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No último domingo (20), crianças menores de 5 anos de idade que moram em Lilongwe (capital do Malawi) começaram a ser vacinadas contra a poliomielite. O país está enfrentando um surto da doença, depois que o vírus foi identificado em uma menina de 3 anos em fevereiro. Nos próximos meses, a vacina deve ser oferecida em outras cidades do país e também em Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. Ao todo, mais de 23 milhões de crianças devem receber o imunizante na África.

Girl receives anti-polio vaccination drops. (Foto: Getty Images)

Vacina contra a poliomielite (Foto: Getty Images)

De acordo com informações do The Guardian, essa é a primeira vez que o Malawi detecta um caso da doença desde 1992. Em 2020, a região havia sido certificada como livre de poliomielite selvagem. “Em apoio ao Malawi e aos seus vizinhos, vamos agir rapidamente para parar este surto e extinguir a ameaça através de vacinações eficazes”, declarou ao site de notícias Matshidiso Moeti, diretora regional para a África da Organização Mundial da Saúde (OMS), que está apoiando a campanha de vacinação. “A região africana já derrotou o poliovírus selvagem devido a um esforço monumental dos países. Estamos trabalhando incansavelmente para garantir que todas as crianças vivam e prosperem em um continente livre da pólio”, continuou.

Ainda segundo o The Guardian, existem três variantes do vírus. Dois tipos foram erradicados (WPV2 e WPV3), enquanto o WPV1 continua endêmico apenas no Paquistão e no Afeganistão. De acordo com a OMS, a certificação da região como livre de pólio selvagem permanece inalterada. A análise laboratorial ligou a variante WPV1, detectada no Malawi, a uma que circulava na província de Sindh, no Paquistão, em 2019.

“Queremos garantir que nossos filhos estejam protegidos disso. Não queremos ver crianças paralisadas pela poliomielite nos próximos anos”, declarou Randy Mungwira, vice-gerente de incidentes da OMS para resposta à pólio no Malawi. Ele acrescentou que o recente surto é uma ameaça aos esforços anteriores para erradicar a doença e que sua equipe “planejou meticulosamente” vacinar todas as crianças do país.

Doença erradicada no Brasil

A vacinação tem mantido o Brasil livre da poliomielite nos últimos 30 anos. Mas nem sempre foi assim. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), até a década de 1950, a poliomielite causava um "verdadeiro pânico" no mundo inteiro, tudo por conta das suas consequências graves, como a paralisia ou a incapacidade de respirar sem a ajuda de aparelhos. Na época, milhares de pessoas foram afetadas.

No Brasil, as campanhas anuais de vacinação e as rigorosas medidas de vigilância epidemiológica reduziram progressivamente o número de casos da doença — o último registro foi em 1989. Por conta desse esforço, adotado também por outros países, em 1994, a Opas (Organização Pan-americana de Saúde) declarou a erradicação do vírus da poliomielite nas Américas.

No entanto, nem todos os continentes conquistaram esse status. De 2004 a 2014, ocorreram surtos em Moçambique, Miamar, Indonésia, China, Paquistão, Nigéria, Camarões, Níger, Chade, Afeganistão, Somália, Quênia, Congo, Yêmen, Índia, Etiópia, Madagascar e Camboja. Por isso, a única solução é manter uma alta cobertura vacinal e a imunização com a vacina inativada poliomielite, pelo menos para as duas primeiras doses. Viajantes que se dirigem para países com risco de transmissão devem atualizar sua vacinação, alerta a SBIm.

Segundo o pediatra e infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), "ainda não estamos livres da pólio, não". "Em cenários de baixa cobertura como o que temos, que é de cerca de 60% a 70%, o risco é real de reintrodução do vírus. Então, precisamos aumentar as coberturas vacinais nas crianças brasileiras sob o risco de a gente ver ressurgir, sem dúvida, a doença. Mais de 30 anos sem pólio e ver a doença voltando seria lamentável. Então, temos que trabalhar para impedir não só a volta da pólio, como do sarampo, da difteria, da rubéola, do tétano... dessas doenças que, praticamente, já desapareceram", alertou.

Mais sobre a doença

Poliomielite ou paralisia infantil, como também chegou a ser conhecida no passado, é uma infecção aguda causada pelo chamado poliovírus dos tipos 1, 2 e 3. Pode ou não causar paralisia. A transmissão se dá pelo contato direto entre pessoas, por via fecal-oral e até mesmo por objetos, alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou de portadores do vírus. Também pode ser transmitida por meio de gotículas de secreções da garganta durante a fala, tosse ou espirro.

Atualmente, as vacinas disponíveis contra a pólio são:

VOP – vacina oral poliomielite
VIP – vacina inativada poliomielite
DTPa-VIP/Hib – tríplice bacteriana acelular combinada às vacinas poliomielite inativada e Haemophlilus influenzae tipo b
DTPa-VIP-HB/Hib – tríplice bacteriana acelular combinada às vacinas poliomielite inativada, hepatite B e Haemophlilus influenzae tipo b
dTpa-VIP – tríplice bacteriana acelular do tipo adulto combinada à vacina poliomielite inativada

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