Malu Gaspar
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O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Domingos Brazão, denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), organizou um almoço com aliados, incluindo um procurador da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), para discutir o avanço as investigações do caso um dia antes da sua prisão, em março.

A informação consta no relatório complementar da Polícia Federal (PF) sobre o caso Marielle, apresentado nesta quinta-feira (23) ao ministro Alexandre de Moraes, que é o relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).

O encontro ocorreu em um restaurante na cidade de Niterói (RJ), na Região Metropolitana do Rio, no dia 23 de março e contou com a presença de Rodrigo Lopes Lourenço, procurador da Alerj, e Robson Calixto Fonseca, assessor de Brazão conhecido como Peixe que teria intermediado o contato entre o conselheiro do TCE-RJ e Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle.

Àquela altura, já circulavam rumores de que Lessa havia implicado Domingos Brazão em sua delação premiada firmada com a PF e homologada pelo Supremo.

Os delegados do caso Marielle, porém, não arriscam dizer que Brazão estava trabalhando para obstruir a investigação ou se eles tinham alguma informação sobre a operação que seria feita contra eles.

O encontro entrou na mira da apuração da PF depois que os investigadores extraíram do celular do conselheiro do TCE um áudio encaminhado à sua mulher, Alice Kroff, em que descrevia a reunião e os participantes.

“Muito bom, muito bom, ai, ai. Nós estamos almoçando aqui em Niterói. Dr. Rodrigo, Kelvin, eu e o Peixe [estamos] comendo um bacalhau. Viemos a Portugal sem pegar avião”, afirmou Domingos Brazão, segundo o relatório.

A PF concluiu que o assunto do almoço era a investigação porque, durante o encontro, Brazão encaminhou ao procurador da Alerj e seu advogado diversas reportagens sobre o caso Marielle. Numa delas, o título é “PM acusado de matar Marielle buscou políticos de esquerda, promotores e jornalistas na internet".

Mensagens para aliados

Além disso, Brazão também enviou mensagens para políticos do estado, como o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar (União Brasil) e o ex-deputado Eduardo Cunha (PRD), além do próprio irmão, Chiquinho Brazão. Brazão também enviou mensagens para o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que não respondeu.

O conselheiro do TCE é aliado próximo de Bacellar. Na sua posse no comando da Alerj, em fevereiro de 2023, o presidente da Assembleia fez questão de agradecer nominalmente Domingos Brazão, a quem chamou de "amigo de tantos anos" e "grande conselheiro do Tribunal de Contas", pela sua eleição.

Já Cunha pertence ao mesmo grupo político dos irmãos Brazão. No passado, quando ainda eram filiados ao então PMDB, a dupla fez dobradinhas para a Alerj e a Câmara dos Deputados. Paes, por sua vez, empregou Chiquinho Brazão como secretário de Assistência Social até fevereiro deste ano, quando o agora denunciado pelo assassinato de Marielle pediu exoneração.

Nas mensagens, ele também enviou links para reportagens sobre o caso Marielle.

No relatório, o delegado Guilhermo Catramby afirma que "não é possível extrair de tais recortes eventual tentativa de embaraçar as investigações em andamento naquele momento".

Dizem, porém, que os contatos chamaram a atenção dos investigadores porque o delegado Giniton Lages, outro alvo da investigação que não chegou a ser preso, afirmou em seu depoimento que, dois dias antes da operação que prendeu os Brazão, um intermediário de Domingos o procurou e disse que o conselheiro do TCE precisava se encontrar com ele com urgência. À PF, porém, Giniton disse que não aceitou se reunir com Brazão.

Domingos, o irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e o ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa foram denunciados no último dia 9 pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como mandantes da execução de Marielle. Os irmãos e o assessor Robson Calixto, o Peixe, também foram denunciados por organização criminosa.

O conselheiro do TCE, o irmão e deputado Chiquinho e o delegado Rivaldo Barbosa acabariam presos menos de 24 horas após o almoço em Niterói pela Polícia Federal na manhã de 24 de março, no domingo. No mesmo dia, os três foram levados para a Penitenciária de Segurança Máxima da Papuda, em Brasília.

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