• PAULA BARROS (@pauli_barros)
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Mica Rocha veste peças da Misha (Foto: Reprodução/ Roberto Martini)

Mica Rocha veste peças da Misha (Foto: Reprodução/ Roberto Martini)

Com mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais e uma carreira de influenciadora em ascensão, Mica Rocha poderia se sentir bastante confortável em sua posição após conquistar um público fiel atraindo também um número crescente de marcas interessadas em seu approach divertido e leve de comunicar.

Mas o desejo por novos desafios impulsionou essa capricorniana a se aventurar no universo do empreendedorismo. “A profissão digital é cheia de possibilidades e consegui me encontrar nessa pluralidade de opções, algo que eu sentia falta quando mais nova e buscava por uma profissão onde não teria apenas uma única função. Antes do universo digital isso não era muito permitido”, conta em um papo exclusivo com a Vogue Brasil.

O começo de tudo: a Margaux

Falando pela primeira vez como empresária e atualmente sócia de duas marcas próprias, ela explica que foi durante a gravidez de sua primeira filha Luísa, que acaba de completar 3 anos, quando amadureceu a ideia de lançar a Margaux (@shopmargaux_), loja de calçados confortáveis que não utiliza matéria-prima de origem animal: "Tive um desejo muito forte de fazer algo além do que já estava fazendo. Era um momento confortável da minha profissão como influenciadora e queria novos estímulos."

“Trabalhando com tantas marcas, fui entendendo ainda mais a lógica desse universo. Meu marido [Renato Mimica], que hoje é meu sócio, foi um super incentivador para que eu criasse algo próprio. Porém nunca me imaginei dentro de um escritório, tinha uma rotina muito flexível, dona do meu tempo. Até que tive a primeira ideia da Margaux, ainda muito imatura, pensando mais como influencer do que como empresária. Sabia que eu poderia usar minha influência, mas não entendia nada de gestão, e-commerce, operação. Encarei mesmo assim”, diz ela que começou a marca de sapatos há pouco mais de um ano ao lado de uma sócia que posteriormente veio a deixar a empresa.

A Margaux começou com uma linha de sapatilhas de bico redondo e tinha como diferencial o loc, acessório similar a um broche para ser trocado na parte frontal do sapato, deixando a peça customizável e versátil. Hoje a marca já expandiu para flats confortáveis, tênis, mules, loafers, papetes e botas. Com o passar dos meses e um período desafiador para a empresa durante a pandemia, logo o time ganhou mais profissionais transformando a oferta de produtos. “Inaugurei a Margaux muito entusiasmada, foi uma surpresa muito boa, mas ao mesmo tempo foi um grande desafio porque precisei aprender tudo. As atividades que eu fazia no meu dia a dia até então com uma certa facilidade, deixaram de existir quando decidi ter uma empresa e precisava fazê-la funcionar", explica. "A Margaux respondeu muito bem e conseguimos crescer sem precisar de novos aportes a partir do investimento inicial, que em ambas as marcas não ultrapassa o valor de 120 mil reais. Financeiramente, investi mais do que meus dois sócios e sempre tivemos um pensamento de startup: enxugar o orçamento e fazer do jeito que dava até para não correr tantos riscos.”

Mica Rocha está orgulhosa do crescimento da Margaux (Foto: Reprodução)

Mica Rocha está orgulhosa do crescimento da Margaux (Foto: Reprodução)

“Durante a pandemia passamos por uma situação bem desafiadora porque as pessoas não estavam saindo de casa, muito menos comprando sapato. Em menos de 6 meses de marca nos vimos em uma crise mundial onde não tínhamos experiência, nem o caixa de grandes labels e muito menos maturidade. Com alguns acertos e uma ótima relação com os fornecedores, sobrevivemos a crise que resultou em uma história bonita para a empresa pois tinha tudo para não dar certo”.

Misha, a marca de acessórios 

Ainda em 2020, Mica engravidou de sua segunda filha, Olivia, e junto com a bebê, há seis meses, nasceu também sua segunda empresa, a Misha (@mishabymica), que carrega no DNA o poder dos cristais, das cores e dos astros nos itens fashionistas fabricados em ouro, prata ou com banhos de ouro e ródio, dependendo da coleção: “Não sei o que a gravidez faz com a minha cabeça, mas comecei a pensar em fazer outra empresa. Criei a marca na sala de jantar da minha casa, comigo e a Bebel que é responsável pelo desenvolvimento do produto comigo. Eu estava grávida e me chamaram de louca, diziam que eu não sossegava e não era hora de me aventurar. Mas eu, que amo espiritualidade, sinto um chamado e sei que preciso realizar. Meu pai [Newton Rocha], empresário há muito anos, acha engraçado eu dizer isso porque sabemos que o mercado é muito difícil. Mas tenho na minha cabeça o propósito das marcas, como vão impactar positivamente a vida de outras pessoas e faço.”

“Quando colocamos a Misha no mercado minha segunda filha tinha apenas dois meses de vida. Eu levava a bomba de extrair leite do peito para o escritório e assumo que foi um caos. Estava no puerpério, com uma filha de dois anos, outra recém-nascida e sem uma equipe para trabalhar na nova empresa. Faria de novo no puerpério? Não. Mas eu fiz (risos).”

Foi durante esse novo desafio que Michelle (sim, esse é o nome de batismo dela) ganhou uma ajuda para lá de especial. “Ano passado meu pai saiu do Grupo Guararapes depois de 40 anos e veio me ajudar na Misha. Foi super bonito vê-lo me ajudando a embalar caixas e se aventurando comigo no mundo digital depois de uma carreira super sólida em uma empresa enorme. Ele era meu sócio investidor, mas nunca imaginei que fosse entrar comigo de cabeça no negócio. A Misha foi um estouro. Ela inaugurou de um jeito muito surpreendente e não fazíamos ideia até porque tudo aconteceu durante o caos da pandemia com muito home office e um time de três pessoas.”

Mica e Newton Rocha no primeiro dia de inauguração da Misha. "Estávamos embalando as caixas no mini escritório. Eu recém parida", diz (Foto: Divulgação)

Mica e Newton Rocha no primeiro dia de inauguração da Misha. "Estávamos embalando as caixas no mini escritório. Eu recém parida", diz (Foto: Divulgação)

Grandes novidades

Em quase dois anos do planejamento das empresas, Misha e Margaux agora integram o Grupo NB, com sociedade de Mica Rocha, Renato Mimica e Newton Rocha. O trio também se prepara para o lançamento da primeira loja física.

“Recentemente unificamos a gestão das duas marcas e estou muito feliz. Com a expertise de gestão do Newton Rocha que é muito vasta, meu legado no digital, e o Renato como sócio financeiro estratégico, está sendo uma experiência incrível. Vamos abrir uma loja da Misha no shopping JK em setembro, após a empresa nos procurar para integrar o complexo. Fiquei muito feliz com o convite, afinal ela tem apenas 6 meses. Sou muito digital, mas acredito bastante no poder da união do físico também. Sabíamos que gostaríamos de seguir esse caminho, mas não pensei que ele se concretizaria seria tão rápido”, diz sobre a loja que está sendo montada com investimento próprio e terá 37 m².

Mica Rocha veste peças da Misha (Foto: Reprodução/ Roberto Martini)

Mica Rocha veste peças da Misha (Foto: Reprodução/ Roberto Martini)

Crescimento

O faturamento da empresária como influenciadora vem crescendo pelo menos o dobro a cada ano, mas em razão das novas empreitadas Mica escolheu desacelerar. “Poderia escolher faturar muito mais do que estou fazendo no momento, mas estou optando por contratos mais longos, com mais peso, com empresas que eu já conheço há mais tempo, ou que eu tenha liberdade criativa, para me dedicar as minhas marcas. É um investimento pessoal onde deixei de ganhar o que eu poderia, mas não estou deixando de crescer".

Enquanto isso, nos últimos dois meses (maio e junho de 2021), Mica afirma que a Margaux presenciou um supercrescimento: “Aumentamos a variedade de produtos e demos uma guinada muito positiva. A Margaux cresceu 520% desde o início e nossa previsão é dobrar essa meta nos próximos meses. Já a Misha cresceu 380%. Nossa previsão para os próximos meses é que aumente em 2 vezes e meia esse crescimento".

Apesar do faturamento, Mica confessa que parte da sua estratégia de negócios inclui abrir mão do salário próprio para focar no crescimento do negócio. "Tanto eu quanto meus sócios escolhemos não ter distribuição de dividendos e nem de salário até agora para reinvestir essa verba na empresa. A ideia é que até isso mude até o final do ano. Hoje minha renda ainda vem do trabalho como influenciadora", revela. 

Passar por uma pandemia sem demitir funcionários ou diminuir salários, para ela, já é um sinal de conquista: "Conseguimos sair de um momento muito crítico com sucesso e isso para uma marca pequena, como a Margaux, foi uma vitória atrás da outra. A Misha teve um crescimento muito rápido, mas bastante desafiador também. Se você não entender que está crescendo e precisa aparar algumas arestas turbinando a equipe, sua gestão, você pode rapidamente deixar de crescer. É um aprendizado diário. Hoje eu me sinto muito mais empresária do que influenciadora. Ser mãe e empresária, liderar uma equipe sendo mulher, as demandas da maternidade, da flexibilização de tempo, as responsabilidades da empresa, é um prato na mão e outro voando", conta ela sobre as multifunções. 

Pilares do negócio 

“Começamos com uma política ESG [termo em inglês utilizado para avaliar empresas de acordo com seus impactos e desempenho em três áreas: meio ambiente, sociedade e governança], além do gancho social devolvendo positivamente para o mundo e para o planeta”, diz ela sobre o grupo que atualmente conta com 20 funcionários e tem grande parte do time formado por mulheres.

“As marcas são feitas de pessoas e pensar no bônus e no plano de carreira para elas é nosso objetivo. Como mãe, mulher e profissional de fato, é muito bom poder proporcionar isso. Acredito que construímos empresas também para mudar um pouco do mundo. Queremos ser uma empresa que tenha um impacto positivo. É um mindset que temos desde o início”, continua ela que atua como head de marca da Misha e integra o time de marketing, venda e estilo na Margaux

“Nosso propósito daqui para frente é crescer no físico e no digital, devolver para causas que acreditamos, ter uma prática de governança interna que dê autonomia para as pessoas e coloquem elas em um lugar empoderado.”

Mica Rocha veste bota da Margaux (Foto: Reprodução/ @higorblanco)

Mica Rocha veste bota da Margaux (Foto: Reprodução/ @higorblanco)

O terceiro vem aí!

Mãe de três filhos, com também três livros publicados, duas marcas e uma carreira no universo digital, ela quer mais. E assim como aconteceu durante as suas duas gestações Mica, que está grávida do terceiro filho (um menino que irá se chamar Henrique), está de olho também em sua terceira empresa. “Existe uma semente sendo plantada. Eu, o Renato e o Newton enxergamos possíveis caminhos e temos muito prazer em trabalhar. Sempre tive muita vontade de conquistar o mundo, quero crescer profissionalmente, fazer meus negócios crescerem e poder ser a melhor versão para a minha empresa. O trabalho sempre me fez muito feliz. Conquistei muita autoestima com meu trabalho, conquistei minha independência financeira, tantas coisas importantes na minha vida aconteceram devido ao meu trabalho e ser mulher tem um lado emocional muito importante de conquista do nosso lugar."

"Desde que abri a Margaux, me sinto 30 vezes mais madura, mais segura, muito mais feliz, meu tempo é menor, muito mais perrengue, mas me sinto muito completa e nunca imaginei que fosse gostar tanto de ir para o escritório. Acredito que eu encontrei o que me faz muito feliz. Tenho uma outra carreira que eu tenho uma independência financeira, ser empresária ainda não me trouxe essa independência, mas sou muito feliz fazendo isso", finaliza. Estamos de olho!