Vacina é Saúde
 

Por Fernanda Tsuji


Um dia, do nada, surgem umas bolinhas vermelhas e um “ai, que coceirinha!”. Em pouco tempo, elas já se espalharam e trouxeram junto o cansaço, a falta de apetite e, em alguns casos, a febre baixa. Como são sintomas comuns em doenças que acometem crianças, nem sempre pensamos na catapora, afinal, em tempos de covid-19 e de alergia, por conta da sazonalidade, outras enfermidades vêm à mente antes. Mas, sim, a varicela, outro nome da famosa catapora, é uma doença infecciosa, benigna, que pode marcar a infância (mas não somente ela) e costuma ser bem comum no fim do inverno e início da primavera.

Causada pelo vírus Varicella-Zoster, ela provoca pequenas feridas que começam vermelhas (geralmente surgem nos membros, tronco e rosto), se transformam em bolhas com líquido branco e depois formam casquinhas. O problema é que os diferentes estágios das feridas podem acontecer ao mesmo tempo, trazendo muito incômodo. Coça, chateia, e as famílias que enfrentam a situação sabem que não são dias fáceis quando alguém de casa pega.

A catapora pode surgir em várias idades diferentes — Foto: Getty Images
A catapora pode surgir em várias idades diferentes — Foto: Getty Images

Ah, mas todo mundo teve…

A sensação de que na infância dos pais a doença era mais frequente está correta. Por conta da imunização iniciada no país na rede privada, em 1996, e na rede pública, em 2013 – com a tríplice viral combinada com a varicela (SCR+V), e posteriormente com a tetraviral (SCRV) –, a catapora passou a circular menos e, quando acontece, vem branda. “Antes, todas as crianças teriam, mas, com as duas doses da imunização, ela diminuiu de frequência e hoje a gente vê pouco”, afirma o infectopediatra Eitan Berezin, membro do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Ainda assim, podem acontecer pequenos surtos (um aumento repentino de casos em um local) que devem ser observados, como quando se espalham em uma escola. Um levantamento da Prefeitura de São Paulo, coletado por meio de dados abertos do Sistema de Vigilância Epidemiológica, mostra que, até junho de 2022, foram reportados 33 surtos (resultando em 61 casos) na cidade. Na pandemia, foram 14, em 2020, e 41, em 2021. Já em 2010, quando a vacina ainda não fazia parte do calendário de imunização do SUS, foram registrados 1.082 surtos com 12.380 infectados notificados.

Atenção para a vacinação em queda!

A pandemia de covid-19 junto com o movimento antivacina desenham um futuro incerto diante de doenças antes controladas. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgados em julho, mostram que, em todo o mundo, foi registrada a maior queda nas taxas de imunização dos últimos 30 anos. São 25 milhões de crianças com atraso na carteirinha, e o Brasil figura entre os dez países com maior número de pequenos nessa situação.

“As crianças não estavam na escola e seguíamos com medidas não farmacológicas, como de distanciamento, então algumas doenças contagiosas não estavam acontecendo. Agora, neste ano, em que as abandonamos, somado às taxas de vacinação baixas, o que a gente imagina é que vai ter um aumento dos casos”, explica a pediatra Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Em 2022, cerca de 3 milhões de brasileiros serão infectados pelo vírus que provoca a varicela, segundo o Ministério da Saúde — Foto: Getty Images
Em 2022, cerca de 3 milhões de brasileiros serão infectados pelo vírus que provoca a varicela, segundo o Ministério da Saúde — Foto: Getty Images

De acordo com dados da cobertura vacinal divulgados pelo Ministério da Saúde, a tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, teve queda na procura e a taxa de vacinação baixou de 93,1%, em 2019, para 71,49%, em 2021. Em 2022, o país continua abaixo da meta (dados de agosto), com apenas 47,85% das crianças vacinadas contra sarampo, em que o objetivo final seria 95%. No caso da catapora, não há dados exatos para comparar, porque a tetraviral, que, além das doenças acima também inclui varicela, teve uma distribuição desigual nos estados e comprometeu os números. De qualquer forma, tanto a tríplice quanto a tetra caíram de forma preocupante.

A catapora, no entanto, é uma doença mais difícil de rastrear, já que só são notificados os surtos. Ou seja, os casos tratados em casa não entram na conta. Segundo a estimativa do Ministério da Saúde é esperado que se tenham, em média, 3 milhões de infectados por ano. “A varicela não é uma doença de notificação compulsória, a não ser os casos graves. Isso dificulta a percepção de aumento e o acompanhamento, mas a tendência é que cresça, porque, enquanto tiver pessoas suscetíveis e o vírus circulando, a doença permanece”, explica a infectologista pediátrica Patricia Guttmann, do Hospital Pediátrico Jutta Batista (RJ), da Rede D’Or, que completa: “Pais, vacinem seus filhos! É muito triste ter crianças com uma doença potencialmente grave, quando existe uma vacina gratuita, eficaz e segura”.

Susto e internação repentina

Apesar de a maioria dos casos serem leves, existem complicações – principalmente entre os não vacinados – que podem levar à hospitalização. Foi o caso de Maria Alice, hoje com 9 anos, filha da pedagoga Lilian Gomes Harada, 41. A mãe recorda que faltavam poucos dias para a menina, com 1 ano e meio na época, ser vacinada contra a catapora, quando apareceram algumas bolinhas. Ela pensou que era uma alergia, mas no dia seguinte já tinha evoluído para o corpo todo, acompanhada de febre.

“Foi um susto! O quadro foi evoluindo e poderia virar uma infecção grave. Ela ficou internada cinco dias para receber o tratamento venoso. Só teve alta depois que todas as feridinhas secaram”, conta a pedagoga, que ainda enfrentou mais um drama: a filha menor, Ana Clara, hoje com 7 anos, tinha 6 meses na época, e foi infectada pela irmã.

“Eu tinha uma visão tão simples da catapora, mas ela passou pela minha vida de forma perturbadora. Eu e meu marido ficávamos nos revezando no hospital e minha mãe cuidando da bebê em casa”, diz a mãe. Desse baita susto, restaram apenas duas cicatrizes em Maria Alice, e as lembranças de 15 dias bem difíceis na família.

A seguir, rastreamos tudo que você precisa saber sobre a catapora, que pode até parecer uma velha conhecida, mas que pode voltar com força se a vacinação continuar em queda.

Como é feito o diagnóstico?

Para os pediatras, não é difícil de identificar. “Até existem exames específicos, como o PCR e sorologias, mas é uma doença de diagnóstico clínico, porque as lesões são muito características. Começa com uma pápula que vira uma vesícula, ali faz uma erosão e depois vira uma crosta. E todas estas lesões acontecem em vários níveis de desenvolvimento juntas”, aponta a infectologista pediátrica Patricia.

De que forma é transmitida?

O contágio acontece por via aérea, por meio de aerossóis expelidos em espirros, tosse e fala. Indiretamente pode acontecer por objetos contaminados e, mais raro, pela secreção das feridas. Como a varicela pode ser contagiosa desde a incubação – de 10 a 21 dias – ao período final, é necessário manter o isolamento até todas as lesões secarem. A doença costuma durar de 14 a 16 dias. Apesar de ser uma enfermidade endêmica (que pode acontecer o ano todo), ela tem uma sazonalidade esperada. “A maior incidência é em agosto e setembro. Hoje, no entanto, com a vacinação, esse quadro ficou menos frequente”, diz a infectologista pediátrica Patricia Guttmann. A especialista, assim como os outros entrevistados, concorda que, apesar do clima e dos ambientes fechados serem apontados como causa, não há um consenso ou razão específica sobre o aumento de casos nessa época.

Contato com a doença

A criança brincou com um amigo e a mãe dele ligou avisando que o menino está com catapora? Se o seu filho ainda não foi vacinado contra a varicela, o ideal é imunizá-lo em até 72 horas (se ele tiver idade para tal), porque a vacina induz à imunidade mais rápido. E o mesmo vale para os pais que não tenham tido a doença. Antes de estar numa situação de estresse com os cuidados com a criança, procure um médico para prescrição da vacina de bloqueio. “Não podemos garantir que vai ser suficiente para não ter nenhum sintoma, mas pode, sim, abrandar, principalmente considerando que os adultos têm mais risco de complicação”, indica Mônica Levi, presidente da SBIm.

Como tratar os sintomas?

Uma vez diagnosticada, a primeira medida é o isolamento até as lesões cicatrizarem. O médico pode indicar medicamentos para tratar os sintomas, como antitérmicos para febre, anti-histamínicos para diminuir a irritação da pele – ou ainda antivirais em casos específicos, mais graves, ou para pessoas que apresentem deficiência de imunidade. Vale também cortar as unhas da criança para evitar que coce e piore as lesões. O hábito antigo de dar banho com aveia ou permanganato de potássio não é mais indicado. “O ideal é banho com água e sabão, tentando usar o mínimo de componentes que possam irritar ou aumentar a coceira. O mais importante é manter as feridas bem limpas para evitar infecções secundárias”, diz Patricia Guttmann, da Rede D’Or.

Catapora x Ácido Acetilsalicílico

Atenção a esse remédio para baixar a febre. Os médicos alertam que, quando associado a essa doença, ele pode causar a Síndrome de Reye, que acomete o fígado, e pode atingir, inclusive, o sistema neurológico.

Melhor pegar quando criança?

Em primeiro lugar, saiba que a doença é comum entre 0 e 10 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade. A famosa “festa da catapora”, como era chamado o hábito de permitir o contágio entre crianças (irmãos, primos), deve ficar no passado. Pensava-se assim porque, na idade adulta ou na adolescência, ela poderia causar um quadro mais grave, então seria melhor pegar logo. No entanto, ela pode infectar indivíduos mais vulneráveis, como bebês e adultos não vacinados, gestantes e pessoas com baixa imunidade ou comorbidades. Além do mais, hoje já temos a vacina.

O que pode levar à hospitalização?

Segundo a infectologista Patricia Guttmann, são sinais de alerta quando a criança apresenta piora do estado geral, persiste com febre, para de ingerir líquido, reduz a quantidade de fraldas de urina, não brinca e tem dificuldade de respirar. Outro ponto de atenção é a piora das feridas. “Como são muitas lesões, elas podem ter infecções secundárias a partir dessa porta de entrada. E dependendo da bactéria, vira um caso mais grave”, diz o infectopediatra Eitan Berezin. Em quadros mais graves, as complicações podem levar a pneumonia, encefalite e meningite.

Quando vacinar?

Seguindo o Programa Nacional de Imunizações (PNI), aos 12 meses, é feita a primeira dose da tríplice viral (SCR), que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A proteção contra a catapora só entra na ida seguinte ao posto, aos 15 meses, quando se aplica a segunda dose da SCR – aí, sim, combinada com a primeira da varicela por meio da tetraviral (SCRV). O reforço dela é aos 4 anos, com a vacina da varicela isolada (V). A recomendação da SBP e da SBIm, no entanto, difere um pouquinho: no calendário das sociedades médicas, o indicado é aos 12 meses tomar a primeira dose da tetraviral (SCRV), disponível nas redes pública e privada, ou, na falta desta, a tríplice viral já somada à da varicela (SCR+V, duas picadinhas separadas) na mesma ida ao posto. O reforço fica aos 15 meses, preferencialmente com a vacina SCRV. Em ambos os casos, as vacinas são seguras e eficientes.

Sarampo, Catapora, Varíola dos macacos...

Em julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a varíola dos macacos como uma emergência global e já se veem casos isolados em crianças no Brasil. Porém, apesar dessas três doenças causarem infecções de pele, segundo os médicos, elas são bem diferentes.

“Na varíola dos macacos, as lesões estão todas no mesmo estágio de evolução. Elas ficam em pápula (lesão sólida), depois como bolha e no fim, com casquinha. E ela tem uma característica de se localizar mais nas mãos, nos pés e na região genital. A catapora é bem democrática: tem os locais “preferidos”, mas pode surgir no corpo todo e dá muita lesão na mucosa da boca também. Já o sarampo possui presença de sinais respiratórios, como tosse, coriza, conjuntivite, febre alta e o rash (mancha), que é vermelho, como se fosse uma lixa, e não faz bolhas”, explica Guttmann

E quem está com a carteirinha atrasada?

Dois anos de pandemia apresentaram reflexos na caderneta. “Estamos em um momento de muitas vacinas em atraso, com crianças de 1 ano e meio que ainda não tomaram nada. Então, até poderíamos ter essa flexibilidade de 15 a 24 meses para acomodar a segunda dose da varicela, porém, como existe uma sazonalidade da catapora, eu não deixaria agosto, setembro ou outubro passar sem o reforço”, diz Mônica Levi. E ela explica o porquê: “Para uma proteção mais consistente, em torno de 98% de eficácia, é preciso dar a segunda dose para evitar essa varicela modificada, que é a catapora mais fraquinha do vacinado”.

Não é só uma vez: o que é o herpes-zóster?

Quando a gente tem catapora, o vírus nunca mais vai embora do corpo. Ele fica dormente, alojado nos gânglios, e pode reaparecer, muitas vezes engatilhado por estresse ou imunossupressão (deficiência de imunidade). “Quando cai a imunidade celular específica para este vírus, ele ‘acorda’, caminha por um trajeto nervoso – costuma ser na região intercostal e é conhecida popularmente como cobreiro –, causando uma dor bem forte”, explica Levi.

Raramente, crianças que tiveram a catapora, cujos anticorpos para a doença ainda estão muito elevados, desenvolvem herpes-zóster, mas pode acontecer. Um estudo americano publicado na revista científica Pediatrics, em 2019, constatou que, aproximadamente, 38 a cada 100 mil crianças vacinadas para varicela tiveram zóster. O quadro tradicional tende a aparecer mais em idosos, com incidência também em adultos e adolescentes. “O zóster em jovens costuma ser mais leve, sem aquela neuralgia pós-herpética, que é uma complicação muito comum em pessoas com mais idade, de ficar com a dor muito importante e incontrolável, sensação de queimação e sensibilidade na região da pele afetada pela lesões”, diz Mônica. O tratamento é feito com antivirais para reduzir o tempo de atividade e os sintomas da doença. E sim, tem vacina para o zóster, mas apenas na rede particular e para adultos.

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