Moises Chencinski - Eu Apoio Leite Materno

Por Moises Chencinski

Autor da coluna "Eu apoio leite materno"

 


Todos os dias, recebo notícias e estudos sobre leite materno no Brasil e no mundo. Isso pode ser programado no Google e chegam em e-mails separados. Nesta semana, em um único desses e-mails, eu recebi 11 notícias e elas eram divididas em apenas três temas.

Duas das notícias, em especial, bombaram e eu vou abordar nesse texto. Os temas não são novos, mas pela rotatividade do público que nos acompanha, e pela relevância, vale o destaque e o “repeteco”.

Na Carolina do Sul (EUA),  apenas 55,1% dos bebês negros são amamentados  (Foto: Getty Images) — Foto: Crescer
Na Carolina do Sul (EUA), apenas 55,1% dos bebês negros são amamentados (Foto: Getty Images) — Foto: Crescer

Benefícios do leite materno para mães e bebês

Os artigos apontam para a composição do leite materno com vitaminas, minerais, anticorpos que mudam durante o tempo para se adequar às necessidades dos bebês. Essa natureza dinâmica faz do leite humano um “medicamento personalizado”, que leva a benefícios que são conhecidos (menores riscos de infecções de ouvido e gastrintestinais). Entre outras vantagens comprovadas para a saúde do lactente (bebês que são amamentados), a proteção contra asma, obesidade e sobrepeso, diabetes tipo 1 e infecções respiratórias graves costumam ser ressaltadas.

Mas, segundo um grupo de profissionais (Mocha Mamas Milk) com foco em melhorar a taxa de amamentação entre famílias negras da Carolina do Sul (EUA) – estado onde apenas 55,1% dos bebês negros são amamentados em comparação com 75, 2% das crianças brancas – há informações importantes que nem sempre são transmitidas de acordo com sua relevância:

- Estudo publicado na Pediatrics (publicação oficial da Academia Americana de Pediatria) comprova que o aleitamento materno por pelo menos dois meses, exclusivo ou não, reduz pela metade o risco de Síndrome de Morte Súbita Infantil, às vezes chamada de “morte no berço” (morte inexplicável de um bebê, geralmente com menos de um ano de idade).

- Bebês prematuros (os que nascem antes de 37 semanas de gestação) que recebem leite humano estão muito mais protegidos de desenvolverem um quadro conhecido como enterocolite necrotizante (que acontece entre 5 e 15% deles), que pode ser fatal, conforme demonstram pesquisas sobre o tema.

Mas, além dessas questões relacionadas aos bebês, as lactantes (mães que amamentam) também podem se beneficiar dessa prática:

- Segundo pesquisas, a amamentação por qualquer período, em comparação com a não-amamentação, está associada a uma diminuição de 10% dos casos de um determinado tipo de câncer de mama (receptores hormonais negativos, que costumam evoluir mais rapidamente do que os de receptores positivos). E quando se comparam as incidências do ponto de vista racial, as mulheres negras têm maior probabilidade de apresentarem esse tipo de câncer (receptores hormonais negativos), com prognósticos piores. Além disso, mulheres negras apresentam 40% mais probabilidade de morrer de câncer de mama, mas menores chances de diagnósticos.

- A depressão pós-parto tem sido diagnosticada cada vez com mais frequência. Um estudo recente mostra que quanto mais tempo uma mulher amamenta, menores as chances desse quadro depressivo.

De acordo com dados do Boletim de Amamentação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, (CDC, na sigla em inglês), dos Estados Unidos,, 83% dos bebês recebem leite humano desde a maternidade, 78,5% qualquer tipo de aleitamento com um mês de vida. Aos seis meses, 55,8% recebem leite humano, mas apenas cerca de 25% mantêm o aleitamento materno exclusivo ao final do primeiro semestre de vida.

Licença-maternidade e duração do aleitamento materno

No Brasil, a licença-maternidade é de 120 dias, exceto em alguns serviços públicos e em Empresas Cidadãs, nas quais ela atinge os 180 dias. No Brasil, cerca de 40% das mulheres que trabalham estão em serviços informais, ou seja, sem direitos trabalhistas, entre eles, a licença-maternidade. Nos Estados Unidos, não há licença-maternidade remunerada nacional e esse fato é considerado relevante para as baixas taxas de aleitamento materno exclusivo no país.

Uma revisão sistemática publicada no jornal científico Obstetrics & Gynecology estudou esse fato nos EUA e concluiu que há uma relação positiva direta entre duração de licença-maternidade e a duração da amamentação.

Mais uma vez, o prejuízo maior aconteceu nas populações de mães negras ou hispânicas que tiveram suas taxas de aleitamento materno exclusivo menores do que as mães brancas, mesmo tendo recebido licenças-maternidade iguais. Os pesquisadores concluem que os profissionais de saúde e as partes interessadas devem defender uma política de licença parental remunerada (sem nenhuma regulamentação no Brasil) mais longa.

Dados do estudo demonstraram que cada semana a mais de licença-maternidade remunerada correspondia a quatro dias a mais de amamentação e o retorno ao trabalho antes dos três meses pós-parto aumentavam o risco de desmame precoce.

Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, é fundamental a redução de barreiras, entre elas as relacionadas ao trabalho, para reprimir as disparidades raciais na amamentação. Um estudo realizado na Califórnia comprovou que investir em licenças familiares remuneradas poderia aumentar as taxas de aleitamento materno exclusivo até o sexto mês em pelo menos 15%.

A amamentação tem um dos maiores retornos sobre o investimento quando comparada a qualquer atividade de desenvolvimento: cada dólar investido em intervenções de amamentação rende cerca de 35 dólares em ganhos econômicos.

Entre os 37 Ministérios atuais no Brasil, pelo menos 20 podem se envolver nessas questões e ter sua parcela de responsabilidade para uma ampla movimentação e transformação da política nacional em relação ao aleitamento materno: Cidades / Ciência, Tecnologia e Inovação / Comunicações / Cultura / Desenvolvimento, Indústria e Comércio / Desenvolvimento Social / Direitos Humanos e Cidadania / Educação / Fazenda / Gestão e Inovação em Serviços Públicos / Igualdade Racial / Integração Nacional / Justiça e Segurança Pública / Mulheres / Planejamento / Povos Indígenas / Previdência / Relações Institucionais / Saúde / Trabalho.

E além desses, mais 17 como “rede de apoio”. Será que isso não basta? Será que precisamos de um Ministério do Aleitamento Materno?

Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal
Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal

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