• Rafaela Fleur
Atualizado em
Bianca Andrade (Foto: Divulgação)

Bianca Andrade (Foto: Divulgação)

Quem cursou o ensino médio nos anos 2000, bem sabe: o grupo pop mexicano RBD foi uma febre, daquelas quentíssimas e que demoram muito pra passar. No Colégio Estadual Júlia Kubitschek, localizado no Centro do Rio de Janeiro, essa efervescência também chegou. Por lá, uma estudante que morava na Maré, periferia da Zona Norte carioca, dividia o seu tempo entre cantarolar as músicas pops do sexteto (mas não só - menção honrosa à Beyoncé e Rihanna também) e exibir os lábios sempre pintados de pink. Sempre mesmo. Todo dia. Religiosamente. O hábito a fez receber o carinhoso apelido de Boca Rosa. Hoje, aos 26 anos, Bianca Andrade continua sendo chamada assim. A diferença, porém, é que deixou de ser uma jovem periférica para se tornar uma empresária milionária do ramo da beleza.

 À frente de três corporações de sucesso, ela é diretora criativa da Boca Rosa Beauty, CEO da Boca Rosa Produções e assina toda a criação da Boca Rosa Hair - marca própria dentro do grupo de beleza Cadiveu. Além das empresas, soma mais de 388 milhões de views no Youtube, 14 milhões de seguidores no Instagram (@bocarosa), é influenciadora, atriz, ex-BBB, produtora, apresentadora (Ufa!). No ano passado, só com a Boca Rosa Beauty, ela faturou 120 milhões. “Sou um produto da internet e quando decidi entrar no mundo dos negócios sempre esteve claro que eu usaria a minha imagem, a minha força online. Isso me deixa vulnerável, porque sou autêntica e as pessoas distorcem a minha vida, inventam polêmicas, mas não posso viver nessa prisão", conta. "Podem falar de mim, mas o meu produto vai ser incrível, vai ter qualidade, minha marca vai ter um branding amarrado, conectado com o momento atual - e todo mundo vai saber disso. Não conto com seguidores, conto com a minha influência.”

Com a pandemia, Bianca confessa que precisou recalcular a rota e refletir sobre a forma de gerir os seus negócios. A principal mudança foi transformar a comunicação das marcas em uma experiência digital. A estratégia funcionou e fez a Boca Rosa Beauty atuar brilhantemente online. Em dezembro, a marca lançou a coleção de delineadores coloridos Glam Line, com uma campanha incrível estrelada por seis drag queens brasileiras. O negócio deu tão certo que, em uma hora, todas as cores estavam esgotadas. “No primeiro mês eu não sabia o que fazer, as vendas caíram de forma absurda. Depois eu respirei, acionei minha equipe e fui buscar uma solução. Logo ficou claro que esse era o momento de ativar o online, já que era o único ponto de encontro possível entre as pessoas.”

Bianca contradiz tudo aquilo que a sociedade espera de uma mulher em cargos de liderança. É jovem, pansexual, colorida, extremamente divertida e zero burocrática na hora de se comunicar. Entrevistá-la, ainda que para uma matéria de negócios, é como bater papo com uma amiga querida e cativante, que te chama por apelidos, pergunta da sua vida e faz piadas junto com você. E ela sabe bem que esse é o seu grande trunfo. “São várias Biancas que vivem juntas. Existe meu lado emocional, meiga, artista - e existe meu lado empresária. Esse, meu amor, não dá ponto sem nó. Entrei no BBB com tudo esquematizado, sabia que na internet eu já era conhecida, mas precisava conquistar o público offline para alcançar outro patamar. Fiz todo um plano de ação.” A estratégia muito bem pensada, funcionou: ao fim do BBB 20, as vendas da Boca Rosa Beauty triplicaram.

Apaixonada por maquiagem e convicta de que seu rosto jamais estaria estampado na Rede Globo (mal sabia ela, que além de ter participado do BBB, já foi colunista do programa É de Casa), Bia, aos 16 anos, decidiu que iria focar no mundo da beleza. Criou um Youtube e começou a gravar vídeos dando dicas fáceis e baratas de beauté. “Eu sonhava em ser atriz desde muito nova e prometi pra mim mesma que se não começasse a atuar até os 16, ia fazer outra coisa, qualquer coisa que fizesse eu me comunicar com as pessoas. Foi aí que resolvi criar um blog, cheguei na internet quando tudo era mato. Era conhecida como a Rainha da Gambiarra, só falava de produtos populares", relembra. "No começo era hobby, depois percebi que tinha gente realmente interessada em me ouvir. Às vezes a gente precisa desconstruir os nossos sonhos e procurar outro caminho para alcançar aquilo que a gente quer.” 

Bianca Andrade (Foto: Divulgação)

Bianca Andrade (Foto: Divulgação)

O retorno financeiro só começou a aparecer em 2013, com dois anos de Boca Rosa no ar - e também não era muita coisa. O pagamento do YouTube pelas visualizações foi menos de R$ 500. Pouco, mas o suficiente para ela, que só tinha maquiagens baratinhas, realizar o sonho de ir na loja da MAC e comprar um pó, uma base e um corretivo. “Só comecei a ganhar dinheiro mesmo em 2015, quando as visualizações do canal aumentaram e fiz publicidades grandes. Aí teve o outro lado, eu não sabia me posicionar, rolavam polêmicas, as pessoas inventavam coisas sobre mim que eu não sabia como me defender. Não sabia o que fazer, me vi perdendo tudo. Esse sentimento só passou em 2018, quando lancei minhas marcas e entendi que tinha um propósito maior de impactar pessoas. Sou uma mulher de negócios e quero ser vista assim.”

Fundada em 2018, dentro do grupo de maquiagem Payot, a Boca Rosa Beauty chegou com 28 produtos - sombras, glosses, batons líquidos, delineadores, glitters, máscaras e paletas. Hoje, conta com um portfólio de 56 cosméticos e é vendida em mais de três mil pontos no Brasil. A ideia é expandir as fronteiras e levar a marca para o mercado internacional. “O setor de cosméticos dificilmente cai, ele é muito amigo do consumidor e o nosso país é o quarto maior do mundo nessa área. Imagina o quanto o Brasil não é relevante lá fora? Espaço pra isso a gente tem, é um passinho de cada vez, mas vou chegar lá.”

Um ano depois, em 2019, ao lado da marca brasileira de cosméticos Cadiveu, a empresária lançou a Boca Rosa Hair, linha de produtos para todos os tipos de cabelos e feita com proteína vegetal. Essa última está passando por um processo de rebranding, que mira na sustentabilidade e vai resultar em embalagens recicladas e recicláveis, menos uso de plástico e matérias-primas veganas. “Quero muito poder falar que tenho uma marca ecologicamente correta, amiga do ambiente. Eu tenho essa consciência, pratico isso na minha vida pessoal, então porque não usar a minha marca para fazer a diferença? Quero evoluir isso cada vez mais nas minhas empresas, me posicionar nesse caminho.  Não quero só falar, quero mostrar que tenho atitudes.” Já a Boca Rosa Produções tem como foco principal desenvolver os conteúdos audiovisuais protagonizados pela empresária.

Em todos os três empreendimentos, Bianca lidera e participa ativamente de cada passo dado. “Sempre tentei terceirizar, mas não consigo entregar meu trabalho na mão de ninguém. Eu quero estruturar minhas empresas, fazer a minha própria gestão e estar ao lado do meu time. Estou construindo o meu próprio modelo de negócio, o meu business plan. Não é porque sou influenciadora que sou menos CEO, uma coisa não anula outra. Quem não souber lidar com isso, paciência.”

Em um ano de tantos movimentos como foi 2020, Boca Rosa decidiu abrir espaço na sua vida para mais uma grande responsabilidade: ser mãe. Grávida de quatro meses do menino Cris, fruto do seu relacionamento com o youtuber Fred, do canal Desimpedidos, ela confessa que a gravidez foi pensada com muito cuidado. “O nosso bebê foi milimetricamente planejado, fizemos todo um cronograma. A gente se apaixonou de forma muito madura e ele foi pensado muito para essa fase. Eu não tenho enjoo, não sinto nada, nem uma dorzinha de cabeça. Acho que o meu filho já entendeu o espírito da coisa! (risos).”

Em 2021, Bia comemora 10 anos de carreira, e promete muitas novidades especiais para celebrar o marco. Por enquanto, ainda é surpresa, mas a empresária adianta que os próximos produtos serão lançados com um grande suporte audiovisual, conectando diretamente as suas marcas com o seu YouTube.

Muitos sonhos ocupam o futuro de Bianca: estabelecer a Boca Rosa Beauty internacionalmente, ter um segundo filho daqui a quatro anos e, principalmente, continuar inspirando outras mulheres a irem atrás do que desejam. “Sempre quis crescer, mas não sozinha. Tem muitas Biancas por aí, muitas garotas de origem humilde que não podem desistir daquilo que sonham. Precisamos reconhecer o nosso valor e a nossa potência, quero ver mulheres incentivando outras mulheres.”