• PAULA BARROS (@pauli_barros)
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Marina Larroudé  (Foto: Divulgação/ Larroudé )

Marina Larroudé, cofundadora e CCO da Larroudé, fundada em 2020 em Nova York (Foto: Divulgação/ Larroudé)

Marina Larroudé pode se orgulhar por ter conquistado todos os seus dream jobs e, mesmo assim, ainda sentir um friozinho na barriga ao encabeçar uma nova empreitada. A começar por uma passagem pela redação da Vogue Brasil, a carreira da brasileira radicada em Nova York é motivo de inspiração para muitos que desejam ingressar no mercado da moda. 

Oito anos de seu currículo no universo editorial internacional foram dedicados ao extinto portal Style.com, no qual chegou ao posto de diretora de mercado, até ser convidada a integrar o time da Teen Vogue como diretora de moda, em 2014. Três anos depois, após um processo seletivo com duração de 6 meses, ela assumiu o disputado cargo de diretora de moda do departamento feminino da Barneys garantindo experiência também no setor de varejo.

“Na Barneys tínhamos 22 lojas, além do e-commerce, e era muito interessante ver como a consumidora de cada região dos Estados Unidos se interessava por determinado tipo de marca e produto. Acredito que tive uma leitura muito boa do mercado com a oportunidade de entender o que cativa o olhar do consumidor em termos de imagem no editorial e o que resulta bem no varejo em vendas”, conta à Vogue.

O desejo pela marca própria ela garante que sempre existiu, mas o momento ideal para se jogar no negócio ainda não havia chegado, até o início de 2020. “De repente, no meio da pandemia, me vi desempregada pela primeira vez em 20 anos. O país inteiro fechado, ninguém contratando, e pensei ‘é agora’”, diz Marina que começou a empreender aos poucos através de uma coleção cápsula com a marca californiana CQY Jeans e, posteriormente, com o desenvolvimento de moletons e cashmere com uma amiga.

“Em certo momento começamos a conversar sobre sapatos, em 45 dias a coleção já estava pronta e apresentamos aos compradores, que quiseram encomendar imediatamente. Isso tudo aconteceu enquanto estávamos em lockdown”, explica sobre a ideia que resultou na marca de sapatos e moda, Larroudé.

Mais do que vender sapatos de alta qualidade por um preço justo, a empresária espera usar sua marca como uma plataforma. “Já estamos desenvolvendo bolsas e possíveis colaborações com outras etiquetas”, anuncia.

Investimento

A brasileira e o marido, Ricardo Larroudé, juntaram a experiência dele em administração e finanças com a bagagem dela para juntos tirarem o sonho do papel. Com um investimento inicial de 100 mil dólares a partir de fundos pessoais, rapidamente o casal (e agora sócios), converteu o negócio para levantar fundos como uma startup e atualmente se preparam para a primeira rodada de arrecadação.

“Somos uma startup. Temos um grupo de investidores que chamamos de ‘Friends and Family’ e estamos fechando o que chamamos de ‘seed round’ [conhecido como capital semente é um modelo de financiamento dirigido a projetos empresariais em estágio inicial]. Foi um investimento alto, mas montamos a companhia para ela poder escalar”, explica.

Com apenas 5 meses, os resultados já são bastante relevantes e o mercado financeiro demonstra interesse: "Hoje em dia os números da marca falam por si só e os investidores estão vindo até a gente. Começamos a vender na Revolve e em menos de um mês eles já refizeram o pedido 2, 3, 4 vezes. Lançamos na Shopbop e em menos de duas semanas já refizeram o pedido. Como o nosso crescimento está sendo exponencial, as pessoas estão interessadas em fazer parte deste momento junto com a gente".

Coleção de sapatos da Larroudé  (Foto: Divulgação/ Larroudé )

Coleção de sapatos da Larroudé (Foto: Divulgação/ Larroudé )

Desenvolvimento e produção em plena pandemia

Procurando preencher um vazio que existia no mercado de sapatos, a Larroudé oferece um produto de altíssima qualidade, com preços acessíveis e informação de moda. Mas o objetivo não é das tarefas mais fáceis e foi preciso uma pesquisa mais ampla para alcançar um padrão que fosse motivo de orgulho para a fundadora.

“Importante dizer que começamos a Larroudé do zero, no meio de uma pandemia global e sem encontrar nosso time presencialmente. O molde do nosso sapato, que aliás é superconfortável, foi desenvolvido por nós e é de uso exclusivo da marca. As estampas e o desenvolvimento de caixas no Brasil também. Pesquisamos o sistema de warehouse [armazém] e a agência de importação, montamos o site do zero”, conta.

“Buscamos o desenvolvedor do nosso QR Code na Índia. Nossa redatora é de Los Angeles, temos um time no Brasil. Hoje são cerca de 10 a 15 pessoas que trabalham na Larroudé, sem contar com as agências que ajudam com marketing digital e terceiros. Além de ser nosso maior desafio, também foi e tem sido a parte mais legal”, completa ela, que optou por produzir os sapatos da Larroudé em uma fábrica no Sul do Brasil em razão da qualidade ímpar.

“Quando o primeiro par finalizado chegou em casa, chorei de felicidade. Para mim o ponto principal era a qualidade. Não queria um produto com o meu nome que não fosse de primeira linha”, explica e acrescenta: “É uma felicidade empregar pessoas no meu país e incentivar uma fábrica que estava obsoleta na pandemia. Em uma época que as pessoas estavam mandando funcionários embora, nós estávamos anunciando uma marca”.

Campanha da Larroudé estrelada por India Bradley e Emma Bartlett (Foto: Divulgação/Larroudé)

Campanha da Larroudé estrelada por India Bradley e Emma Bartlett (Foto: Divulgação/Larroudé)

Marina pontua que os sapatos, cujos valores começam em 150 dólares, foram pensados para atingir uma qualidade 30% melhor e um valor 30% abaixo do que um modelo da marca Stuart Weitzman: “Via muitos clientes andando pela Barneys e querendo comprar o modelo mais divertido do sapato de grife, mas acabavam levando o preto básico como uma justificativa em razão do preço tão alto. Na Larroudé, queria que o cliente pudesse comprar o sapato diferente com uma qualidade tão boa quanto as marcas internacionais e sem quebrar sua conta corrente”.

“Essa era a nossa teoria e na prática, principalmente neste momento em que as pessoas estão se vacinando e se preparando para sair novamente após o lockdown, existe o que chamamos de ‘revenge dressing’ ou ‘joyful dressing’. Os clientes não estão comprando a opção mais segura com a gente e sim o mais divertido. Isso para mim é trazer a moda de altíssima qualidade para mais pessoas”, entrega.

Cases de sucesso no varejo

O primeiro pedido da marca começou inicialmente com 150 pares do mesmo modelo. Atualmente já são encomendados mais de 500 pares por modelo. Entre os best-sellers está a sandália Gloria, em homenagem a filha mais velha do casal Larroudé, cujos pedidos foram quadruplicados.

“As estampas têm uma aceitação incrível. Lançamos a coleção especial com estampa de maconha e pensamos na ideia de soltar no site as 4h20 da manhã, porque tem toda uma história por trás. No início ficamos na dúvida achando que ninguém compraria sapato as 4h20 da manhã, mas encaramos o marketing. Para nossa surpresa, as 4h25 já tínhamos 10 pedidos e estamos praticamente sold out deste modelo”, atesta Marina que também preparou uma coleção especial para o mês do Pride (junho) onde parte do lucro será doado.

Marina Larroudé veste a mule Colette da Larroudé (Foto: Divulgação/ Larroudé )

Marina Larroudé veste a mule Colette da Larroudé (Foto: Divulgação/ Larroudé )

Pilares essenciais da Larroudé 
Desde o início, a Larroudé foi pensada para ter uma identidade própria. “Não queria que o produto tivesse a cara da Marina, era importante que tivesse algo a dizer”, afirma.

Ao navegar pelos canais da @larroude, o objetivo é que você se sinta parte dessa história. “O consumidor precisa enxergar que ele é bem-vindo. Quando trabalhava com moda, muitas vezes a clientes admirava a marca, mas imaginava que aquilo não é para ela. E é completamente o oposto que eu imaginei. A Larroudé tinha que ser inspiradora, mas divertida, real e acessível. A marca está em 2021. O mercado de sapatos aqui nos Estados Unidos estava bem dormente, não existia uma voz por trás”, diz a fundadora.

Responsabilidade social e ambiental

Fabricada no Brasil, a etiqueta trabalha exclusivamente com fábricas onde as normas da ILO (International Label Organization) são seguidas de perto, garantindo o direitos e beneficios dos trabalhadores.

Todo o couro utilizado provém de curtumes locais com certificação Gold do Leather Working Group, um grupo independente de curtumes e fabricantes que trabalham com práticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que reduzem o impacto ambiental do trabalho com o couro.

“Ainda precisamos aprimorar muito e o objetivo a longo prazo é conseguir fazer um sapato 100% sustentável ou trabalhar com fábricas que também ajam dessa maneira”, observa Marina.

Especificações do modelo Gloria, best-seller da Larroudé (Foto: Divulgação/ Larroudé )

Detalhes que fazem do modelo Gloria um best-seller da Larroudé (Foto: Divulgação/ Larroudé )

QR Ccode na sola do sapato

O propósito de alavancar as vendas vai além do marketing interno e ganha força nas ruas através de uma tecnologia patenteada pela marca, em que cada sapato carrega um QR code impresso no solado. 

“Essa ideia surgiu depois de uma ida a um restaurante na pandemia quando todos os menus se tornaram digitais. Um dia em casa, minha filha Gloria questionou por que não fazíamos um cartão de visitas com essa tecnologia. O Ricardo é super tecnológico e viu que existia uma ideia a ser trabalhada”, conta. 

O propósito de alavancar as vendas vai além do marketing interno e ganha força nas ruas através de uma tecnologia patenteada pela marca, em que cada sapato carrega um QR code impresso no solado (Foto: Divulgação/ Larroudé )

O propósito de alavancar as vendas vai além do marketing interno e ganha força nas ruas através de uma tecnologia patenteada pela marca, em que cada sapato carrega um QR code impresso no solado (Foto: Divulgação/ Larroudé )

Após um breve cadastro que garante um voucher de 20 dólares, os clientes conseguem recomendar os modelos para as amigas, que podem efetuar a compra daquela peça exata ao apontar o celular para o QR Code. A cliente recebe um crédito extra de 20 dólares para cada compra efetuada após a indicação, e a amiga, um desconto, incentivando as recomendações constantes e a interação digital. “É um senso de comunidade e que todo mundo sai ganhando. Se eu tivesse vendido todas as roupas que eu já disse de onde eram, seria muito vantajoso”, finaliza.

Infelizmente a marca ainda não vende e nem entrega seus produtos no Brasil, mas fica o convite para grandes compradores nacionais e claro, o desejo imediato pelas peças que oferecem um frescor necessário para os looks que estamos ansiosos para usar.