência obstétrica, para impedir qualquer médico de exercer esse tipo de violência em mulheres que estão em trabalho de parto e para que haja uma conduta ideal a ser seguida. A manobra de Kristeller, a episiotomia… São práticas que há 50, 40, 30 anos atrás se ensinava na faculdade como necessárias. São questões sobre as quais muitos médicos precisam se atualizar.

Shantal e o marido, Mateus, não pretendem aumentar a família — Foto: Arquivo pessoal/ Shantal
Shantal e o marido, Mateus, não pretendem aumentar a família — Foto: Arquivo pessoal/ Shantal

C - A forma como você enxerga o parto já levou pessoas a questionarem você, como aconteceu comigo, dizendo que isso é coisa de “hippie”?
S -
Recebi muitos questionamentos na internet por ignorância mesmo, falta de conhecimento. As pessoas diziam: “Ah, por que você quer tanto parto normal?” ou “Você tem que prezar pela saúde do seu filho”, em um lugar de que a cesárea seria mais segura do que um parto normal. Muitos médicos têm esse discurso. Vejo que, realmente, é um problema de informação das pessoas. Mas de pessoas próximas ou da equipe não recebi esse tipo de questionamento. Na verdade, o parto normal sempre foi um desejo meu, desde o primeiro filho, que nasceu de uma cesariana muito bem indicada. Mesmo hoje, com toda a informação que tenho, não mudaria a minha escolha. O Filippo era um bebê pélvico e era meu primeiro parto. Se já tivesse passado outro bebê por ali e eu tivesse certeza de que ele passaria, arriscaria um parto normal de um bebê pélvico, mas, sendo o primeiro, não. Mas sempre quis um parto normal, porque sempre entendi que ele é menos agressivo, mais saudável, mais seguro e traz muitos benefícios, desde o fato de o bebê passar por todas as bactérias do canal vaginal, de isso gerar toda uma imunidade para ele, até, realmente, as questões mais profundas.

C - A equipe, a informação, tudo isso fez diferença no seu parto, mas a protagonista de toda essa transformação e da busca de conhecimento, sem falar a força de estar ali naquele momento, fazendo o que tinha de ser feito, se entregando, com coragem para receber seu filho no mundo, foi você. Como você se vê depois desse parto?
S -
Até me emociona! Realmente, as mulheres que buscam informação ficam muito poderosas para esse momento porque já sabem tudo que o corpo delas vai passar. Elas sabem o que podem e conseguem fazer e sentir. E é muito louco porque eu realmente fui para esse parto me sentindo muito poderosa, dona de mim, do meu corpo, protetora do meu filho. Me senti muito forte, muito preparada. Foi uma experiência mágica. Dá até vontade de ter mais filhos para viver o parto de novo e ver como nosso corpo é perfeito. Tive um parto sem nenhuma laceração. No mesmo dia, tomei banho, estava ótima para andar, para fazer o que fosse preciso. Eu estava normal. Não foi um pós-parto em que você fica parecendo doente, como aconteceu nos meus anteriores. Do Pippo, porque foi uma cesárea, com um corte bem expressivo. Você fica bem limitada em movimento, sente dor, tem um certo cuidado, não pode pegar peso, não pode baixar, enfim. No da Domênica, por tudo que aconteceu e também porque fui violentada fisicamente também. Eu estava machucada, com dor, limitada, não conseguia ir ao banheiro direito, não conseguia pegar meus filhos. Nesse parto, fui tão dona de mim e do meu corpo, respeitei tanto a natureza, que consegui ter um bebê como se eu tivesse ido ao banheiro e voltado. Além de ter tido um parto rápido, não tive nenhum machucado, em nenhum lugar. É uma sensação muito boa, de que a gente é f*da mesmo, sabe? Desculpa o palavrão! O parto é sobre isso, sobre ser dona desse momento. Se você quiser, é claro, porque tem pessoas, como eu falei, que não querem, que têm medo dessa passagem e desse processo. Está tudo bem, mas acho que buscar informação ajuda, inclusive, a amenizar esse medo. Então, conhecimento é algo para buscar, independente de qual seja sua expectativa e qual a importância do parto para você.

C - Existe a chance de você mudar de ideia agora e ter mais filhos, então?
S -
Hoje, digo que não quero ter outro filho. Gosto de me entregar muito para os meus filhos e acho que se tivesse mais, não conseguiria fazer isso do jeito que gosto. Claro, cada mulher tem uma rotina. Amo trabalhar, tenho muito trabalho, graças a Deus, então, me divido entre o trabalho e as crianças. Hoje, acho que estou em um número ideal, mas nunca dá para dizer “nunca”. Meu marido vai fazer uma vasectomia, mas é um procedimento reversível. Ele também pode congelar espermatozoides. Posso fazer uma fertilização in vitro (FIV) no futuro. Mas, hoje, a nossa ideia é não ter mais filhos. Além da questão da entrega, também por uma questão financeira. Filho é caro, a gente quer dar tudo o que pode, então, é um lado que também pesa. Hoje nossa resposta é “não, de jeito nenhum, não teríamos outro filho”. Mas o fato de o lado racional não querer ter outro filho não tira o lado do instinto emocional de ter vontade de ter outro, né? Temos vontade, sim, mas não queremos.

Filippo e Domenica com o irmão caçula, Giuseppe — Foto: Arquivo pessoal/ Shantal
Filippo e Domenica com o irmão caçula, Giuseppe — Foto: Arquivo pessoal/ Shantal

C - Como foi tudo tão perfeito dessa vez, você chega a se questionar sobre isso de maneira retroativa? E se os seus primeiros partos tivessem acontecido dessa forma também, as coisas teriam sido diferentes? Ou o passado fica no passado?
S -
Não comparar as experiências que eu tive é impossível. A gente compara mesmo: “Caramba, poderia sim ter sido assim e tal”. Mas não tem como chorar o leite derramado. O que passou, passou, eu não vou ganhar nada em ficar remoendo isso. Muito pelo contrário. É uma história que gosto de esquecer.

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