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Por Redação Glamour


Hashtags, movimentos antirracistas, vídeos que viralizam nas redes, livros teóricos: por meio de algum desses você, por certo, deve ter tido contato com o termo racismo estrutural. Mas, afinal, o que ele significa? "O racismo estrutural é a maneira como as pessoas negras e indígenas são colocadas de fora do projeto de sociedade que vivemos. E por estarem fora, mas ainda presentes, são alvos de silenciamento, embranquecimento e extermínio", explica a mestre em políticas sociais Obirin Odara. Para compreender mais a fundo as causas e consequências dessa estrutura que perpassa as relações sociais, políticas, econômicas e culturais, nossa colunista explica a seguir:

O que é racismo estrutural? (Foto: Leticia Oliveira) — Foto: Glamour
O que é racismo estrutural? (Foto: Leticia Oliveira) — Foto: Glamour

Como o racismo estrutural se manifesta na sociedade?
Se manifesta a partir de tudo que a compõe. Desde a formação dos territórios; pela marginalização das pessoas negras; o ataque constante à territórios de comunidades tradicionais (povos tradicionais e quilombolas); o conteúdo ético e estético das mídias, com a ausência de pessoas negras e indígenas como protagonistas e produtores de conteúdo; a abordagem policial, que violenta sistematicamente pessoas negras; a lógica de que conhecimento só se produz na universidade, e a forma como isso deslegitima o saber ancestral e comunitário das pessoas negras e indígenas; a ideia de um Deus branco que mora no céu, a demonização dos orixás, dentre outros. O racismo estrutural, portanto, é a maneira como as pessoas negras e indígenas são colocadas de fora do projeto de sociedade que vivemos. E por estarem fora, mas ainda estarem presentes, são alvos constante de silenciamento, embranquecimento e extermínio.

Quais são os grupos afetados por essa estruturação social?
O racismo estrutural é a forma com que todas as instituições modernas funcionam com base no projeto colonial branco. Ou seja, o racismo inventado pelo Europeu e refinado pela branquitude internacional é um ódio e um temor às pessoas negras e indígenas. Ódio, porque o branco projeta no negro e no indígena algo que quer exterminar. E temor, porque a branquitude sabe que o conhecimento africano e pindorâmico colocam em xeque a cultura de morte estabelecida pela Europa.

Como grupos privilegiados utilizam dos mecanismos do racismo para a manutenção de seus privilégios?
A sociedade está construída com base em um projeto e quem determina esse projeto estabelece caminhos diferentes para pessoas brancas, negras e indígenas nesta sociedade colonizada. Os privilégios das pessoas brancas, portanto, são muitas vezes a garantia de direitos básicos como “poder viver”, enquanto existir é um direito historicamente negado para pessoas negras e indígenas, não à toa a cada 23 minutos morre um jovem negro neste país. Além de direitos básicos como este, bem como o acesso à renda, trabalhos formais, educação superior, cargos de gestão, dentre outros, há os privilégios estruturais referentes ao fato de que 1% da população com maior rendimento no Brasil é 79,7% branca (IBGE, 2016). E também culturais, afinal, o quanto o brasileiro conhece sobre o continente africano ou sobre as milhares de etnias dos povos indígenas no nosso país e seus modos de viver a vida, a economia, o corpo e o território?

O que é racismo estrutural? (Foto: @naomecolonize) — Foto: Glamour
O que é racismo estrutural? (Foto: @naomecolonize) — Foto: Glamour

Qual a importância do entendimento do racismo estrutural para efetivas mudanças na sociedade brasileira?
Reconhecer os problemas fundadores do nosso próprio território nacional e assumir as violências materiais e subjetivas contra a população negra e indígena. Esse é o primeiro passo para a construção de alternativas que alarguem a experiência dessas pessoas neste país. Precisamos vivenciar outros contextos de vida em que ser o que somos não limite nossa existência e sonhos. Contudo, apesar do antirracismo gerar novas possibilidades, o que precisamos é de deixar com que os povos africanos do continente e da diáspora, bem como os povos pindorâmicos da América, participem da construção de uma nova civilização em que a Europa não esteja no centro.

Por que se fala que o racismo estrutural faz parte da formação do Brasil?
Porque a raciologia (estudo das raças) foi o ponto do qual europeus partiram para determinar sua relação com os outros povos. Para eles, o fenótipo e a cultura dos pindorâmicos e africanos deveriam ser apagadas em nome da europeização dos mesmos. Com base nesta construção da diferença tendo como ponto de partida o corpo e a cultura, os europeus insistiram em fazer do povo negro e indígena um povo a ser exterminado – o que são e tudo que sabem. Apesar de ser possível embranquecer a cultura destes povos a partir de todas violências coloniais, não foi possível nos apagar completamente: afinal, apesar da miscigenação forçada, da escravidão, extermínios, da falta de leis que nos amparasse, estamos aqui!

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