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Por Luiza Brasil


Representatividade importa. Felizmente, de uns anos para cá, a relevância desse conceito tem sido assimilada por negros e não negros, que entendem que a necessidade de espaços mais diversos é algo que vai além da troca cultural e social: trata-se de um ato político dentro de uma sociedade que se diz antirracista. Estamos em mais empresas, nossas imagens circulam melhor pela mídia e publicidade, colaboradores, clientes e seguidores estão cada vez mais atentos e exigentes ao discurso de inclusão. É um grande avanço? Sem dúvidas. Mas, como costumo falar, a responsabilidade social da diversidade é uma maratona repleta de conquistas gloriosas, porém sem linha de chegada.

“Uma pessoa negra não pode representar um grupo inteiro” (Foto: Getty Images e divulgação. Arte Iago Francisco) — Foto: Glamour
“Uma pessoa negra não pode representar um grupo inteiro” (Foto: Getty Images e divulgação. Arte Iago Francisco) — Foto: Glamour

Então, quer dizer que tudo que foi feito até o momento é irrelevante, Luiza? De forma alguma! Vivemos em um País cuja dívida histórica com negros e índios é enorme e perdura há séculos. Políticas públicas e de acessos são extremamente importantes. Mas a realidade é que, quando trazemos as minorias para um contexto atual, o que está em pauta são o genocídio da população indígena e o extermínio da comunidade negra – que, por muito tempo, teve como única capa possível a dos jornais policiais. Isso sem mencionarmos os índices de feminicídio e violência contra a população trans... Baixo-astral? Sim, porém #verdades.

Voltando para o recorte racial negro: uma das fadas sensatas que mais tenho acompanhado entre as intelectuais contemporâneas é Joice Berth (@joiceberth). Em suas redes, a arquiteta e escritora dá aula sobre proporcionalidade e argumenta os motivos de a representatividade só se fazer valer se for proporcional. “Uma pessoa negra não pode representar um grupo inteiro. Existe diversidade dentro da diversidade. É raro eu me sentir representada por figuras negras de notoriedade nas mídias, porque a maioria teve sua imagem distorcida para atender à narrativa da meritocracia, que elimina a humanidade e a originalidade dessas pessoas”, diz Joice.

Ao ler sobre essa perspectiva da escritora, comecei a traçar questionamentos diante das minhas vivências: por que, com o meu trabalho de influência, quase nunca faço jobs com minhas amigas negras? Qual o motivo de ainda ser tão comum escolherem umx negrx únicx (o token), que acaba carregando nas costas todo o peso da fatia de 54,6% da população brasileira?

É, anjxs, a resposta para essas perguntas é o senso de representatividade, que, quando deturpado, nos coloca em verdadeiras arenas de competição em busca desse lugar único de aceitação. E, agora, quem poderá nos defender? Além de nós mesmos, toda a parcela da sociedade que se declara antirracista.

Não dá para falar em proporcionalidade se não puxarmos outro conceito importantíssimo que é o da equidade. Dentro do universo corporativo, tenho acompanhado cada vez mais o trabalho de consultorias como a Empregue Afro (@empregueafro) e a Indique Uma Preta (@indiqueumapreta), que mais do que importantes redes de apoio e empregabilidade são agentes transformadores dentro da cultura empresarial, desenvolvendo o real senso igualitário nesses espaços. Invista sua energia, tempo e carteira nessas iniciativas. Afinal, se representatividade importa, proporcionalidade humaniza.

@mequetrefismos Luiza Brasil é jornalista, fashionista, crespa assumida e ativista racial. Aqui, na coluna Caixa Preta, compartilhará insights sobre moda, comportamento y otras cositas más... (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
@mequetrefismos Luiza Brasil é jornalista, fashionista, crespa assumida e ativista racial. Aqui, na coluna Caixa Preta, compartilhará insights sobre moda, comportamento y otras cositas más... (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
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