• Paula Merlo (@paulimerlo)
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Juliana Souza (Foto:  )

Juliana Souza (Foto: )

Advogada há 7 anos com foco em litígio estratégico nas áreas de raça e gênero, Juliana Souza, 31 anos, também atua nas áreas de advocacy e entretenimento - entre seus clientes estão a família Gagliasso e a multiartista Lina Pereira. A porção comunicadora aflorou há 5 anos, mas foi realmente impulsionada durante a pandemia, quando a baiana radicada em São Paulo fez uma live com Anitta para falar sobre equidade racial no Brasil. “Em 24 horas, mais de 2 milhões de pessoas assistiram ao conteúdo e muitas delas me pediram para que eu seguisse compartilhando minhas perspectivas”, conta Juliana, que também dá palestras e consultoria.


Há pouco mais de um ano, Juliana fundou o Instituto Desvelando Oris, que tem como objetivo transformar a vida de pessoas através da justiça numa perspectiva racializada e da educação em direitos. “O que fazemos é criar e multiplicar oportunidades, atuando junto à jovens e mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica, em especial pessoas negras”, explica.

Mestranda em humanidades, direitos e outras legitimidades, na USP, Juliana também mergulhou na escrita e, no ano passado, escreveu o livro Torrente Ancestral, Vidas Negras Importam?, lançado na última Bienal Internacional do Livro de São Paulo. “Me considero uma mulher multifacetada: além desses chapéus, nas horas vagas me arrisco como influenciadora nas redes e ainda encontro tempo para cantar, algo que amo e quero investir mais tempo. Para algumas pessoas sou jovem, mas com uma história de vida onde caberiam certamente outros 30 anos.  Assim, conseguir materializar o senso de responsabilidade que me acompanha desde a infância, compartilhando e instigando outras possibilidades de vida e existência para pessoas que vem dos mesmos lugares sociais que eu, advinda de uma dinastia de trabalhadoras domésticas, é algo que me mobiliza e orgulha”, conta.

“Desejo promover o encontro entre as centralidades e as periferias, atuando ativamente na redução de desigualdades estruturais e sistêmicas como a superação do racismo, a equidade de gênero e a promoção de oportunidades de desenvolvimento humano sejam elas profissionais, acadêmicas ou socioemocionais.  Digo que é a busca por corpos e vozes dissonantes em todos os espaços, tendo por objetivo imediato o bem viver, tenho uma pressa ancestral”, pontua.

Abaixo, ela conta mais sobre sua rotina.

Juliana Souza (Foto: Carlos Sales / Divulgação)

Juliana Souza (Foto: Carlos Sales / Divulgação)

Como é sua rotina pré-expediente: “A primeira coisa que faço depois de abrir os olhos é tomar água. Faço algum alongamento e vou para o banho - só depois dele realmente desperto. Confesso que nem sempre tomo café da manhã, mas quando o faço adoro ovos mexidos, um suco de laranja, iogurte com geleia de amora e granola e um cafezinho. Na sequência, verifico as mensagens de WhatsApp e e-mail, minhas redes sociais e, a depender da programação do dia, assisto ao jornal pela TV ou leio os portais de notícias.

O tempo que o trabalho ocupa a cada semana é muito variável e busco me organizar para dar conta das correções de rotas que surgem durante a semana, pois é frequente a chegada de novos temas que demandam um bom jogo de cintura e o constante alinhamento com a equipe. Sou extremamente notívaga, elaboro excelentes textos e tenho muita disposição para produzir nas madrugadas, quando isso acontece busco equilibrar para garantir ao menos 7 horas de sono por noite.”

Como organiza o dia: “Na agenda digital do celular! Minha rotina é muito dinâmica, embora eu tenha uma boa memória, não dá para confiar tudo a ela. Tenho uma pessoa na equipe que nos ajuda com os compromissos em geral.

Durmo também com caneta e papel próximo à cama porque tenho ótimas ideias na hora de dormir - de textos até estratégias de negócio. Outra coisa que me auxilia na organização são listagens das demandas em cadernos e tenho no meu quarto um quadro onde anoto as tarefas mais imediatas por categorias (pessoais, acadêmicas, profissionais, físicas...)”

Como é a rotina no trabalho: “Dinâmica, com muitas reuniões, pesquisas, leitura e ligações. Os eventos presenciais também se tornaram mais frequentes agora com a retomada de atividades e encontros. Passo boa parte da semana produzindo textos legais e, nesse momento, executando a nossa estratégia de expansão do Instituto Desvelando Oris.

Apesar de muito trabalho, posso dizer que, sem dúvidas, estou no momento mais especial da minha carreira. São muitos os desafios, mas imensas as alegrias de construir esse caminho em primeira pessoa. É incrível poder nos somar a projetos de pessoas e organizações que admiramos, mas é o máximo poder se descobrir e redescobrir diariamente na construção de projetos autorais. Há semanas em que trabalho de domingo a domingo e há semanas em que consigo deixar a segunda ou a sexta-feira mais livres. Equilíbrio é tudo!”

Como cultiva a criatividade: “Ao estar em movimento e alimentando os sentidos. Sou realmente inquieta e inconformada. Aprendi que é importante falar, mas é igualmente importante observar e escutar. Gosto muito de ler, mas também aprendo muito nas trocas cotidianas com as pessoas, me conectando com as histórias, olhando nos olhos, estando aberta ao diálogo. Adoro ir ao cinema, ver séries em casa ou visitar exposições. Me inspira também ouvir pessoas de outras áreas do conhecimento e do mercado e identificar ali elementos que possam ser interessantes no meu negócio e na minha vida. Conhecer novos lugares e pessoas, adoro viajar, mas acredito que uma caminhada atenta por outro extremo da cidade pode trazer perspectivas reveladoras.”

Como cuida saúde física, mental e espiritual: “A saúde física e mental são prioridades. Trabalhar com o que se gosta e com o que se admira já é meio caminho andado. A dança e a música são terapêuticas cotidianas na minha jornada de trabalho.

Minha espiritualidade está em processo de novas descobertas e conexões com o sagrado e as divindades. A fé na energia que emana da natureza e circunda as pessoas. A crença na sabedoria dos orixás e nas lições do divino - presentes em cada ser, são caminhos abertos para bons ventos de evolução e prosperidade. A fé em si e o autoamor, é também um processo de cura e resgate da estima secularmente aviltada por processos coloniais, felicidade é dever ancestral.”

Como lida com as frustrações: “O meu trabalho está intrinsecamente ligado aos meus propósitos na vida, assim tanto as frustrações como as conquistas têm outro peso. Nesse processo tenho aprendido a acolher as derrotas e a me acolher. Estar com quem se ama e fazer o que me dá prazer são válvulas de escape importantes. Nada como um banho quente, uma tacinha de vinho no jantar ou um boa noite de sono, não é mesmo?!
 

Juliana Souza (Foto: Carlos Sales / Divulgação)

Juliana Souza (Foto: Carlos Sales / Divulgação)

Orientada pela crença de que eu sou fruto dos passos pretos e aliados que me trouxeram até aqui, busco voltar algumas casas e encarrar o insucesso como uma oportunidade de reconstrução, onde já experimentada, terei espaço para outros erros e acertos. Uma positividade acrítica não acessa a realidade, do mesmo modo que o pessimismo cego não orienta novos fazeres.”

Quais ferramentas usa para ser mais produtiva: “Estar com os instrumentos de trabalho ao alcance das mãos para evitar deslocamentos e distrações desnecessárias e estar confortável no desempenho de atividades que demandarão maior tempo de dedicação, são coisas importantes para se ter em mente. Aliar às práticas à tecnologia e revisitar trabalhos e textos anteriores na elaboração de novas teses pode despertar ótimos insights.”

Estilo de liderança: “Minha liderança é baseada na diversidade e na confiança em quem escolhi para andar comigo na construção de nossos projetos. Alguém que trabalha muito e deixa trabalhar. Alguém que exige, norteada no impacto que a inexecução implica nos resultados, mas que convida todas as pessoas envolvidas no trabalho, independente do cargo, a opinarem sobre alternativas e novos caminhos para nosso sucesso. Uma liderança que acredita que o âmbito pessoal da vida está totalmente ligado às entregas no trabalho, visto que não podemos nos compartimentar em caixinhas, somos um todo complexo em constante construção e aprendizagem.

Valorizar os sentimentos, conquistas e contribuições da equipe é fundamental. Busco liderar baseada no exemplo das minhas práxis: sou a primeira a acreditar na ideia e última a abandonar, inaugurar processos e a ocupação de espaços tem sido uma constante por aqui. Porém, sem qualquer compromisso com a narrativa de heroína, o medo, a insegurança e a síndrome de impostora, por vias de regra, aparecem. Não é preciso ter todas as respostas, mas saber onde buscá-las.”

Como incentiva o trabalho de equipe: “Com uma cultura organizacional pautada no respeito, na liberdade com responsabilidade e livre de assédio de qualquer ordem. Encorajar a inovação e reconhecer a autoria individual só potencializa as construções coletivas. Não ter medo do brilho de sua equipe e estimulá-lo em todas as oportunidades possíveis só agrega valor ao negócio, cooptar ou omitir os feitos de seu time é autofagia.

Outra máxima aqui é promover um ambiente onde as pessoas se sintam parte da missão institucional e não meras operadoras ou resolvedoras de problemas, o trabalho de todo mundo e de cada um é parte considerável na engrenagem de nosso impacto.”

Como termina o dia: “Meus horários não têm sido lineares, a depender da semana, o dia de trabalho pode acabar às 18h, como também às 3h da manhã. Fechado o notebook, gosto de um banho relaxante e faço uso de alguns óleos essenciais. Já na cama, gosto de acender uma vela aromática, refletir sobre o dia ao som de uma boa música ou, quando tenho tempo, ver aqueles episódios de minhas séries favoritas ou ainda colocar a leitura em dia. Os dias de chuva são ótimos para despertar o sono.”