Os desfiles de Pharrell para a Louis Vuitton continuam ficando mais ambiciosos

Quando o sol apareceu por entre as nuvens de chuva, logo ficou aparente como Pharrell organizou sua homenagem: em um espectro de tons de pele combinados com roupas monocromáticas correspondentes. “Do preto ao marrom escuro, passando pelo marrom, marrom claro, bege, um pouco de cinza. Depois chegamos ao bege claro e finalmente ao branco”, disse Pharrell sobre a fila de modelos. “Não sei se vocês perceberam isso”, acrescentou.

Era difícil não perceber. O terno de abertura foi feito do mais escuro dos veludos formais, enquanto o look 66 era um casaco de seda. Entre esses dois, a visão alto luxo de Pharrell passava por um gradiente multicultural. Nos bastidores, Pharrell disse que estava pensando na Olimpíada, cujos preparativos paralisaram partes de Paris antes da cerimônia de abertura do próximo mês.

“Se você é a pessoa mais rápida nesta Olimpíada, então você é a pessoa mais rápida pelos próximos quatro anos. Mas, a menos que haja humanos pelo sistema solar, você é praticamente a pessoa mais rápida do sistema solar”, refletiu Pharrell. O desfile foi seu tributo à excelência e conexão humanas: “Como podemos mostrar ao mundo o quanto somos gratos e como somos belos como espécie, do mais negro dos negros ao mais branco dos brancos?”

Já que esta é uma produção de Pharrell, havia uma orquestra completa vestindo ternos personalizados da marca, e o coro gospel Voices of Fire estava usando roupas xadrez Damier para cantar a trilha sonora cinematográfica composta por Pharrell, Triumphus Cosmos.

A entrada de Carpenter alimentou especulações momentâneas de que ela e Pharrell estreariam uma música juntos durante o desfile, como o hitmaker fez com Mumford & Sons em janeiro e Swae Lee e Rauw Alejandro em sua apresentação pré-outono em Hong Kong. Em vez disso, essa honra foi para os irmãos Clipse, Pusha T e Malice, cuja colaboração com John Legend, Birds Don’t Sing, ecoou pelos jardins da Unesco no meio da programação.

Pharrell continua levando o desfile de moda masculina a novos níveis de ambição e gastos. Nenhum detalhe do toque LV foi poupado. Os quase 800 convidados foram convocados com Apple AirTags aninhados em um estojo metálico personalizado; a passarela de grama foi pintada com o padrão xadrez da marca; os funcionários usavam uniformes de jeans personalizados com o grito de guerra "Le Monde Est À Vous"; funcionários da Unesco que abriram suas janelas para obter uma melhor visão foram rapidamente corrigidos, para não perturbarem o cenário da transmissão ao vivo.

É fácil esquecer que Pharrell ainda é novo nesse trabalho. Mas, a menos que haja outra Louis Vuitton no sistema solar, Pharrell atualmente detém a medalha de ouro no esporte do novo luxo aspiracional. A coleção foi a mais recente das narrativas em evolução de Pharrell. Sua estreia trouxe o savoir-faire da Louis Vuitton de Paris para VA, e na terça-feira, o mundo voou para Paris.

Os looks foram organizados em torno de diferentes manifestações do que a Louis Vuitton chamou de "dândis globais": diplomatas em trajes formais rigorosos e pilotos vestindo blazers curtos e jaquetas de voo em vários couros brilhantes. Uma variedade de agentes secretos passou despercebida com alfaiataria fina e disfarçada com jaquetas musculosas com zíper. O viajante a lazer usava um agasalho de veludo com monograma delicado, uma camisa de trabalho coberta de uma estampa pixelada de réptil que Pharrell chama de “snake-o-flage”, e uma jaqueta safari elegante.

O trabalho de Pharrell é ricamente detalhado com joias, micro monogramas e hardware completamente personalizado que muda de temporada para temporada, mas as silhuetas eram concisas e controladas, até mesmo majestosas.

Você poderia imaginar qualquer um dos VIPs na plateia trocando para um sobretudo de camelo ou um robe acetinado antes de desembarcarem para uma cúpula de alto nível (ou pelo menos uma premiação). Mas em que eles os embalariam? Em uma nova linha de bagagens monogramadas renderizadas inteiramente em couro (em vez da tradicional lona). Como a Speedy, sucesso estrondoso de Pharrell, essas bolsas são macias e maleáveis; um modelo esmagou seu mini-baú retangular na dobra do braço. Me disseram que Pharrell já havia feito um pedido pessoal de uma bolsa tecida em pérolas pretas e brancas.

Após o segmento de tons de pele, os 15 looks finais representaram celebração global. Uma jaqueta foi feita com os cortes de couro que envolveriam a bola de futebol mais cara do mundo, em um aceno ao esporte global por excelência. Ternos xadrez azul e verde foram feitos em colaboração com a Air Afrique, um coletivo de Paris lançado em 2020 para fornecer uma plataforma para artistas e criativos da diáspora africana.

De seus assentos na primeira fila, a elegante equipe da Air Afrique composta por Jeremy Konko, Lamine Diaoune, Djiby Kebe e Ahmadou-Bamba Thiam, praticamente caiu nos braços uns dos outros quando sua colaboração chegou à passarela, e colapsaram novamente quando Pharrell os saudou em seu arco triunfante. “É como um sonho”, Diaoune me disse sobre a parceria. Finalmente, uma explosão de xadrez multicolorido Damier selou a cerimônia de encerramento dos jogos olímpicos de Pharrell.

A maior declaração de Pharrell até agora claramente agradou às pessoas da Terra. Enquanto os VIPs se dirigiam a Pharrell para uma foto obrigatória, Wemby, um recém-incorporado membro da equipe olímpica francesa, inclinou-se para dar sua avaliação: “Incrível,” disse ele. “Incrível.”

*Leia a matéria original na GQ