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Autismo

Cada criança é uma criança. A frase pode parecer simples, mas é vital para entender o autismo, que não se trata de uma doença. Na verdade, o Transtorno do Especto Autista (TEA) se caracteriza por uma série de condições que prejudicam áreas do desenvolvimento neurológico e a capacidade de interação social, comunicação e comportamento da criança, como afirma o neuropediatra Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). Por ter diferentes níveis de comprometimento, recebe esse nome de “espectro autista” – para entender melhor, imagine um degradê, que vai de cores muito escuras, em que se encontram os casos mais graves, até os tons mais claros.

De acordo com Anderson Nitsche, foi só em 2013 que o termo “espectro” foi adotado para se referir ao transtorno autista. No âmbito científico, o substantivo significa uma representação de amplitudes e intensidades diversas. Algumas pessoas com TEA podem realizar todas as atividades do dia a dia, outras nem sempre. Para conduzir o tratamento e recomendar as terapias mais adequadas, o transtorno é classificado a partir de três níveis, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5 (referência mundial de critérios para diagnósticos). São eles:

Nível 1 de suporte: exige apoio dos familiares e profissionais. Em geral, as pessoas apresentam sintomas leves, como dificuldades em situações sociais e na linguagem, comportamentos repetitivos e restritivos, ou comportamentos em excesso, como cumprimentar ou falar com pessoas desconhecidas na rua.

Nível 2 de suporte: exige apoio substancial. Pessoas que apresentam sintomas intermediários e um menor grau de independência. Normalmente, elas podem ter dificuldade em interações sociais, comportamentos restritivos e repetitivos, podem não fazer contato visual ou não expressar emoções, além de manter conversas curtas.

Nível 3 de suporte: exige necessidade de apoio substancial. Pessoas com sintomas severos, com dificuldades na comunicação e situações sociais, uso de poucas palavras e muitos comportamentos restritivos e repetitivos. Raramente iniciam alguma conversa e reagem somente a abordagens muito diretas. Além disso, costumam precisar de apoio especializado ao longo da vida.

Não é uma condição apenas de meninos

Estudos indicam que a proporção de diagnósticos de autismo para meninos é quatro vezes maior do que para meninas — de acordo com o último relatório do CDC, publicado em março de 2023, a taxa de TEA para meninos de 8 anos foi 3,8 vezes maior do que para meninas, em 2020. No entanto, uma revisão das pesquisas pode apontar sub-representação nos números por diversos aspectos sociais. Meninas podem apresentar comportamentos diferentes em comparação com meninos, levando ao mascaramento dos primeiros sinais. Foi o que apontou uma pesquisa de 2019, realizada pelo Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos. Os cientistas descobriram que meninas e meninos autistas contam histórias de maneiras diferentes, o que poderia induzir um "diagnóstico errado" nas pequenas.

Ainda segundo o CDC, em 2020, pela primeira vez a prevalência geral de TEA entre meninas de 8 anos ultrapassou 1% nas 11 regiões dos EUA que são analisadas. “O novo relatório mostrando uma prevalência superior a 1% em meninas é particularmente notável porque as pessoas costumam pensar que o transtorno do espectro autista ocorre principalmente em meninos”, disse Christine Ladd-Acosta, PhD, professora associada do Departamento de Epidemiologia da Bloomberg School e uma das principais investigadoras da rede de Monitoramento de Deficiências de Desenvolvimento e Autismo (ADDM, na sigla em inglês), no Wendy Klag Center da Bloomberg School.

A interação social e a comunicação, influenciadas por questões hormonais, às vezes são estereotipadas e merecem observação atenta de pais e familiares. Nem todo comportamento é apenas “coisa de menina” e, em conjunto com outros traços, deve ser avaliado por especialistas, recomenda o neuropediatra Anderson Nitsche.

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Perguntas frequentes

Quais são os primeiros sinais de autismo?

Apesar de os sinais variarem, há três comprometimentos mais comuns: 

1. Interação social, ou seja, no modo de se relacionar com outras crianças, adultos ou com o meio ambiente. 

2. Dificuldade na comunicação — cerca de 60% dos autistas apresentam algum transtorno de fala.

3. Comportamento — as ações podem ser estereotipadas e repetitivas.

O que causa o autismo?

A causa do autismo não é única e vem de uma complexa interação entre fatores genéticos e condições ambientais. De acordo com o CDC, são fatores de risco para o autismo: ter um irmão com TEA; ter certas condições genéticas ou cromossômicas, como a síndrome do X frágil ou esclerose tuberosa; vivenciar complicações no parto; e nascer de pais mais velhos.

Como é feito o diagnóstico?

Identificar o TEA não é simples, pois não há exames médicos, como um exame de sangue, para detectar o transtorno. Os médicos costumam observar o comportamento e o desenvolvimento da criança para fazer o diagnóstico, que pode acontecer por volta dos 2 anos, segundo o CDC. No entanto, muitas crianças só recebem um diagnóstico final muito mais velhas.

Como é o tratamento?

Não há uma regra para todas as crianças. A equipe multidisciplinar decidirá qual o acompanhamento pedagógico e terapêutico mais indicado e vai discutir sobre a educação delas, com os pais. E não são só os pequenos que devem ser acompanhados por especialistas: os pais podem ser tratados e orientados por um psicólogo, para ajudar a lidar com a ansiedade.

Por que os casos de autismo estão crescendo tanto?

De acordo com o CDC, a tendência de aumento dos casos de autismo em crianças verificada nos últimos anos “tem sido amplamente interpretada como melhorias no diagnóstico mais equitativo do (transtorno do espectro do autismo), particularmente para crianças de grupos que têm menos acesso ou enfrentam maiores barreiras na obtenção de serviços de saúde”.

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