• Olga Penteado
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FalsaMagra (Foto: Zoe Ghertner)

(Foto: Zoe Ghertner)

Você entra facilmente em seu jeans skinny e frequenta a academia religiosamente. Não há motivos para se preocupar, certo? Errado. Mesmo magra, a quantidade de gordura no corpo pode estar nas alturas sem que você saiba - e isso pode afetar gravemente a sua saúde.

O assunto anda tão em voga que, recentemente, até se criou um termo para denominar essa "falsa magra", skinny fit fat, usado para classificar pessoas que estão na faixa de peso adequada e praticam atividades físicas, mas têm taxas de gordura acima do normal.

Uma pesquisa feita com 83 mulheres que correram uma meia maratona na Suíça concluiu que várias delas se encontravam nessa categoria. A porcentagem média de gordura das atletas estava acima dos 28% - algumas chegavam a 33%. "A taxa normal entre o sexo feminino varia entre 18% e 28%", diz Maria Edna de Melo, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Outro estudo, feito na Austrália e Nova Zelândia, revelou que 76% da população mundial está overfat, como os cientistas definiram pessoas que possuem gordura em quantidade suficiente para causar problemas que em geral estão associados ao sobrepeso e à obesidade (doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer).

A gordura fomenta processos inflamatórios - nem precisa ser em grande quantidade. Taxas acima do normal já acendem o sinal de alerta. "Há uma maior produção de hormônios e substâncias inflamatórias que acarretam uma série de alterações metabólicas. Se não forem identificadas e controladas, podem levar ao aparecimento de doenças como diabetes, hipertensão e isquemias", ressalta Patrícia Davidson Haiat, nutricionista funcional do Rio de Janeiro.

"Acima de 24% de taxa de gordura no corpo começa a haver acúmulo de gordura nos culotes, abdome e flancos", afirma Thiago Volpi, endocrinologista de São Paulo. Há também o outro lado da moeda: quando a taxa é menor do que 14% pode haver a diminuição da produção dos hormônios sexuais femininos, há o risco da menstruação ser interrompida e os ossos ficam desprotegidos.

Há cinco anos, Shantal Abreu, empresária que conquistou mais de 440 mil seguidores no Instagram ao postar sua rotina fitness, estava overfat. No espelho, tudo ótimo. Mas, quando fez um exame de composição corporal, ficou assustada com o resultado - sua nutricionista também pediu que ela repetisse o exame em outro laboratório. "De novo: 30% de gordura", conta.

Depois disso, Shantal mudou a alimentação: passou a consumir apenas alimentos orgânicos, não processados e proteínas como peixes e ovos. Também começou a malhar pesado. A porcentagem de gordura caiu, mas não em velocidade e intensidade compatíveis com o título de musa fitness. Até o ano passado, estava em 26%.

"Somente nos últimos meses, quando parei de tomar pílula anticoncepcional, minha taxa desceu para 22%. Descobri que meus hormônios estavam desregulados. Corrigi isso e passei a ganhar mais massa muscular", explica.

Equilíbrio hormonal é fundamental para reverter o quadro, uma vez que é difícil emagrecer se a taxa da testosterona estiver baixa. "Em declínio, esse hormônio contribui para o aumento da gordura corporal. Pior que isso, dificulta o ganho de músculos. Aí não adianta malhar como louca", afirma o treinador físico Fabio Aquino, de São Paulo.

Thiago Ferreira, endocrinologista da clínica Seven, em São Paulo, diz que para mudar a composição corporal, ou seja, ganhar músculos e perder gordura, o melhor é investir na musculação. "Eles são a fornalha do nosso organismo e consomem 26% das calorias que ingerimos, mesma porcentagem que o fígado", explica.

"E dietas muito restritivas, que diminuem também a massa muscular, mais atrapalham que ajudam no processo de emagrecimento. Ao perder músculos, deixamos de queimar gordura", completa Thiago.

Outro caminho para não aumentar o tecido adiposo no corpo é evitar alimentos de índice glicêmico alto e ultraprocessados, como pães, massas e doces. "Eles afetam a produção de hormônios como a insulina e provocam processos inflamatórios. Esse desequilíbrio resulta em maior reserva de gordura", explica Patrícia.

Cuide bem de seus músculos, alimentando-os com proteínas boas, como ovos e carnes magras. E procure ter uma boa noite de sono, para que a massa magra se recupere, cresça e apareça.

Novo scanner corporal permite visualizar o ganho muscular e acompanhar em 3D como anda sua perda de gordura (Foto: Divulgação)

Novo scanner corporal permite visualizar o ganho muscular e acompanhar em 3D como anda sua perda de gordura (Foto: Divulgação)

Caça-gordura

Para avaliar a composição corporal, o método mais utilizado hoje em dia é a bio impedância, adotado em academias e consultórios médicos. Espécie de balança com um sensor manual (ao lado), ela calcula o percentual de gordura, músculos e ossos de todas as partes do corpo e consegue mapear a gordura que está escondida entre os órgãos - a visceral, inimiga número 1 da saúde.

A novidade, entretanto, são os scanners corporais em 3D, hit em academias premium dos Estados Unidos como a Equinox, e já presente por aqui na clínica do endocrinologista Thiago  Volpi, em São Paulo. 

Trata-se de uma plataforma automática que gira 360° e, através de uma câmera superpotente, capta imagens do corpo e permite visualizar o ganho muscular e ver, em três dimensões, onde está havendo perda de gordura. "A máquina apresenta as medidas do corpo e, em seguida, monta um modelo que pode ser girado, cortado e ampliado", explica Thiago.