Malu Gaspar
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O Ministério da Saúde nomeou na última quarta-feira (19) para a coordenação do setor de atenção à saúde na rede federal do Rio um servidor ligado aos governos Jair Bolsonaro e Michel Temer cuja indicação vinha sendo combatida por setores do PT. A decisão da gestão da ministra Nísia Trindade é um recuo do próprio ministério, que tentou indicar o mesmo servidor em abril para um cargo no cobiçado Departamento Geral de Hospitais (DGH) fluminense, mas teve que reconsiderar por causa da resistência de alas do partido.

Para estes setores, Allan Barreto Pereira, agente administrativo do Ministério da Saúde desde 2010, é ligado ao grupo político que deu as cartas na rede federal fluminense durante as gestões dos ministros Ricardo Barros e Gilberto Occhi (governo Temer) e Marcelo Queiroga (Bolsonaro). Foram administrações marcadas pela presença do Centrão no segundo e terceiro escalão, que tem feito carga junto ao Planalto para voltar a ocupar o ministério.

Enquanto não consegue, o grupo tem ampliado sua influência sobre a gestão de Nísia, brigando para controlar o orçamento da pasta, que é o maior da Esplanada dos Ministérios. O DGH sozinho tem um orçamento de R$ 860 milhões para 2024.

Como publicamos no blog no ano passado, o bombardeio sobre Nísia está intimamente ligado à distribuição de emendas para deputados.

Além disso, a ministra também enfrentou desgaste na gestão da rede federal do Rio, em pé de guerra desde que uma reportagem do “Fantástico”, da TV Globo, revelou as más condições dos hospitais federais fluminenses e o apadrinhamento político na rede.

O servidor nomeado agora por Nisia já foi demitido por ela mesma em janeiro de 2023, assim que assumiu o ministério. Ele esteve para ser voltar em abril deste ano, quando a equipe do blog apurou que a nomeação dele para um cargo equivalente ao de “vice-coordenador” do DGH havia sido encaminhada pelo departamento à cúpula do Ministério da Saúde, movimentação registrada no Sistema Eletrônico de Informações (SEi) do governo federal.

Na ocasião, nós questionamos o Ministério da Saúde sobre os critérios da nomeação e sobre o vinculo com o Centrão, assim como as razões de ele ser readmitido para o mesmo departamento do qual havia sido exonerado 15 meses antes.

Em resposta, a Saúde informou que Pereira não seria nomeado porque sua indicação pelo DGH não havia sido acatada pela ministra , sem fornecer maiores explicações.

Agora, pouco mais de dois meses depois, a ministra assinou a nomeação de Pereira, agora para o cargo de coordenador titular. A nomeação foi oficializada no Diário Oficial da União (DOU) da última quinta-feira (20).

Perguntamos então ao Ministério da Saúde o que mudou desde abril. A assessoria de imprensa não respondeu. Apenas afirmou que a escolha foi “fundamentada em critérios técnicos”.

O ministério também não respondeu se o histórico de Pereira nos governos Temer e Bolsonaro foi levado em conta na nomeação e nem se o servidor foi indicado por parlamentares para o cargo.

Procurado pela equipe da coluna, Allan Barreto Pereira afirma que nunca teve “nenhuma indicação política ou filiação” por onde passou.

“Trabalho no quadro do Ministério da Saúde desde que entrei em exercício [como servidor, em 2010] e estive em cargos de várias gestões”, afirmou Pereira, classificando como “injustiça” o recorte de sua trajetória em governos anteriores.

A nomeação incomodou militantes do PT ligados à saúde, que já havia manifestado insatisfação com a escolha de outro integrante do mesmo grupo político, nomeado coordenador de Compras e Contratos da rede federal fluminense, Manoel Roque, que tem como base política a cidade de Mesquita (RJ), também na Baixada Fluminense.

Como publicamos no blog em maio, Roque integrou o governo de Wilson Witzel e chegou a se lançar pré-candidato a prefeito com o apoio do então governador, na época já afastado do cargo pela Justiça. Ele foi citado em investigações do Ministério Público Federal sobre supostos esquemas de corrupção ligados ao empresário Mário Peixoto, motivos pelos quais sua indicação causou perplexidade entre petistas.

Segundo fontes do PT do Rio, o grupo de Barreto tenta expandir o poder sobre a rede federal nos moldes da gestão de Ricardo Barros e Gilberto Occhi, quadros do PP do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (AL), que já atuou para derrubar Nísia e é crítico do modelo de gestão das emendas carimbadas da pasta adotado pela ministra.

Na época, os hospitais fluminenses estavam na cota do então deputado Simão Sessim (PP), morto em 2021. Com a volta de Lula ao Planalto, o grupo tenta voltar por meio do próprio PT.

Um dos exemplos é a filiação do filho e sucessor político de Simão, Sérgio Sessim, ao partido de Lula para disputar a prefeitura de Nilópolis (RJ), na Baixada Fluminense, reduto de boa parte dos integrantes do grupo.

É também o caso de Alessandro Magno Coutinho, diretor do DGH no governo Temer nomeado por Barros e atualmente secretário do Trabalho na prefeitura de Maricá (RJ), região metropolitana do Rio e principal reduto do PT no estado.

Capa do audio - Malu Gaspar - Conversa de Bastidor
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