Bolsas e índices

Por Beatriz Pacheco, Valor Investe — São Paulo


Nesta sexta (21), o Ibovespa salvou sua primeira semana de ganhos depois de quatro semanas seguidas de perdas. Tudo bem, não foi um saldo de fazer o coração do investidor de bolsa bater mais forte, mas é algum avanço. Aliás, o maior do índice numa sessão desde o dia 6 de junho.

Ainda mais se considerarmos que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou mais dois ataques ao Banco Central (BC) hoje. Mas também não trouxe nada novo em relação às críticas que veio fazendo nos últimos dois dias.

Então o mercado deu de ombros às falas do chefe do Planalto.

  • A ponto de o Ibovespa ter emendado seu quarto pregão seguido em alta, com ganho de 0,74%. Fechou hoje nos 121.341 pontos, patamar abandonado em 11 de junho e recuperado agora, 10 dias depois. O índice acumulou 1,4% de ganhos na semana. No mês, ainda tem queda, de 0,62%. No ano, cai 9,57%.

Até o dólar, que vinha tão sensível ao cenário externo e ao conflito doméstico entre Lula e o BC, hoje conseguiu cair.

  • O dólar comercial recuou 0,4% hoje e foi a R$ 5,44. Mas a queda não suficiente para apagar a alta da semana, que ficou em 1,1%. No mês, o câmbio à vista avançou 3,65%, o que o levou a ficar 12,13% mais caro de janeiro até hoje.

Mas não foi só um otimismo destravado pela votação unânime do Copom que sustentou o índice nesta sexta.

Hoje foi dia de vencimento de opções sobre ações, o que ajudou a movimentar o Ibovespa. Este tipo de contrato determina um preço para a ação-alvo e tem prazo máximo para que o detentor exerça seu direito de compra ou venda. Ou seja, que ainda tinha o derivativo precisou liquidá-lo hoje.

  • Assim, o Ibovespa girou R$ 23,3 bilhões hoje, 38% mais que a média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,9 bilhões.

Geralmente, no pregão da terceira sexta-feira de cada mês vencem esses derivativos. As opções sobre ações foram criadas como forma de mitigar riscos de oscilação de preço, por fixar um valor de venda ou de compra de um ativo para um período à frente.

Para exercer o direito de compra, fixa um valor no futuro abaixo do que projeta para o ativo, para o direito de venda, a lógica é inversa. Por isso, as opções sobre ações acabam servindo a estratégias especulativas também.

E a bolsa brasileira virou um terreno fértil para especuladores.

A volta por cima do Ibovespa

Desde o período de 13 a 17 de maio, ou seja, há mais de um mês que o Ibovespa não conseguia sustentar alta numa semana. O que acontece é que a nossa bolsa está muito sensível a fatores macroeconômicos, independentemente do fundamento das empresas.

Então as ações brasileiras acabam se movimentando em bloco, conforme o panorama muda. E este movimento pressiona o Ibovespa. Quer dizer, à exceção de novidades sobre Vale e Petrobras, cujos papéis têm peso suficiente para carregar o índice praticamente sozinhas, o índice está sempre à mercê do noticiário econômico.

Mas a agenda econômica estava praticamente vazia hoje. Com isso, as empresas conseguiram brilhar. Em partes…

  • Das 86 ações na carteira do Ibovespa, apena 25 caíram nesta sessão. O destaque positivo de hoje foi Sabesp, que, embora não tenha sido a maior alta do dia, com a divulgação do prospecto de privatização da companhia de saneamento do Estado de São Paulo. As ações subiram 3,87%, a R$ 74,85.

Na liderança das valorizações do Ibovespa hoje aparece o papel da Cogna, que desde 23 de maio não alcança o patamar dos R$ 2. Isso transformou o ativo em alvo para especuladores. Por isso, com o vencimento de opções sobre ações hoje, a ação avançou 7,41%, a R$ 1,74.

A Cogna, companhia do setor de educação privada, é uma companhia sensível aos juros, prejudicada pela manutenção da Selic nos 10,5% ao ano. O ambiente de restrição à circulação do capital não só encarece a dívida da empresa, que estava em quase R$ 3,3 bilhões em 30 de março, como pressiona o bolso dos consumidores. Ou seja, afeta suas receitas e eleva seus custos.

Mas não só as dela. Varejistas, construtoras, bancos e empresas de logística também são mais afetadas por um cenário de juros em campo restritivo por tanto tempo.

E todas tiveram um alívio hoje com a correção majoritariamente baixista na curva dos futuros de juros. O que tem acontecido por aqui é basicamente a correção pela “retirada” do prêmio de risco que o mercado havia embutido nas taxas, pela perspectiva de um cenário preocupante para a política monetária.

  • Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. A Taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 reajustou de 10,62% ontem para 10,60% no fechamento de hoje. Já para janeiro de 2034, caiu de 12,16% para 12,04%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo ("risco fiscal", se preferir).

Então, mesmo numa semana em que o Copom soltou um comunicado “duro” e deu adeus aos cortes na Selic, as taxas de juros reajustaram para baixo, e o Ibovespa subiu.

O futuro do Banco Central

Já era sabido que o comitê decidiria por manter a Selic nos 10,5% ao ano. Como manteve. A maioria dos investidores apostava que fosse dado por encerrado o ciclo de cortes nos juros. Como foi - pelo menos no horizonte relevante.

A expectativa era o resultado da votação. Ou seja, o caminho importava mais que o destino. E o adotado pelo Copom foi o da unanimidade. Assim, o mercado respirou aliviado.

Os quatro diretores do comitê indicados pelo atual governo se alinharam ao presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, na votação de junho. Para o mercado, o entendimento foi de que esses executivos priorizaram a avaliação técnica, dando de ombros à pressão política.

Por exemplo: quem será o indicado de Lula para a presidência do BC? O nome de Gabriel Galípolo está ganhando força.

Para começar, o diretor não saiu queimado da última votação do Copom. Nos bastidores, o Planalto tem demonstrado compreensão da posição em que Galípolo estava, que uma dissidência comprometeria sua candidatura à sucessão de Campos Neto.

Galípolo também é um dos diretores ligados ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Assim, é um nome a contento de uma ala do governo e até de investidores, visto a recepção que teve no mercado financeiro nos últimos dias os rumores sobre seu fortalecimento na corrida.

Mas o PT parece ainda considerar outros nomes, conforme apurou o Valor.

Nesse cabo de guerra, Lula tem em conta a popularidade do seu governo, que pode ser afetada pelos efeitos da política monetária em campo restritivo por tanto tempo - como ele mostra se preocupar.

Certo é que nenhuma vitória é garantida em ano eleitoral - nem a política, nem a econômica.

Movimento das ações do Ibovespa em 21/06/2024

Código Nome Abertura Mínima Média Máxima Fechamento Var. %
COGN3 COGNA ON 1,61 1,58 1,69 1,74 1,74 7,41
RENT3 LOCALIZA ON 39,51 39,25 41,40 41,98 41,70 5,22
EMBR3 EMBRAER ON 36,48 36,23 37,30 37,87 37,87 4,18
RADL3 RAIA DROGASIL ON 24,76 24,65 25,60 25,80 25,80 4,07
RAIZ4 RAIZEN PN 2,76 2,75 2,85 2,89 2,89 3,96
TRPL4 TRANS PAULISTA PN 25,48 25,42 26,50 26,72 26,47 3,89
SBSP3 SABESP ON 73,64 73,02 74,79 75,55 74,85 3,87
JBSS3 JBS ON 29,36 29,27 30,45 30,90 30,67 3,86
CMIG4 CEMIG PN 10,25 10,25 10,48 10,55 10,51 2,54
RDOR3 REDE D OR ON 25,45 25,36 26,16 26,38 26,35 2,37
RAIL3 RUMO S.A. ON 19,64 19,55 19,91 20,08 20,05 2,30
CYRE3 CYRELA REALT ON 18,60 18,45 18,88 19,13 18,98 2,10
ENGI11 ENERGISA UNT 43,76 43,76 44,96 45,25 44,99 2,06
BPAC11 BTGP BANCO UNT 31,59 31,51 32,32 32,55 32,48 2,04
CPLE6 COPEL PNB 9,01 8,99 9,16 9,21 9,21 1,99
GGBR4 GERDAU PN 17,28 17,21 17,66 17,83 17,74 1,95
VBBR3 VIBRA ON 20,42 20,36 20,92 21,11 20,93 1,90
VIVA3 VIVARA ON 20,07 20,00 20,50 20,80 20,45 1,89
CSAN3 COSAN ON 12,68 12,57 12,91 13,02 12,89 1,66
EQTL3 EQUATORIAL ON 28,76 28,76 29,18 29,31 29,27 1,63
MGLU3 MAGAZ LUIZA ON 10,70 10,56 10,80 10,99 10,83 1,50
SUZB3 SUZANO S.A. ON 48,15 47,92 48,74 49,13 48,85 1,45
NTCO3 GRUPO NATURA ON 14,81 14,80 15,14 15,29 15,11 1,41
VAMO3 VAMOS ON 7,33 7,21 7,46 7,59 7,50 1,35
BRFS3 BRF SA ON 20,36 20,19 20,52 20,71 20,55 1,18
TOTS3 TOTVS ON 29,34 29,16 29,72 29,89 29,83 1,15
IGTI11 IGUATEMI S.A UNT 19,50 19,43 19,73 20,04 19,72 1,13
MRFG3 MARFRIG ON 11,06 10,99 11,14 11,25 11,25 1,08
ENEV3 ENEVA ON 12,20 12,16 12,38 12,49 12,43 1,06
IRBR3 IRBBRASIL RE ON 31,32 30,83 31,22 31,66 31,63 0,99
GOAU4 GERDAU MET PN 10,19 10,14 10,27 10,35 10,34 0,98
PRIO3 PETRORIO ON 40,99 40,90 41,39 41,75 41,33 0,93
ALOS3 ALLOS ON NM 20,59 20,55 20,81 21,07 20,83 0,92
CCRO3 CCR SA ON 11,85 11,85 12,05 12,19 12,03 0,92
MRVE3 MRV ON 6,55 6,45 6,60 6,77 6,63 0,91
HYPE3 HYPERA ON 28,92 28,38 28,85 29,05 29,05 0,90
BBAS3 BRASIL ON 26,40 26,28 26,53 26,62 26,61 0,83
CMIN3 CSN MINERACAO ON 5,11 5,08 5,15 5,20 5,19 0,78
WEGE3 WEG ON 40,72 40,47 41,10 41,41 41,08 0,74
B3SA3 B3 ON 10,33 10,28 10,38 10,44 10,39 0,68
BBDC3 BRADESCO ON 11,07 11,03 11,14 11,20 11,14 0,63
PETR4 PETROBRAS PN 36,55 36,38 36,72 36,96 36,72 0,60
BBSE3 BB SEGURIDADE ON 32,66 32,51 32,93 33,06 32,90 0,58
ELET3 ELETROBRAS ON 34,42 34,15 34,61 34,84 34,69 0,58
ITUB4 ITAU UNIBANCO PN 31,88 31,64 31,96 32,18 31,88 0,58
PETZ3 PETZ ON 3,44 3,39 3,47 3,50 3,45 0,58
HAPV3 HAPVIDA ON 3,62 3,56 3,64 3,69 3,67 0,55
TIMS3 TIM ON 15,69 15,63 15,76 15,87 15,78 0,51
ELET6 ELETROBRAS PNB 38,50 38,35 38,81 39,04 38,91 0,46
RRRP3 3R PETROLEUM ON 25,42 25,20 25,41 25,65 25,61 0,43
CPFE3 CPFL ENERGIA ON 32,52 32,36 32,56 32,69 32,63 0,37
EGIE3 ENGIE BRASIL ON 43,96 43,65 44,09 44,27 44,12 0,36
FLRY3 FLEURY ON 14,08 14,05 14,19 14,30 14,21 0,35
TAEE11 TAESA UNIT 33,55 33,37 33,71 33,91 33,60 0,33
UGPA3 ULTRAPAR ON 21,35 21,35 21,62 21,87 21,59 0,28
EZTC3 EZTEC ON 12,90 12,75 12,90 13,08 12,90 0,16
LREN3 LOJAS RENNER ON 12,48 12,33 12,50 12,65 12,53 0,16
KLBN11 KLABIN S/A UNT 20,66 20,45 20,64 20,82 20,59 0,15
ABEV3 AMBEV S/A ON 11,21 11,21 11,29 11,38 11,28 0,00
BRKM5 BRASKEM PNA 17,90 17,41 17,79 18,20 17,95 0,00
SOMA3 GRUPO SOMA ON 5,84 5,79 5,90 6,03 5,86 0,00
MULT3 MULTIPLAN ON 22,29 21,99 22,19 22,45 22,20 -0,05
BBDC4 BRADESCO PN 12,33 12,33 12,41 12,50 12,40 -0,08
CRFB3 CARREFOUR BR ON 8,85 8,69 8,90 8,99 8,91 -0,11
CIEL3 CIELO ON 5,64 5,61 5,63 5,65 5,64 -0,18
SANB11 SANTANDER BR UNIT 27,40 27,28 27,43 27,59 27,54 -0,18
PETR3 PETROBRAS ON 38,39 38,25 38,35 38,70 38,31 -0,23
VIVT3 TELEF BRASIL ON 44,40 44,25 44,53 44,80 44,49 -0,38
SMTO3 SAO MARTINHO ON 32,50 32,11 32,41 32,76 32,37 -0,40
ITSA4 ITAUSA PN 9,68 9,65 9,72 9,82 9,68 -0,41
ARZZ3 AREZZO CO ON 49,85 49,41 49,82 50,67 49,59 -0,52
CVCB3 CVC BRASIL ON 1,90 1,88 1,90 1,93 1,90 -0,52
ASAI3 ASSAI ON 10,83 10,67 10,79 10,93 10,79 -0,64
AZUL4 AZUL PN 7,77 7,64 7,76 7,99 7,68 -0,65
LWSA3 LWSA ON 4,01 3,95 4,00 4,09 3,99 -0,75
DXCO3 DEXCO ON 6,62 6,53 6,59 6,72 6,60 -0,90
USIM5 USIMINAS PNA 7,56 7,46 7,54 7,60 7,54 -0,92
VALE3 VALE ON 61,03 60,74 60,93 61,36 60,83 -0,93
YDUQ3 YDUQS PART ON 10,84 10,59 10,85 11,04 10,84 -1,19
SLCE3 SLC AGRICOLA ON 17,63 17,38 17,47 17,67 17,46 -1,36
BRAP4 BRADESPAR PN 18,15 17,97 18,03 18,19 17,97 -1,43
ALPA4 ALPARGATAS PN 8,99 8,81 8,92 9,07 8,85 -1,88
BEEF3 MINERVA ON 6,54 6,44 6,50 6,60 6,45 -1,98
PCAR3 P.ACUCAR - CBD ON 3,00 2,92 2,95 3,05 2,92 -2,67
CSNA3 SID NACIONAL ON 12,89 12,56 12,68 12,91 12,65 -2,69
RECV3 PETRORECSA ON 18,73 18,25 18,50 18,94 18,25 -2,93
Alta — Foto: Getty images
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