A foto da angolana Luzimira de Fátima Miguel de Carvalho João, de 42 anos, amamentando a filha emocionou muitas pessoas ao redor do mundo. A amamentação é uma jornada desafiadora para as mães. No entanto, para ela, conseguir amamentar seus filhos após uma mastectomia representou uma vitória ainda maior. “Costumo ver a [cicatriz da cirurgia] como uma marca que conta a minha história”, disse ela em entrevista exclusiva à CRESCER.
Aos 29 anos, Luzimira, de Luanda, foi diagnosticada com um tipo de câncer de mama conhecido como carcinoma ductal invasivo em estágio II. A descoberta veio à tona em 2011, após a identificação de um nódulo em sua mama direita. Na ocasião, ela não tinha muita informação sobre a doença, mas chegou a acompanhar o caso da apresentadora brasileira Ana Maria Braga, que já fez tratamento para diversos tipos de cânceres. “Vi um pouco da história dela pela televisão, desde o diagnóstico até a superação”, contou a angolana.
Luzimira lembra que, na época, receber seu diagnóstico foi como lidar com uma sentença de morte.“Eu estava com muitos projetos. Frequentava o terceiro ano de engenharia eletrônica em telecomunicações. Pelo impacto do tratamento, tive que parar de estudar para focar na minha saúde”, relatou. A angolana realizou uma cirurgia para remover o tumor e, com o progresso da doença, teve que passar por uma mastectomia e quimioterapia.
Além do abalo físico e emocional, a angolana ainda enfrentou dificuldades para fazer o tratamento em seu país, devido à falta de recursos. Ela tentou fazer radioterapia em Portugal, mas, por questões burocráticas, não conseguiu iniciar o tratamento, continuando o acompanhamento em seu país natal. Embora tenha enfrentado obstáculos no caminho, Luzimira conseguiu vencer os desafios da doença e está em remissão há 12 anos.
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O recomeço
Após a luta contra o câncer, Luzimira iniciou uma nova jornada com a chegada de seu primeiro filho, fruto do seu relacionamento com seu marido Miguel Manuel João. Ao longo de sua gestação, ela ficou apreensiva. Afinal, havia apenas quatro anos que havia encerrado o tratamento contra câncer e já estava com 34 anos. Diante desse cenário, ela decidiu se mudar para Portugal para ter um melhor acompanhamento.
A angolana chegou ao país com seis meses e passou por uma gestação bem conturbada. Com 32 semanas, já começou a ter contrações, mas o parto só ocorreu com 41 semanas, após uma cesárea. O pequeno Wayami Uriel também entrou em sofrimento fetal e contraiu uma infecção, precisando ficar internado por sete dias no hospital. Nesse período, Luzimira também contraiu uma bactéria e ficou mais um mês internada com uma infecção generalizada. “Fiquei muito triste! Pensei que não sairia viva daquele hospital e achei que não era justo depois de já ter tido câncer”, desabafou.
Luzimira superou suas dificuldades, porém, os desafios não pararam por aí! Embora tivesse apenas uma mama, ela optou por amamentar seu bebê e, ao longo do processo, desenvolveu uma mastite.Três anos depois, a mãe engravidou da segunda filha e também decidiu amamentá-la. “Mesmo com apenas uma mama, amamentei meus filhos até os dois anos”, contou a angolana. “É um elo de ligação muito forte. Ficava muito cansada, mas também agradecida por aquele momento. Era sublime. Ali encontrei forças!”, afirmou.
A mãe ainda conta que não fez a reconstrução da mama e, por isso, sofria com algumas dores durante a amamentação, principalmente na coluna. “Qualquer movimento que não fosse bem controlado acabava gerando dores, então, foi difícil, mas, ao mesmo tempo, prazeroso e desafiador”. Para a angolana, seus filhos Wayami Uriel, hoje com 8 anos, e Michelle de Fátima, de 5 anos, são a sua principal força. “Nasci para a maternidade. Independentemente do que venha viver. Meus filhos são minha coragem e motivação para seguir adiante com gratidão”, ela destacou.
Hoje, Luzimira luta para apoiar outras mulheres com câncer. Como ativista social, é presidente da Liga Angolana Contra o Câncer e vice-presidente da Associação Lusófona, para a promoção da literacia em saúde oncológica, sediada em Lisboa-Portugal. Ela também escreveu o livro Olhar Para A Luz, contando sua história. Ao dividir sua jornada, a angolana espera inspirar outras mulheres. “A vida não termina, necessariamente, com um diagnóstico. É possível nos redescobrirmos a partir de uma adversidade. O cancro (câncer) não precisa ser necessariamente uma sentença de fim de vida, porém, pode ser o começo ou recomeço de uma nova vida, marcada por momentos e cicatrizes que espelham a nossa luz, resiliência e amor-próprio”, finaliza.