Discuss�o sobre inibidores de apetite j� dura mais de 20 anos
Mario Kanno | ||
Mesmo com a san��o da lei que voltou a liberar os inibidores de apetite no �ltimo m�s de junho, as discuss�es entre entidades m�dicas, sanitaristas e Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria) em torno desses medicamentos n�o terminaram –e j� duram mais de 20 anos.
Em 1997, por exemplo, a Secretaria de Vigil�ncia Sanit�ria do Minist�rio da Sa�de chegou a editar uma portaria que institu�a maior controle da receita e aviamento dos inibidores de apetite. A medida, por�m, foi suspensa.
Um ano depois, outras duas subst�ncias anorex�genas (fenfluramina e dextrofenfluramina) foram proibidas ap�s estudos mostrarem que poderiam causar les�es card�acas.
Em 2000, um parecer de um grupo de estudos formado por entidades m�dicas avaliou a situa��o dos demais inibidores de apetite e concluiu que "apesar de estudos n�o contemplarem o uso em longo prazo, a pr�tica cl�nica tem demonstrado benef�cio/risco favor�vel, desde que prescritos criteriosamente".
Naquela �poca, o Brasil consumia 76% da anfepramona e 78% de femproporex produzidos no mundo, segundo dados da ONU, reproduzidos em relat�rio da Anvisa. N�o � toa, preocupada com a exist�ncia de um processo "irrespons�vel" de prescri��o desses inibidores, a ag�ncia voltou a discutir o tema.
A conclus�o foi que era preciso inserir advert�ncias em bulas sobre a possibilidade de depend�ncia f�sica e ps�quica pelo uso prolongado, al�m de alertas sobre a falta de estudos de efic�cia a longo prazo.
O debate continuou nos anos seguintes e ganhou novo impulso em 2010, quando dados de um estudo de seis anos com a sibutramina, e que avaliou 10 mil pacientes, mostrou aumento no risco de doen�as cardiovasculares.
Com os resultados, a Anvisa passou a monitorar os dados de rea��es adversas recebidos sobre esses medicamentos, dados de estudos j� realizados e hist�rico do processo em outras ag�ncias reguladoras.
O processo culminou na proibi��o da fabrica��o, comercializa��o e uso dos anorex�genos anfepramona, femproporex e mazindol em 2011.
Ao mesmo tempo, foram estabelecidas regras para maior controle da sibutramina, como exig�ncia de receita controlada, por exemplo.
RESPOSTA CL�NICA
Ap�s a proibi��o, m�dicos, representados por entidades como Conselho Federal de Medicina, Abeso (Associa��o Brasileira para o Estudo da Obesidade e da S�ndrome Metab�lica) e Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) tentaram, sem sucesso, mudar o posicionamento da Anvisa.
Segundo a endocrinologista Cintia Cercato, do Hospital das Cl�nicas da USP, o �nico "fato novo" que justificaria alguma interven��o da ag�ncia era o risco de a sibutramina ter um efeito colateral importante em pessoas com doen�as cardiovasculares. "No fim das contas, daqueles medicamentos, o �nico medicamento que foi liberado foi a sibutramina."
O problema � que esses rem�dios, que t�m a��o no organismo parecida com a anfetamina, s�o antigos –datam da d�cada de 50. Na �poca, n�o havia a necessidade de grandes estudos como aqueles que s�o realizados hoje em dia.
"O que o mundo todo come�ou a perceber? Que eram medicamentos que produziam depend�ncia e trariam risco, como s�ndromes neurol�gicas e cardiovasculares graves. E v�rios estudos demonstravam a mesma coisa", diz o presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa.
Os riscos s�o reconhecidos por endocrinologistas, como enumera Maria Vict�ria Descalzo. "Havia falsifica��o de receitu�rio azul, m�dicos que prescreviam de forma ampla, talvez sem muito crit�rio e um grande com�rcio paralelo. Isso sem contar as farm�cias de manipula��o que tinham rolos com m�dicos."
O ideal, dizem Descalzo e seu colega endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Federa��o Latino-Americana de Obesidade, seria que todos os rem�dios, inclusive os inibidores rec�m-liberados por lei, tivessem um per�odo de um ano ou mais de estudos, com milhares de pacientes, mas o problema � que ningu�m quer investir milh�es de reais em pesquisas.
ARTICULA��O
Cercato relata que, quando se discutia a quest�o, foi sugerido que um cons�rcio formado por universidades brasileiras poderia fazer um grande estudo sobre o tema, mas ningu�m topou financiar a iniciativa.
Ent�o, os m�dicos, que se sentiram acuados ao terem seu arsenal terap�utico reduzido, articularam junto a congressistas a cria��o de projetos de lei que resultaram na libera��o, � revelia da Anvisa, das drogas anfepramona, femproporex e mazindol.
"Como m�dicos, precisamos ter o direito de escolher [o melhor tratamento]", afirma Alexandre Hohl, da Sbem.
Para ele, por�m, a lei n�o era o melhor caminho, mas n�o houve alternativas. "Nunca achei que o caminho pol�tico fosse o adequado. A solu��o era deixar a prescri��o restrita, e ter fiscaliza��o", diz.
Barbosa, por sua vez, diz que as subst�ncias foram vetadas por trazerem riscos � sa�de. "Se fossem boas, por que nunca ningu�m entrou com novo pedido de registro? Dizer que deu certo para 30 pacientes � uma bobagem do ponto de vista cient�fico."
"M�dicos usavam esse tipo de medica��o com resultados muito bons", afirma Halpern. "Nos EUA, a fentermina [outro tipo de inibidor de apetite] j� foi usada por mais de 30 anos e n�o havia sinal de depend�ncia ou efeitos colaterais mais graves."
"Se o paciente estiver bem-adaptado e tiver emagrecido [quando n�o emagrece o risco de efeito colateral � maior], por que n�o usar o rem�dio? Imagine um diab�tico, com hipertens�o, �cido �rico alto, falta de ar ao caminhar. A� ele usa rem�dio e perde 15% do peso. O que � melhor? Tentar manter benef�cio ou parar por um risco?"
Para ele, nesse caso, al�m de uma boa avalia��o inicial, o importante � o paciente em tratamento continuar indo ao m�dico para reavaliar o tratamento, seja para diminuir ou aumentar a dose do medicamento ou ainda troc�-lo por outro.
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