Vacina é Saúde
 

Por Fernanda Tsuji


Preste atenção neste dado: estima-se que o Brasil tenha ao menos 10 milhões de pessoas com HPV (sigla, em inglês, para papilomavírus humano), segundo o Ministério da Saúde. E mais: a cada ano, 700 mil novos casos de infecção são esperados. Parece bem sério, não é mesmo? Ainda assim, a taxa de vacinação continua baixa e longe da meta de 80% de imunizados. Se estamos vendo outras doenças, como a poliomielite e o sarampo, voltarem por conta da pouca aderência às vacinas, imagine, então, para as enfermidades ainda cercadas de preconceitos e desinformação como o HPV.

Que ele é uma infecção sexualmente transmissível (IST), a maioria já sabe, mas é preciso entender a gravidade e como pode afetar a sua família. O HPV é um grupo de mais de cem subtipos de vírus, sendo que uma parcela pode causar verrugas genitais (conhecidas como condilomas) e até cânceres. O mais conhecido é o câncer de colo de útero, o segundo tipo mais comum entre as mulheres de regiões menos desenvolvidas, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) calcula que a taxa de mortalidade pela doença é de 4,6 óbitos a cada 100 mil mulheres (2020).

A vacinação contra o HPV e sua importância para crianças, jovens e adultos — Foto: Getty Images
A vacinação contra o HPV e sua importância para crianças, jovens e adultos — Foto: Getty Images

Desafios da vacinação

Mas se existe vacina – no Brasil, gratuita desde 2014 no Sistema Único de Saúde (SUS) –, por que a aderência é tão baixa? Há alguns fatores particulares. O primeiro é a idade da primeira dose. Geralmente, os pais costumam estar atentos à caderneta de vacinação da criança pequena, mas, conforme crescem e as consultas no pediatra ficam menos frequentes, não é incomum que o documento fique desatualizado. E é bem nesse período, dos 9 aos 14 anos, que entra a prevenção contra o HPV.

57,2% das meninas estavam com o esquema vacinal completo, em 2021. E apenas 37,6% dos meninos — ambos, bem longe da meta de 80%
— Ministério da Saúde

Outro ponto é a queda geral na vacinação desde 2015 (dados do Datasus), agravada pela pandemia e pelo fortalecimento de grupos antivacina. De acordo com as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Unicef, globalmente, mais de um quarto da cobertura vacinal contra HPV alcançada em 2019 foi perdido, ficando em apenas 15% entre meninas e 4% entre meninos, em 2021. Além disso, 3,5 milhões de crianças perderam a primeira dose durante a pandemia. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2021, 57,2% das meninas estavam com o esquema vacinal completo e apenas 37,6% dos meninos. Bem longe do ideal. Por fim, em função de o HPV ser transmitido, principalmente, pelo sexo, acaba cercado de mitos e preconceitos.

Quanto antes, melhor

“Se meu filho ainda não tem vida sexual, para que vacinar?” Parece cedo para se preocupar com uma situação que só vai acontecer anos depois, mas saiba que a imunização precisa mesmo ser feita antes do início da atividade sexual. No Brasil, a vacinação tem como público-alvo meninas e meninos dos 9 aos 14 anos – os garotos de 9 entraram em setembro de 2022 no calendário, que antes só os vacinava a partir dos 11 anos. “Quanto mais precocemente imunizar, antes da exposição ao vírus, maior a sua eficácia. Por isso, tomar aos 9 anos é garantir um passaporte de imunidade, de prevenção para o futuro”, aponta a infectologista Carla Kobayashi, do Hospital Sírio-Libanês (SP).

É justamente o que pesquisadores da Universidade King’s College, no Reino Unido, descobriram ao analisar o impacto da vacina contra o HPV em mulheres. O estudo, publicado em 2021 no jornal científico The Lancet, mostra que quem recebeu o imunizante com 12-13 anos apresentou uma redução de 87% no risco de desenvolver um câncer de colo de útero na vida adulta, contra 34% de quem se vacinou aos 16-18 anos.

“É natural, vai chegar uma hora em que nossos filhos vão namorar. Então, por que não prevenir? Para as crianças, é só mais uma vacina como outras, mas elas ainda não têm como tomar sozinhas, então é nosso dever como pais protegê-las”, diz a analista judiciário Raquel Cristina Guedes de Lima, 38 anos.

Ela lembra que comemorou quando a vacina do HPV entrou no SUS, em 2014, porque nas clínicas particulares era muito caro. Aliás, ainda é: em média, cada dose custa R$ 500. Na época, ela levou a filha Laís, hoje com 17, ao posto e agora deve vacinar sua segunda filha, Sara, que acaba de completar 9 anos.

A seguir, saiba mais sobre o HPV e entenda de vez por que é importante a vacinação contra esse vírus, que pode, sim, afetar a saúde dos seus filhos no futuro.

 — Foto: Getty Images
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O que é

O papilomavírus humano possui mais de cem subtipos, sendo alguns deles de alto risco e cancerígenos. Trata-se de uma IST (infecção sexualmente transmissível), que pode causar verrugas na região oral, genital, anal e na uretra, assim como doenças malignas, como o câncer de vulva, ânus, pênis, boca, orofaringe e laringe, além do câncer de colo de útero.

Transmissão

O HPV é transmitido por meio da relação sexual ou pelo contato genital com mucosas infectadas, e mais raramente na transmissão vertical (mãe-filho) no parto. O pico do contágio ocorre quando há a presença de verrugas, mas também quando há as lesões subclínicas, as internas, que só podem ser vistas por meio do exame ginecológico ou urológico.

Incidência

“Cerca de 80% da população já foi exposta ao vírus, mas não são todos que desenvolverão a verruga ou o câncer”, explica a infectologista Carla Kobayashi. No caso de crianças que apresentarem sintomas, atenção! “Para nós, médicos, é muito importante, diante de um caso de verrugas genitais em crianças, cogitar o abuso sexual, alerta a ginecologista Márcia Sacramento Cunha Machado, membro da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Infanto-puberal da Febrasgo e Presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia.

Sintomas

A maioria das infecções por HPV costuma ser assintomática, transitória e nem sempre se desenvolve logo após o contágio. “O vírus se aproveita da imunidade baixa e é possível também já se ter um tipo de HPV, mas ser infectado por outro subtipo”, afirma Márcia.

As lesões clínicas visíveis se apresentam como verrugas contagiosas (condilomas), que podem coçar ou causar dor. Já as internas podem ser “silenciosas” e levar anos para se desenvolver. Por isso, é importante o acompanhamento do ginecologista e do urologista.

Diagnóstico

As verrugas são diagnosticadas pelo exame ginecológico, urológico, proctológico e/ou dermatológico. Já as lesões internas aparecem apenas em exames, como papanicolau, colposcopia, anuscopia e peniscopia, além de biópsias. “Podemos fazer uma captura híbrida, que é o exame laboratorial, onde a coleta é feita do colo do útero e enviada para análise. É importante também para diferenciar qual o subtipo e entender se pode ser oncogênico [cancerígeno]”, explica a ginecologista Márcia.

Tratamento

No caso das verrugas, o cuidado médico deve ser individualizado, considerando o tipo, a extensão e localização das lesões. O especialista poderá indicar tratamentos com medicação tópica ou cirúrgicos, com cauterização.

Já para as lesões internas no colo do útero, dependendo de cada caso, é possível realizar a conização (retirada de um pedaço acometido para biópsia) ou, ainda, cauterizar a lesão.

Prevenção

No Programa Nacional de Imunização (PNI) utiliza-se a vacina quadrivalente (HPV4), que, além de proteger contra os subtipos 16 e 18, responsáveis por 70% dos cânceres cervicouterino, peniano, anal e orofaríngeo, também combate os subtipos 6 e 11, relacionados aos condilomas.

Complicações

A maioria das infecções por HPV é tratável. No entanto, complicações mais sérias podem vir anos depois. É o tempo, por exemplo, que leva para o câncer de colo de útero dar os primeiros sinais. “Quando tratada, destruímos aquela lesão rica em HPV, reduzindo a quantidade do vírus. Assim, mesmo que a pessoa seja portadora, essa quantidade não vai ser capaz de promover uma modificação celular. Agora, se não for cuidada, a carga viral fica alta, o que pode alterar as células do colo do útero mutando-as para células cancerígenas”, explica a ginecologista da Febrasgo.

Quando e onde vacinar

Indicação de idade

  • Meninas e meninos de 9 a 14 anos: duas doses injetáveis, com intervalo de 6 meses
  • Mulheres e homens de 15 a 45 anos: três doses injetáveis, com intervalos de 2 e 6 meses após a primeira dose.

Onde tomar

  • No SUS, gratuitamente, até os 14 anos. Acima dessa idade, apenas para grupos especiais, caso dos imunossuprimidos (portadores de HIV/aids, pacientes oncológicos, transplantados de órgãos sólidos e de medula óssea)
  • Nas clínicas particulares, a partir dos 15 anos. O preço médio é R$ 500, cada dose.

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