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Por Luana Xavier

Luana Xavier. 35 anos. 1,79 cm. 153 kg. Essa sou eu hoje. Mas esse tipo de apresentação eu era obrigada a fazer lá no início dos anos 2000 em todos os testes de publicidade. Eu recebia um papel em branco, recortado no tamanho de uma claquete e escrevia nome, idade, altura e peso. No fim das contas, eu era reduzida a números. Desconfortante. Desconcertante. Desanimador. Eu já me sentia menos apta ao trabalho só por esse primeiro momento. Porque à minha volta, na maioria das vezes, tinham mulheres magras (muito magras), altas (esse era um dos poucos quesitos em que eu me encaixava) e brancas.

E, na paleta da brancura, a variedade previsível chamava a atenção: loiras de olhos azuis, ruivas sardentas, morenas de olhos verdes. Este último tipo era um dos mais cobiçados pelos produtores de casting, principalmente se os cabelos fossem cacheados. O porquê eu não sabia, mas ainda que não tivesse letramento racial suficiente, já entendia que meu corpo não pertencia àquele espaço. A beleza diariamente enaltecida dentro de casa ali não tinha vez. Negra e voluptuosa? Quase sempre só eu mesma. E se a campanha publicitária em questão exigisse que vestíssemos roupas de banho, eu só fazia o teste para não perder a viagem, porque eu já sabia que não passaria. O mais complexo disso tudo é que nessa época eu não era uma mulher gorda. Mas também não era suficientemente magra como o mercado exigia.

Passados bons 20 anos, aqui estou eu: estreando como colunista da revista Vogue, uma renomada revista de moda, beleza e lifestyle. Não faço vista grossa para os erros imperdoáveis do passado, mas depois de fazer cobertura ao vivo para o Baile da Vogue duas vezes e de ser a capa de uma edição baseada no respeito à diversidade, eu me reservo ao direito de comemorar esta conquista, porque entendo que a Vogue vem construindo uma nova e potente trajetória. Aquela mesma Luana Xavier que destoava do padrão publicitário agora tem um espaço importante para trazer suas narrativas. E aqui cito a professora-doutora Conceição Evaristo e suas escrevivências, porque são as minhas escrevivências que vocês acompanharão a partir de hoje.

Luana Xavier — Foto: Mateus Rubim
Luana Xavier — Foto: Mateus Rubim

Sendo uma mulher negra brasileira, aprendi que é preciso sempre dizer de onde vim, qual a origem da minha existência, e só assim poderei ser respeitada no ambiente em que estou. Sou filha de Christina Maria Queiroz de Jesus Morais, a primeira doutora negra em Vigilância Sanitária do Brasil. Tenho muito orgulho em frisar as conquistas intelectuais e profissionais da minha mãe, porque sinto na pele a batalha de mulheres negras para serem respeitadas e celebradas. Sou neta de Ernestina de Freitas Morais e Chica Xavier. Minha avó Chica muito provavelmente vocês já ouviram falar. Eu a destaco como uma das maiores atrizes desse país. Fez a passagem em agosto de 2020, mas deixou para mim um importante legado. Sigo os passos dela na profissão, mas também na fé. Sou sacerdotisa da Irmandade do Cercado de Boiadeiro. Um terreiro de umbanda fundado por ela no bairro de Sepetiba, região periférica da cidade do Rio de Janeiro. O teatro é minha grande escola nas artes, mas tenho construído minha carreira no cinema, no streaming e na televisão. Na TV, além de atriz, também sou apresentadora e, na última temporada do programa Saia Justa do GNT, debati pautas importantes para nossa sociedade, que eu já trazia nas minhas redes sociais, mas se solidificaram neste outro veículo. Pautas que debato principalmente porque delas dependem minha existência.

Ser um corpo preto em uma sociedade racista não é tarefa fácil. E, pela necessidade de ter minha voz ampliada, é que aceitei com muito carinho o convite para escrever na Vogue. Aqui, traremos inúmeras abordagens com o tema “corpo” sendo o nosso “guarda-chuva”. Mas preciso avisá-las que sou canceriana de carteirinha e, mesmo que não entendam muito de signo, com o tempo vão saber exatamente do que estou falando. Porque escrevo, me emociono, compartilho angústias, conquistas e tudo da forma mais verdadeira e intensa possível. Firmemos aqui um contrato de troca. E, neste contrato, teremos como premissa a profundidade. Vamos mergulhar de cabeça em nossas dúvidas, anseios, medos, mas principalmente saberemos que esse é nosso espaço de acolhimento. Eu acredito muito nisso e espero que vocês possam acreditar também. Nem sempre chegaremos a um consenso, mas uma coisa eu garanto: nosso caminho será de evolução. Um passo de cada vez, mas cada passo será em direção ao nosso crescimento. Conto com vocês.

Com afeto e axé, Luana Xavier.

STYLING: Juliana de Paiva
ASSISTENTE DE FOTO: Caio Backer.
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Déia Lansky.
PRODUÇÃO DE MODA: Miguel Reis.
BELEZA: Carol Alves.
TRATAMENTO DE IMAGEM: Mauricio Araújo

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