Criptomoedas

Por Rafael Gregorio, Valor Investe — São Paulo

Se você já entendeu o que são criptomoedas, o próximo passo é sair comprando e vendendo esses ativos digitais como se não houvesse amanhã, certo?

Errado, dizem em uníssono os especialistas no tema.

“O mais interessante é passar um tempo estudando antes”, afirma Victor Aprigliano, presidente da Blockchain Insper, um grupo de estudos fundado por alunos do Insper no fim de 2017 e dedicado às sobre moedas digitais e às tecnologias que as cercam.

O primeiro requisito, diz Aprigliano, é “entender que se trata de um ativo muito volátil e se cercar de fontes confiáveis e pessoas que já conheçam o tema”.

Avaliar a adequação ao perfil de investimentos é outro requisito, ressalta Alan De Genaro, professor da FGV.

“É um ativo com risco maior ainda do que há nas ações; se você não negocia na Bolsa por achar arriscado, então não deveria nem cogitar Bitcoins”, ele alerta.

Daí que seja uma recomendação frequente até para investidores de perfil arrojado não aplicar mais de 5% do patrimônio em moedas digitais.

Um caso recente ilustra a dimensão dos riscos: mesmo os maiores especialistas do mundo não fazem ideia de por que o Bitcoin, a mais famosa das criptomoedas, teve uma disparada de mais de 20% em sua cotação em menos de uma hora no último dia 1º de Abril.

Analistas especulam se o gatilho para essa alta não teria sido um relatório falso, difundido como piada de Dia da Mentira, afirmando que a Securities and Exchange Commission (SEC) – equivalente à CVM nos Estados Unidos – teria aprovado dois fundos de investimentos lastreados em criptomoedas.

Se fosse verdade, teria sido um importante precedente, pois ainda impera um vácuo regulatório na medida em que as criptomoedas não são plenamente contempladas por governos e órgãos reguladores, como a SEC e a CVM.

Uma semana depois da misteriosa valorização do Bitcoin, o analista Peter Mallouk, presidente da empresa americana de gestão de patrimônios Creative Planning, afirmou que "O mais provável é que vejamos todas essas criptomoedas colapsarem em breve".

"Talvez uma ou duas delas perdurem, mas, na minha visão, moedas digitais são pura especulação", acrescentou, ecoando opinião comum entre parte dos especialistas.

Outro requisito para mergulhar nas criptomoedas é compreender que a natureza descentralizada e a intensa criptografia empregada para coibir ameaças de hackers não deixam margem para erros.

“Quando você perde a senha do banco”, exemplifica Genaro, “pode solicitar uma segunda via. Mas, se perder a senha da sua carteira digital, não terá mais como movimentar esses ativos”.

Uma alternativa é utilizar os serviços de empresas que vendem tokens físicos para armazenar senhas; uma vez extraviado o dispositivo, é possível solicitar um novo.

Especialistas também recomendam compartilhar a senha de acesso à carteira digital com uma pessoa de confiança, o que evita a inacessibilidade em casos como o de morte do investidor.

Outros percalços para os quais não há volta são aqueles que Aprigliano chama de "erros humanos": "Muitas das ferramentas e sites são em inglês, e o investidor precisa fazer tudo sozinho, não tem alguém que faça por você, como nos investimentos em ações. A pessoa pode se enganar: se digitar um endereço errado ou esquecer uma senha, essa criptomoeda será perdida".

Um terceiro risco apontado por especialistas é o de comprar moedas sem lastro ou de cair em pirâmides, quase sempre no embalo de promessas de rendimentos acima do comum.

Diferentemente do que acontece no mercado de ações, para negociar moedas digitais não é requisito contratar uma empresa de intermediação e corretagem.

Ainda assim, utilizar os serviços de agências de venda de criptomoedas, popularmente chamadas de corretoras, embora não sejam assim reconhecidas, pode ser importante para evitar armadilhas.

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Dicas para começar a investir em criptomoedas:

  1. Não se contente com conselhos de amigos e familiares; pesquise
  2. Conheça o lastro da moeda que ambiciona comprar
  3. Evite a ganância e fuja de promessas de lucro fácil e acima do normal
  4. Não invista mais do que 5% de seu capital em criptomoedas
  5. Mantenha controle rigoroso sobre senhas e considere utilizar tokens

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“São pessoas jurídicas que atuam como intermediárias na compra e venda, mas não são reguladas pela CVM ou pela B3”, explica Genaro.

Servem de exemplos empresas como Mercado Bitcoin, Foxbit e Braziliex, no Brasil, além de casas como Poloniex, Bittrex e Bitfinex no exterior.

No geral, essas casas operam da mesma maneira: o usuário cria uma conta e informa o valor ou a quantidade de moedas que ambiciona negociar. É possível fazer transferências de contas correntes em bancos tanto para a aquisição quanto para a liquidação.

Também é possível - e recomendado para iniciantes - comprar Bitcoins e outras criptomoedas via corretoras tradicionais que oferecem esse serviço.

Outro risco inerente a esse investimento é o da liquidez limitada. Algumas criptomoedas são negociadas com facilidade, mas essa não é uma regra; o investidor pode ter dificuldades para encontrar comprador e, caso precise do dinheiro, terá de aceitar preço abaixo do mercado.

“Não acredite em milagres: ninguém vai ficar milionário da noite para o dia, e a maior chance é de perder dinheiro”, diz Genaro. Ele lembra 2017, quando o Bitcoin chegou a US$ 17 mil, mas, depois, despencou até patamares próximos do atual, de cerca de US$ 5 mil.

Ou seja, se você é um investidor mais conservador, que prefere ganhar menos e não ver o seu dinheiro subindo e descendo como se numa montanha russa, criptomoedas não são o destino ideal para suas economias.

Sobressai um alerta: o negócio das moedas virtuais tem constante evolução e demanda atualização intensa mesmo de quem respira o assunto. “Todo dia muda tudo”, diz Ricardo Rochman, coordenador de um programa de mestrado sobre o tema na FGV.

Genaro reforça essa percepção. “Não só o preço, mas tudo associado ao ecossistema das moedas digitais muda com velocidade incrível; tenho que me atualizar diariamente.”

Também é conveniente consultar as “listas negras das criptomoedas”, como o site ScamBitCoin, alimentadas por usuários que desconfiam de atos ilegais ou ativos fraudulentos.

“É preciso saber onde e de quem se está comprando. Há criptomoedas sérias, mas há também armadilhas, como títulos que não existem, e golpes, como pirâmides financeiras”, diz Rochman.

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