Luiza
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Por Luiza Brasil


Completei dez anos de carreira na comunicação. Expectativa: celebrar as conquistas que tive ao longo desse tempo e já me renderam os mais variados elogios de grandes profissionais do mercado, convites irrecusáveis de trabalho, prêmios, capas de revista (como a belíssima edição de maio da Glamour), entre outros reconhecimentos importantes para quem está penetrando em espaços cada vez mais relevantes contando apenas com a competência e um certo jogo de cintura para ocupá-los. Realidade: mesmo diante de tantas maravilhas, ainda persisto em me perguntar: “Mas será que eu sou boa o suficiente para tudo isso”?

“Você começa a desacreditar que é merecedora das suas vitórias” (Foto: Arte Iago Francisco) — Foto: Glamour
“Você começa a desacreditar que é merecedora das suas vitórias” (Foto: Arte Iago Francisco) — Foto: Glamour

Sim, eu sei, quem me acompanha tanto aqui, quanto pelo meu perfil @mequetrefismos no Insta, me entende como aquela mana superempoderada, cheia das ideias disruptivas, dona de si e pleníssima. Mas não se enganem, carxs! Por trás de cada mulher que conquista novos lugares com poucos ou nulos referenciais, a chance de tudo isso vir acompanhado de culpa e vulnerabilidade cresce em proporções alarmantes.

Conversando com uma amiga sobre esse sufocante sentimento, descobri que eu não estava sozinha. E todo esse massacre emocional que ronda o nosso prestígio tem nome: Síndrome do Impostor. O distúrbio atinge cerca de 70% das pessoas bem-sucedidas e faz com que uma crença interna te convença a sentir que nunca é boa o suficiente. É uma constante sensação de fraude. De que todo o seu sucesso não vem das habilidades e do talento, mas sim de um mero acaso. A síndrome atinge principalmente mulheres e, certamente, é ainda mais cruel conosco, mulheres negras.

O motivo não é novo e a equação é simples: basta olhar para a estrutura machista e racista que ainda ronda o mercado de trabalho; adicione a autocobrança tripla da população feminina preta para estar nos lugares (quem de nós nunca ouviu que temos de nos esforçar infinitamente mais para sermos validadas nos espaços de liderança da branquitude?); e divida pelo esforço descomunal de ser aceita nos ambientes. O resultado? Uma baixa autoestima, o não pertencimento e a sensação de que se é uma grande farsa.

Isso nos desgasta, deprime e adoece. A impressão de que o corpo e a cabeça não acompanham a quantidade de solicitações e o tamanho da sua responsabilidade no mundo é paralisante. Você quer estar a postos para toda essa generosidade do mundão, mas mecanismos ainda mais traiçoeiros, como a autossabotagem e o esgotamento, dão aquela derrubada e você começa a desacreditar que é merecedora das suas vitórias. Isso aconteceu comigo e, provavelmente, contigo. Em outras proporções, com nomes como Serena Williams e Michelle Obama, que já falou publicamente sobre a síndrome. Em dimensões ainda mais graves, acometeu a Whitney Houston. É a nossa sanidade mental que está em jogo!

Resgato um vídeo da youtuber Gabi Oliveira (@gabidepretas), em que ela fala brilhantemente sobre a importância do cruzamento de gênero e raça quando mencionamos a Síndrome do Impostor. “Nossa autoestima enquanto mulher negra sempre foi destruída. (…) É totalmente compreensível que você se sinta fora do lugar. Tudo te leva a acreditar nisso. E esse sentimento faz com que se pense que a qualquer momento alguém vai descobrir que você não é ‘tão boa’ ou ‘tão capaz’ como dizem que é”, diz Gabi. E o drama só piora quando falamos da baixa autoestima intelectual preta. #Comofaz para lidar com isso, então?

Fuja do caminho da autocrítica insistente e busque a valorização. Compartilhe com amigos ou pessoas confiáveis as suas angústias. Eles muitas vezes conseguem enxergar as coisas com mais nitidez. Exerça a autocompaixão. Aceite que você tem limitações e que errar é humano. E, por fim, não recuse elogios – você os merece!

@mequetrefismos Luiza Brasil é jornalista, fashionista, crespa assumida e ativista racial. Aqui, na coluna Caixa Preta, compartilhará insights sobre moda, comportamento y otras cositas más... (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
@mequetrefismos Luiza Brasil é jornalista, fashionista, crespa assumida e ativista racial. Aqui, na coluna Caixa Preta, compartilhará insights sobre moda, comportamento y otras cositas más... (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
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