Quando o teste de gravidez dá positivo, a mulher passa, muitas vezes, por uma série de mudanças de hábito, para garantir a sua saúde e a do bebê em desenvolvimento. E isso inclui ficar atenta às restrições alimentares. Isso porque certos alimentos e bebidas não devem ser consumidos durante a gestação. Será que o chimarrão, tão tradicional no sul do país, é um deles? Afinal, ele é feito com a infusão de erva-mate e tem uma concentração significativa de cafeína.
Segundo Alice Coca, nutricionista do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João��Amorim, a ingestão de chá não costuma ser recomendada na gestação. Isso ocorre porque vários tipos de chás, inclusive aqueles considerados inofensivos, podem provocar um aumento das contrações uterinas e aumentar o risco de aborto espontâneo. “Algumas substâncias presentes nos chás também podem afetar desenvolvimento neurológico dos bebês, principalmente nos primeiros três meses de gestação, quando é formado o tubo neural”, explica a especialista.
“O chimarrão é um tipo de chá, que tem uma quantidade muito grande de cafeína, então, não é muito recomendado, pois também pode aumentar os batimentos cardíacos, aumentando a perfusão sanguínea [fluxo sanguíneo] da mãe e diminuindo a perfusão sanguínea placentária”. Por essas razões, Alice não recomenda nenhuma quantidade de chimarrão para as gestantes.
Cafeína na gravidez
Uma pesquisa da Universidade de Rochester descobriu que o consumo de cafeína durante a gravidez pode alterar a formação de algumas regiões do cérebro, levando a problemas comportamentais leves na infância. Os pesquisadores analisaram resultados de ressonância magnética do cérebro de mais de 9 mil crianças de 9 e 10 anos em busca de mudanças estruturais e compararam os resultados com o consumo de cafeína na gestação declarado pelas mães.
Em nota, o neurologista John Foxe, autor do estudo, afirmou que as alterações observadas são pequenos. “A cafeína não causa condições psiquiátricas horríveis, mas provoca pequenos problemas comportamentais perceptíveis, o que nos leva a investigar mais a fundo os efeitos de longo prazo da ingestão de cafeína durante a gravidez", disse. “O resultado deste estudo é a recomendação de que, quando possível, é melhor evitar qualquer quantidade de cafeína durante a gravidez”, acrescentou.
Irritabilidade, dificuldades de atenção e hiperatividade são alguns dos problemas que os pesquisadores encontraram com mais frequência em crianças cujas mães consumiram cafeína durante a gestação. “O que torna esse estudo único é que conseguimos identificar alterações no cérebro na maneira com que a massa branca, que conecta regiões do órgão, se organiza nessas crianças. Porém, é importante ressaltar que dependemos do que as mães nos informaram sobre a quantidade de cafeína que se lembram de ter consumido durante a gestação. Como essas informações são baseadas na memória, não é possível afirmar que sejam 100% precisas”, afirmou Foxe.
Os pesquisadores ressaltam que não está claro se o impacto da cafeína no cérebro do bebê varia de um trimestre para o outro. "As diretrizes atuais sugerem limitar a ingestão de cafeína durante a gravidez a não mais do que duas xícaras pequenas de café por dia", disse Foxe. “A longo prazo, esperamos desenvolver uma orientação mais precisa para as mães, mas, por enquanto, elas devem consultar um médico de confiança quando tiverem dúvidas”, finalizou o cientista.