Recém-nascido
 
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À princípio, o termo científico “disquesia do lactente” pode assustar os pais de primeira viagem. E os sintomas também: o bebê fica vermelho, irritado, chora muito e parece se contorcer de dor ao tentar evacuar. A angústia de ver o pequeno nessa situação pode desesperar a família, mas antes de correr para o pronto atendimento, muita calma. Esse é um quadro comum em bebês, não é uma doença e, felizmente, passa com o tempo. Mas isso não quer dizer que não deva ser olhada com atenção, né?

Bebê deitado chorando; Disquesia do lactante — Foto: Freepik
Bebê deitado chorando; Disquesia do lactante — Foto: Freepik

“A disquesia é considerada um distúrbio, uma desordem funcional, ou seja, é quando a criança tem os sintomas, mas não temos nenhuma base anatômica ou bioquímica que explique isso. Se fizéssemos exames, não encontraríamos nada. Então é um bebê que faz muita força para fazer cocô e se esforça, chora, grita, fica vermelho e, quando finalmente evacua, é um cocô normal, explica Cristina Targa, gastroenterologista pediátrica e presidente do Departamento Científico de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Mas então, por que isso acontece? A verdade é que o bebê não nasce pronto. Ele possui uma imaturidade do funcionamento intestinal e vai se desenvolvendo com o tempo, uma vez que ainda não sabe coordenar a força na barriga com o relaxamento da musculatura pélvica e a abertura do esfíncter para eliminar as fezes. Por isso, acabam mais suscetíveis aos distúrbios gastrointestinais funcionais, que acometem de 15 a 30% dos lactentes, como prisão de ventre, cólicas e distensão abdominal.

No caso específico da disquesia, é uma parcela menor: segundo documento da Rome Foundation (organização de médicos especialistas que tem como objetivo estudar os distúrbios gastrointestinais funcionais no mundo todo), um estudo populacional mostrou que a disquesia estava presente em 3,9% dos bebês de 1 mês e em 0,9% dos lactentes de 3 meses, ou seja, é possível que o distúrbio vá diminuindo sua incidência com a idade.

Na maioria dos casos, logo o sistema do bebê amadurece sem nem precisar de medicação, tratamento e todo esse sofrimento passa a ser só uma lembrança ruim do início de vida. No mais, banhos quentinhos, bolsas térmicas com sementes, massagens e exercícios de dobrar as perninhas podem aliviar as dores em casa.

O mais comum é que a disquesia se resolva com o tempo e vá embora sem deixar sequelas. Mas é claro que, diante de um prolongamento dos sintomas ou piora do quadro, vale sempre consultar o pediatra para entender se, além desse distúrbio, pode estar acontecendo outra questão gastrointestinal concomitante.

“Primeiro, mantenha a calma. Depois, olhe o seu bebê, cheque se ele está crescendo, se alimentando, se desenvolvendo, se tem os horários de sono dele. Trata-se de uma imaturidade que vai passar. E lembre-se também de não se culpar, né? Porque é normal do recém-nascido. Brinco que os bebês são muito bons, eles aprendem rápido, mas essa coordenação toda demora um tempinho mesmo e temos que ter a paciência de esperar esse amadurecimento”, conclui a gastroenterologista pediátrica.

A seguir, tire todas as suas dúvidas sobre a disquesia e acalme seu coração. Vai passar!

O que é disquesia do lactente?

É um distúrbio (ou desordem funcional) do trato gastrointestinal que afeta bebês, geralmente, abaixo dos 6 meses, ou seja, que só se alimentam de leite materno ou fórmula. Por isso, o “lactente” do nome. É caracterizado principalmente por uma dificuldade de evacuar que traz uma combinação de sintomas recorrentes [veja abaixo]. Costuma ser passageiro e ligado ao desenvolvimento gastrointestinal do recém-nascido.

Quais são as causas?

A disquesia não é uma doença e não costuma estar associada a questões graves de saúde. “Na verdade, é uma imaturidade de funcionamento: ele não sabe ainda coordenar a força na barriga (prensa abdominal) com o relaxamento do esfíncter e com a força que dá movimento ao assoalho, que fica no intestino. Então, o que ele faz? Ele se espreme todo e, ao se contrair, contrai também o ânus, fazendo uma força contrária. Não relaxa, não consegue fazer cocô e chora”, conta a médica, uma das autoras do livro Manual de residência em gastroenterologia pediátrica.

Com quantos meses é mais comum acontecer?

Geralmente, acomete os bebês no primeiro mês de vida. “Antes se dizia que podia ser até os 6 meses, agora se diz até os 9 meses, mas o mais comum é entre 1 e 4 meses, quando o sistema está bem imaturo ainda”, pontua Cristina. Segundo a SBP, ele pode acontecer tanto com bebês que tomam leite materno, quanto fórmula. “Às vezes, pode se ligar a alergia à proteína do leite de vaca, mas tem crianças que tiram o leite da mãe ou trocam a fórmula e não adianta nada”, diz a especialista.

E assim como outras questões gastrointestinais, como as cólicas, a disquesia também não acomete todos os recém-nascidos ou possui um padrão de recorrência. Pode, sim, acontecer toda vez que um bebezinho quer evacuar, assim como pode ser de vez em quando ou nunca chegar a acontecer para algumas crianças.

Quais os principais sintomas?

Muito choro, irritabilidade, rostinho vermelho, tensão e muita força abdominal. Costuma acontecer logo após as mamadas (por causa do reflexo gastrocólico, em que a comida cai no estômago e já desencadeia a motilidade intestinal) e durar de 10 a 20 minutos, resultando em alívio depois de conseguir evacuar fezes normais — no caso do bebê que só mama no peito, costuma ser mais amolecida, amarelada e com gruminhos.

Vale sempre lembrar que este é um quadro momentâneo, que impacta o bebê dessa maneira apenas quando ele quer evacuar e não consegue. Caso os sintomas persistam, sejam frequentes, tragam distensão abdominal ou o bebê não esteja ganhando peso, é fundamental procurar avaliação do pediatra, ok?

Como é feito o diagnóstico da disquesia?

De acordo com os critérios do Roma IV (as diretrizes mais atualizadas), o diagnóstico para menores de 9 meses de idade é feito sob dois parâmetros centrais:

  • Não ter outros problemas de saúde.
  • Ficar, pelo menos 10 minutos, tentando fazer força e chorando, antes de conseguir ou não conseguir evacuar.

O pediatra pode, ainda, questionar sobre a alimentação do bebê, seu histórico médico e de crescimento, realizar exames de rotina, além de, eventualmente, certificar-se de que não haja nenhuma anormalidade anorretal.

Como diferenciar a disquesia de outros problemas?

Como as questões gastrointestinais podem apresentar sintomas semelhantes, muitas vezes os pais podem confundi-los e iniciar um tratamento que nada tem a ver com a condição real de seu bebê.

Por isso, diante de dor intensa, peso abaixo do esperado, distensão abdominal, choro prolongado ou desconforto que esteja prejudicando a rotina, nada de medicar a criança sozinha ou recorrer a crendices. Procure o pediatra, que saberá diferenciar a disquesia das outras doenças, distúrbios e malformações congênitas, tais como cólicas, refluxo, constipação, obstrução intestinal e alergias, comuns nessa fase da vida do bebê.

“Nós, pediatras, temos que saber, examinando a criança no consultório, ouvindo toda a história, vendo o que que está acontecendo e, principalmente, observando o estado geral, o ganho de peso e como é que está essa criança em outros momentos do dia”, explica Cristina.

Disquesia x cólica

Uma das diferenças da disquesia com a cólica (uma das questões mais comuns aos bebês), por exemplo, é que a primeira tende a se resolver com a evacuação e é passageira. Já a cólica pode render episódios de choro e desconforto por mais tempo, além de poder se estender para além dos primeiros três meses.

Existe um tratamento para a disquesia?

Não existe um tratamento específico, afinal, trata-se de uma condição passageira e característica de alguns bebês no comecinho da vida. Há, no entanto, a possibilidade de fazer o manejo dos sintomas e aliviar as dores em casa. Os pais podem ninar o bebê, fazer massagens abdominais, movimentos dobrando as pernas até a barriga ou como “bicicletinha”, banho quente e compressa com bolsa térmica de sementes.

“Isso não tem problema nenhum de fazer, mas não dê remédios e não use supositórios ou manipulação anal”, diz Cristina. Segundo a SBP, esse tipo de estímulo na região pode até surtir efeito num primeiro momento, mas a criança pode se acostumar a evacuar somente assim. “Se ficamos ajudando, acabamos atrapalhando o tempo dela e ela faz apenas um reflexo. Não aprende a fazer força no lugar certo, na hora certa, e isso precisa acontecer aos pouquinhos”, explica a gastropediatra.

No mais, Cristina assegura que é fundamental que os pais também tenham confiança no diagnóstico e calma na hora de cuidar de um bebê com tais sintomas. “Se ele dá uma forçadinha, chora, mas depois faz o cocô e a mãe conta que ele se alivia, isso é muito importante. Outro ponto é que tem pais que sempre querem dar medicação, mas quanto menos remédio nessa idade, melhor”, diz a médica.

Então, se vocês levaram ao pediatra, já foram descartadas outras questões gastrointestinais, e o bebê segue saudável e ganhando peso mesmo com o chororô, então resta se acalmar, aliviar as dores com as táticas que sugerimos e ter paciência, porque vai passar!

Faz sentido adiantar a introdução alimentar?

Alguns pais se desesperam diante do choro e optam por interromper a amamentação exclusiva ou iniciar antes do previsto a introdução alimentar, na esperança de que frutas ou chás possam ajudar o pequeno a evacuar. Mas isso não é necessário, viu?

Lembre-se de que, por mais que existam casos em que se pode dialogar com o pediatra e adiantar um pouquinho a introdução de algumas comidas, o recomendado pela SBP é apenas a partir dos 6 meses. “Não há relatos na literatura médica de que a introdução mais precoce da alimentação acabe com a disquesia. Pelo contrário, tem bebês que, quando começam a comer, podem até ficar constipados. O funcionamento intestinal é bem variável de uma criança para outra”, diz a médica.

Mas quanto tempo demora para a disquesia passar?

Se, de fato, for uma disquesia, a maioria dos bebês costuma responder espontaneamente depois de 1 mês, embora possa se prolongar um pouco mais em alguns casos, até por volta de 4 meses. “Não acontece nada de mais grave e a criança vai ficar boa com o tempo e com a maturidade dela”, conclui a médica. Geralmente, a disquesia não gera consequências nem traumas na região anal, como muitos pais temem. Obviamente, se fugir muito deste tempo estipulado ou a criança tiver uma piora do quadro, é preciso rever o diagnóstico e levantar outras possibilidades do que pode estar acontecendo.

Fontes: Cristina Targa, gastroenterologista pediátrica e presidente do Departamento Científico de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); Documento “Childhood Functional Gastrointestinal Disorders: Neonate/Toddler”, retirado do Rome IV; Conteúdo “Disquesia”, da Sociedade Brasileira de Pediatria

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