O que fazer quando a criança não quer comer pela manhã?

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Seja qual for a razão que motiva o seu filho a não querer comer pela manhã, a verdade é que diversos estudos já demonstraram os prejuízos que isso pode trazer para a saúde infantil. Uma pesquisa realizada pela Universidade Castilla-La Mancha, de Cuenca, na Espanha, com a participação de 3772 crianças, apontou que não tomar café da manhã aumenta em três vezes a chance de os pequenos desenvolverem problemas comportamentais durante a infância e adolescência, como estresse, depressão, ansiedade ou sofrimento psicológico, do que aquelas que comiam ao acordar.

Isso sem contar que começar o dia de estômago vazio – e, por consequência, sem energia – pode levar a uma queda de rendimento e atenção, especialmente nas primeiras horas dentro da sala de aula, antes do recreio. Uma pesquisa com 500 educadores realizada na Inglaterra chegou à conclusão de que 72% deles percebem uma diferença significativa entre os alunos que tomam café da manhã em comparação aos que não tomam. A análise foi encomendada pela Warburtons (empresa de panificação) em parceria com a ONG Magic Breakfast, para destacar a importância do desjejum e fornecer mais de 1 milhão de refeições matinais para crianças que enfrentam insegurança alimentar no país.

De acordo com a pediatra do Fleury Medicina e Saúde, a alimentação correta pela manhã não só está relacionada apenas a um estilo de vida saudável, mas também se refere a uma aquisição adequada de nutrientes e energia, que tem consequências na saúde mental das crianças, em suas funções cognitivas e até mesmo na prática de exercícios ao longo do dia. "A inclusão de proteínas [como ovos, leite, iogurte e queijos, por exemplo] nessa refeição ajuda a reduzir o apetite e a controlar o ganho de peso. Outros alimentos – como pães, aveia e frutas – repõem as reservas de carboidratos, para que a criança tenha disposição e possa praticar atividades físicas diariamente, o que leva a hábitos de vida mais saudáveis", afirma Patrícia Tosta.

Segundo Laura Lorencini, nutricionista materno-infantil da clínica Estima Nutrição, de São Paulo, os nutrientes fundamentais que não podem faltar na primeira refeição do dia, por conta da fase de crescimento infantil, são: ferro, cálcio, zinco, vitamina C e vitamina D. "Os principais alimentos que devemos oferecer para as crianças são os in natura, como as frutas e até mesmo verduras, se possível, além de cereais, sementes e gorduras boas, sempre na quantidade adequada de acordo com o peso, a altura e a idade da criança", indica a especialista.

Veja dicas para um café da manhã gostoso e nutritivo para crianças a partir de 2 anos, sugeridas por Martha Amodio, nutricionista clínica e funcional de São Paulo:

• 1 pote de iogurte natural com fruta + pão integral com abacate (é só amassar com temperinhos naturais e passar no pão)
• 1 porção de fruta da época + 1 ovo mexido com ervas e/ou verduras, como tomatinho e orégano + 1 xícara de bebida vegetal (à base de coco ou castanhas) ou leite de vaca com cacau
• 1 porção de fruta da época + 1 pão integral com ricota temperada, creme de ricota ou queijo cottage temperado + 1 xícara de bebida vegetal ou leite de vaca com cacau
• 1 xícara de bebida vegetal ou leite de vaca com cacau + 1 pão integral com manteiga + 1 porção de fruta da época com psyllium (salpicar em cima da fruta)
• 1 porção de fruta da época + 1 ovo mexido com 1 colher (sopa) de aveia em flocos finos e temperos/verduras (cenoura ralada e salsinha/cebolinha) + 1 xícara de bebida vegetal com cacau

Agora que você já sabe os benefícios que a primeira refeição do dia trazem para a saúde dos pequenos — e até mesmo o que vale incluir no cardápio infantil — pode estar se perguntando: como faço meu filho adquirir esse hábito? Antes de mais nada, é importante deixar claro que o desjejum precisa do envolvimento da família toda. “O ideal é acordar as crianças mais cedo e, para tanto, os pais precisam acordar mais cedo ainda. Assim, todos podem dedicar pelo menos meia hora ao café da manhã”, aconselha Martha Amodio.

Os especialistas consultados pela CRESCER pontuaram outras mudanças que são fundamentais para transformar a rotina das crianças à mesa logo pela manhã, deixando esse momento mais prazeroso e saudável. Veja abaixo algumas dicas:

• Variedade nutricional: ofereça novos alimentos e mude a carinha daqueles que o seu filho não gosta tanto. Muitas vezes, uma pequena alteração na forma como determinados alimentos são apresentados às crianças faz com que elas ingiram coisas que estavam sempre recusando;
• Ambiente acolhedor: os pequenos precisam ter um local que seja convidativo, para saber que ali é o cantinho de eles comerem e começarem bem o dia. Evite ligar a televisão e celulares ou outros brinquedos que possam distraí-los — o foco deve estar na refeição;
• Dieta equilibrada: evite excessos de açúcar e alimentos ultraprocessados, que não trazem benefícios à saúde e ainda podem viciar o paladar infantil. Mantenha uma dieta com proteínas, ferro, vitaminas e minerais, que seja saudável e saborosa ao mesmo tempo;
• Envolvimento: sente-se e tome café da manhã com seu filho. O exemplo de te ver comendo poderá fazer com que o pequeno também queira provar novos sabores. Além disso, o hábito de comer em família é, ainda, uma oportunidade para estreitar laços e manter um diálogo com a criança. Lembre-se: você não precisa de uma mesa de café da manhã “de hotel” para estar perto, acolher e criar uma rotina saudável em familia;
• Preparo em conjunto: na cozinha, seu filho tem a oportunidade de manipular alimentos com texturas, cores e temperaturas diferentes, sentir odores e sabores e, no final, ver o resultado do preparo, o que traz grande satisfação. Então, que tal convidá-lo para ajudar a preparar algo de que ele goste logo cedo?;
• Conversas sinceras: conforme a criança for crescendo e tendo um maior grau de compreensão, explique a importância de ela se alimentar pela manhã de forma adequada. Os pequenos são curiosos, por isso, aproveite para esclarecer as dúvidas que eles tiverem sobre os alimentos, ressaltando os benefícios de uma rotina saudável.

Fontes: Patrícia Tosta, pediatra do Fleury Medicina e Saúde; Laura Lorencini, nutricionista materno-infantil da clínica Estima Nutrição; Martha Amodio, nutricionista clínica e funcional de São Paulo; Daniela de Melo Miranda Gonçalves, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana; Nelson Douglas Ejzenbaum, médico pediatra e neonatologista e membro da Academia Americana de Pediatria