MINHA HIST�RIA: 'Perdi 47 kg ap�s bari�trica, mas a luta ainda � di�ria', diz enfermeira
A enfermeira Camila Rodrigues, 36, desde a adolesc�ncia, briga contra a obesidade. Ela havia tentado de tudo, dieta, exerc�cios, rem�dios.
Depois de chegar aos 132 kg, em 2014, Camila decidiu que o melhor caminho era fazer a cirurgia bari�trica. A experi�ncia foi traum�tica, mas hoje ela contabiliza 47 kg perdidos. Corrida e aulas de muay thai foram incorporadas na rotina e a dieta foi ajustada para sua nova fisiologia. Ela tamb�m toma um ansiol�tico.
Tudo para perder os 8 kg que faltam para a meta de 78 kg e, principalmente, n�o recuperar o peso perdido.
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"Sempre fui uma crian�a gordinha. Minha fam�lia toda, ali�s, � obesa. Fomos criados em um ambiente que a crian�a gordinha era considerada bonita, todas aquelas dobrinhas, sabe? E sempre comemos muito bem, a mesa era aquela fartura. Eu tamb�m era a gordinha da escola e tamb�m a mais gordinha entre os meus primos.
N�o parei de ganhar peso na adolesc�ncia. Minha m�e e eu tentamos de tudo, nutricionista, endocrinologista. Tomei ansiol�ticos, antidepressivos, inibidor de apetite, fitoterapia, fiz dieta e at� perdi peso. A alegria durou dois anos –o quanto eu consegui manter. Depois engordei tudo de novo.
Foi a pior fase da minha vida, quando realmente a obesidade come�ou a me incomodar. Voc� se sente exclu�do. Na aula de educa��o f�sica as pessoas me escolhiam por �ltimo. Virava ponto de refer�ncia: 'perto daquela gordinha.'.
Aos 23 anos, cheguei pela primeira vez ao �pice dos 130 kg. Outra fase terr�vel. Sentia dores nas pernas, cansa�o. N�o queria nem sair de casa –estava com depress�o. Minha rotina era casa, faculdade, trabalho. Abri m�o de ter vida social. Tinha vergonha de n�o ter roupa "adequada" para sair e estar junto de outras pessoas. Preferia ficar reclusa para evitar o constrangimento.
Quando conheci meu marido, dez anos atr�s, estava com 115 kg. Ele nunca se importou com o fato de eu ser obesa. O relacionamento sempre foi �timo e ele sempre arrumava um jeito para eu n�o me sentir exclu�da das atividades, das amizades.
Giovanni Bello/Folhapress | ||
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A enfermeira emergencista Camila Rodrigues, 36, que perdeu 47 kg desde 2014 |
Mesmo assim, tentava de tudo para emagrecer, at� dieta � base de �gua e alface. Ao ponto de fazer gin�stica o tempo todo e at� a desmaiar por conta das dietas malucas, dos pontos, da lua. A vida era assim, um dia um pouco mais gordinha, um pouco menos no outro; rem�dio em um dia, dieta no outro.
Mas n�o tinha jeito: minha alimenta��o, no fim, acabava voltando para aquela mais gostosa, regada a sal, gordura, batata frita, fast-food. J� cheguei a tomar sozinha dois litros de refrigerante no jantar. Era uma coisa que me satisfazia, me sentia bem e feliz com aquilo, como se eu pudesse descontar qualquer frustra��o.
O problema foi a minha sa�de, que come�ou a piorar. Quando estava com 132 kg apareceram outras doen�as como esteatose [gordura no f�gado], diabetes e hipertens�o. Era a hora tomar alguma medida mais dr�stica.
A prepara��o para a cirurgia bari�trica foi muito dif�cil e longa. Demora no m�nimo um ano. Passei por cardiologista, nutricionista, endocrinologista e at� psic�logos, al�m do cirurgi�o, claro. No meu caso, a cirurgia foi o bypass.
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Logo depois da cirurgia, em 2014, foi dific�limo para voltar a comer. Quem pensa que a cirurgia faz milagre est� muito enganado. Passei tanta fome... A cabe�a pedia comida, mas o est�mago simplesmente n�o aguentava. Eu chorei muito nas primeiras semanas, me perguntava por que tinha me submetido a isso.
Hoje sei que todo o esfor�o, incluindo a bari�trica, s� vale a pena se for para realizar uma vontade sua, e n�o algo para agradar � sua fam�lia, aos seus amigos ou aos vizinhos.
Continuo sendo acompanhada por uma nutricionista e como de tudo, lanches, carnes etc. Mas em pequenas quantidades e mais vezes por dia. A vida de enfermeira emergencista � meio maluca: n�o tenho hora para comer nem hora certa para dormir. Levo marmita para evitar comer na rua.
E, claro, tento comer menos porcaria, mas �s vezes n�o resisto. A minha estrat�gia, quando estou em um lugar com v�rios doces diferentes, � tentar escolher s� um para provar. Antigamente eu comeria um de cada ou at� mais [risos].
Comecei a fazer exerc�cio f�sico por indica��o m�dica. Primeiro veio a caminhada e depois a corrida, mas bem de leve e em baixa quantidade, porque ainda sentia muitas dores nas pernas. Depois comecei a muscula��o.
Meu manequim foi do n�mero 58 para o 44. Fico muito feliz quando olho no espelho e fa�o coisas que n�o fazia antes. N�o tenho problemas em estar com os meus amigos: agora � s� colocar uma cal�a jeans e camiseta que me sinto bem, n�o � mais um tormento. Meu marido gostou porque parei de chorar na hora de sair [risos].
Uma coisa que me deixou chateada � que percebi que no trabalho as pessoas come�aram a me tratar melhor depois da cirurgia. Por que tiveram de esperar eu emagrecer? J� havia sofrido bastante no meu emprego anterior, de secret�ria executiva. As pessoas me deixavam no cantinho da reuni�o, para aquela feinha n�o aparecer na foto...
Atualmente estou fazendo muay thai e correndo regularmente. Ainda preciso emagrecer mais 8 kg para atingir o peso ideal de 78 kg. �, literalmente, uma luta di�ria.
Tamb�m continuo tomando um ansiol�tico que o m�dico passou. Segundo ele, depois de cinco anos de cirurgia a tend�ncia � engordar –e n�o queremos que isso aconte�a."
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