Estudos ligam consumo de alimentos ultraprocessados � alta de obesidade
Mario Kanno | ||
O maior consumo dos chamados alimentos ultraprocessados –salgadinhos, biscoitos, alguns p�es de forma, sucos, refrigerantes e mais uma boa parte do que hoje se encontra em pacotinhos– tem sido apontado com maior frequ�ncia em estudos como um dos fatores para o avan�o na obesidade no pa�s.
O conceito foi criado em 2009 por pesquisadores brasileiros, que, intrigados com dados de consumo alimentar mapeados pelo IBGE, criaram um sistema de classifica��o para tentar separar os tipos de alimentos de acordo com a composi��o e n�vel de processamento tecnol�gico.
"As pessoas estavam deixando de cozinhar. Por outro lado, estavam consumindo cada vez mais gordura e a��car", relata Carlos Monteiro, do departamento de nutri��o da Faculdade de Sa�de P�blica da USP.
A partir da�, os alimentos foram divididos em quatro categorias principais: in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados –caso daqueles que possuem menor quantidade de alimentos inteiros e maior volume de aditivos, por exemplo.
E a� veio o resultado: a aquisi��o de alimentos in natura havia diminu�do de 44%, em 1999, para 38,9% em 2009, segundo estudos a partir da edi��o mais recente da POF (Pesquisa de Or�amentos Familiares), do IBGE. J� a de alimentos processados e ultraprocessados passou de 20,3% para 32,1%.
Desde ent�o, o indexador PubMed, do governo americano, j� lista quase cem estudos sobre o tema.
A maioria associa a maior disponibilidade e consumo desses alimentos ao aumento do excesso de peso no Brasil e em outros pa�ses.
Em 2015, a Opas (Organiza��o Pan-americana de Sa�de) tamb�m divulgou relat�rio que mostra que o aumento no consumo desses alimentos tem levado ao aumento no IMC (�ndice de massa corporal) em pa�ses da Am�rica Latina.
Segundo Monteiro, esses alimentos acabam por substituir o consumo de outros in natura. "� um conjunto: a maior palatabilidade, o fato de gastar menos energia para digeri-los e de darem menor saciedade, por terem muito pouca fibra e prote�na", explica. "Sempre fomos capazes de regular o que vai comer simplesmente pela fome. E esses alimentos enganam a fome."
Mesma avalia��o tem Michele Lessa, coordenadora de nutri��o e alimenta��o do Minist�rio da Sa�de.
"A popula��o est� cada vez mais consumindo esses alimentos por quest�es de praticidade, acesso e tempo. S�o alimentos com alto teor de a��car, gordura, conservantes, e com densidade energ�tica muito alta", afirma. "N�o temos d�vida de que o maior consumo de ultraprocessados t�m aumentado a preval�ncia de obesidade."
Representantes da ind�stria, por�m, contestam. Para o presidente da Abia (Associa��o Brasileira da Ind�stria de Alimentos), Edmundo Klotz, o conceito de "ultraprocessados" � inadequado e n�o pode ser associado ao avan�o no excesso de peso.
"Levando em conta o fato de que as doen�as cr�nicas n�o transmiss�veis t�m causas multifatoriais, n�o faz sentido acreditar que o maior consumo de alimentos processados seja um causador de obesidade", defende.
Monteiro, no entanto, contesta. "A reformula��o � importante para tirar a gordura trans, e reduzir conte�do de s�dio. Isso vai ter impacto grande nas doen�as cardiovasculares, mas pouco na obesidade."
Para a nutricionista Ana Paula Bortoletto, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), o importante � que o consumidor saiba diferenciar os alimentos. "Quando fala em alimentos industrializados, isso inclui uma boa parte que s�o saud�veis e devem fazer parte da alimenta��o, como arroz e feij�o ensacados, por exemplo. Outra coisa s�o os ultraprocessados, que s�o alimentos sup�rfluos, que n�o depender�amos para ter uma alimenta��o adequada e saud�vel", afirma.
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