Saúde
 

Por Fernanda Tsuji


Se vocês estão pensando em engravidar e já iniciaram os check-ups da saúde de ambos, devem ter ouvido falar que o homem precisa realizar um espermograma. O exame é fundamental para avaliar a qualidade do sêmen e sua análise ainda traz pistas de como anda a saúde do futuro papai.

Em outras palavras, ele é o retrato do último ciclo de esperma produzido por aquele indivíduo e é um ótimo ponto de partida para identificar se há alguma questão que possa alterar as condições do espermatozoide e, consequentemente, da fertilidade. É através dele que será possível diagnosticar, inclusive, homens que não produzem espermatozoides.

Espermatozoides — Foto: Freepik
Espermatozoides — Foto: Freepik

Os principais critérios examinados no espermograma são a quantidade, a motilidade (capacidade de movimentação) e a morfologia (forma e estrutura) dos espermatozoides, assim como a viscosidade, o pH do sêmen e a presença de células e leucócitos, que podem indicar infecção ou outro sinal de atenção.

Caso seja detectada uma alteração ou algum parâmetro fora do padrão estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o urologista pode solicitar exames complementares, sugerir tratamentos e ainda mudanças de hábitos que possam estar causando as condições anormais dos espermatozoides. Tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo e obesidade são alguns dos fatores que precisam ser corrigidos em busca da fertilidade masculina. Comorbidades, razões genéticas ou até mesmo uma varicocele (condição em que as veias do escroto ficam dilatadas) também pode influenciar nos resultados do espermograma.

No entanto, é importante lembrar que essa é apenas parte de uma investigação abrangente que precisa ser feita quando o assunto é a infertilidade masculina, certo? “O espermograma é o exame mais utilizado na avaliação do potencial fértil do homem, mas ele não é um atestado de infertilidade, pois podem existir outras causas. E mesmo com um espermograma alterado, às vezes, o casal ainda pode engravidar naturalmente”, diz o urologista Gustavo Marquesine Paul, membro da Disciplina de Reprodução do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e presidente da Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual (ABEMSS).

A seguir, o especialista responde todas as dúvidas sobre o exame e ainda indica quais os melhores métodos de reprodução assistida, caso sejam necessários.

O que é o exame de espermograma?

O espermograma é um exame laboratorial que analisa o sêmen para avaliar a qualidade e a saúde dos espermatozoides por meio de parâmetros, como concentração, motilidade e morfologia. O resultado auxilia no diagnóstico de possíveis problemas de fertilidade masculina e serve de ponto de partida para compreender sobre a saúde do homem.

Como é a preparação para o exame?

A única recomendação geral é a abstinência sexual por 3 a 5 dias antes do exame para evitar a ejaculação. Isso garante que a amostra de sêmen coletada no dia seja adequada e possa ser analisada de acordo com os parâmetros estabelecidos pela OMS.

Além disso, o ideal é que o homem não altere nada de sua rotina, pois isso proporcionará um retrato mais fiel de seus hábitos, auxiliando a detectar as questões que possam aparecer e corrigi-las. “Via de regra, o paciente tem que manter o que está fazendo. Por exemplo, se estiver tomando alguma medicação, não é necessário interrompê-la”, ressalta Gustavo.

No entanto, é preciso sinalizar ao urologista sobre o uso de medicamentos continuados, já que alguns antidepressivos tricíclicos e inibidores de recaptação de serotonina, por exemplo, podem afetar a motilidade dos espermatozoides. Medicamentos prescritos para alopecia, como finasterida e dutasterida, também podem prejudicar bastante a fertilidade.

Como é o exame?

No dia agendado, é realizada uma coleta do sêmen no laboratório. Através da masturbação (sem lubrificantes ou qualquer material que possa interferir nos resultados), o paciente ejacula em um recipiente esterilizado e essa amostra é levada imediatamente para a análise.

Devido à sua curta vida útil, que é de aproximadamente 60 minutos, e às condições específicas de armazenamento em temperatura ambiente, é essencial que a coleta seja feita no próprio laboratório e que sejam seguidas as instruções para garantir a precisão dos resultados.

Essa avaliação minuciosa do sêmen é dividida em duas etapas: macroscópica, na qual são conferidas a coagulação, liquefação, coloração, pH e viscosidade; e a microscópica, em que serão analisadas a concentração por mL, a morfologia, a vitalidade e a motilidade dos espermatozoides. Apesar de ser um processo automatizado, o espermograma passa por uma confirmação de um profissional de biomedicina capacitado para realizar a análise.

Quais as possíveis alterações que podem surgir?

Com esse mapeamento, o urologista poderá identificar questões relacionadas à fertilidade masculina. As principais são:

  • Oligospermia: condição em que a concentração de espermatozoides está abaixo do valor normal, com contagem inferior a 16 milhões de espermatozoides/ml.
  • Hipospermia: quando o volume de sêmen é abaixo do esperado, ou seja, menos de 1,4 ml, o que poderia indicar questões nos testículos, próstata e vesículas seminais.
  • Astenozoospermia: ocorre quando menos de 30% dos espermatozóides têm motilidade progressiva, ou seja, a capacidade de movimentar-se de forma coordenada, rápida e direcional ao óvulo.
  • Teratozoospermia: quando há menos de 4% de espermatozoides com a forma e estrutura dentro da normalidade esperada pela morfologia estrita de Kruger, classificação utilizada como critério.

É possível, ainda, que existam mais de uma questão e esses termos se misturem. “Por exemplo, quando temos uma baixa concentração e uma motilidade ruim, temos uma oligoastenozoospermia”, esclarece Marquesine.

Mas como saber o que é considerado dentro do esperado? Pois bem, tudo é analisado nos parâmetros estabelecidos pela OMS, que levam em consideração dados coletados de homens no mundo todo. Dessa forma, é aplicado o percentil 5%, métrica que define se o homem está abaixo da média considerada normal para um determinado parâmetro. O médico analisa cada um deles e busca tratar os índices que não estiverem dentro dessa expectativa. “Por exemplo, quando um paciente chega com 15 milhões de espermatozoides/ml, ele pode pensar que está quase normal, mas isso significa que ele está no percentil 5%. Ou seja, o espermograma dele é pior do que 95% dos homens férteis”, pontua o especialista.

O que precisa ser investigado?

Cada alteração que surgir no espermograma fornece pistas sobre as causas de uma possível infertilidade, que, veja bem, pode ser multifatorial. O urologista irá analisar diversos aspectos da vida do homem, como, por exemplo, se ele está exposto a algum componente químico que possa estar alterando sua espermatogênese (produção de espermatozoides), além de observar seus hábitos, como fumar, usar drogas, consumir álcool em excesso, ser sedentário, ter sofrido traumas testiculares, comorbidades ou histórico de infecções sexualmente transmissíveis (IST).

É possível, ainda, que o homem tenha uma varicocele, que é a principal causa de infertilidade masculina. Trata-se de uma condição na qual as veias do escroto ficam dilatadas, semelhante às varizes nas pernas, e que precisa ser corrigida.

“Em outros casos, por exemplo, quando um paciente tem uma alteração seminal muito grave ou um espermograma zerado (azoospermia), realizamos uma investigação com cariótipos para identificar possíveis alterações genéticas. Além disso, podemos solicitar a fragmentação do DNA, um exame que avalia a qualidade do material genético do espermatozoide”, explica o urologista da SBU.

Quais tratamentos podem ser indicados?

O espermograma é uma fotografia do potencial reprodutivo da espermatogênese desse homem nos últimos três meses. Ou seja, o espermatozoide ejaculado teve seu processo de formação iniciado cerca de três meses atrás. Portanto, o resultado reflete os últimos meses da vida dele e pode ser considerado como um marcador de saúde desse indivíduo.

Então, quando surgem alterações, é necessário investigar cada paciente individualmente e identificar o que ocorreu durante esse período. Por exemplo, uma gripe forte com febre alta ou processos inflamatórios podem afetar a temperatura corporal e prejudicar a produção de espermatozoides.

Diante do quadro todo, o urologista pode, então, recomendar o melhor tratamento e as alterações necessárias na rotina. Perder peso, retomar a prática de exercícios, reduzir o estresse, parar de fumar ou beber podem ser sugestões para alguns pacientes.

Já no caso de uma varicocele, é preciso corrigi-la, geralmente, por meio de cirurgia. Após três meses, é possível realizar um segundo espermograma, levando em consideração uma nova leva de espermatozoides produzidos depois da correção da condição. "Geralmente, a melhoria na qualidade seminal ocorre de 6 a 8 meses após qualquer tipo de intervenção, e é nesse período que observamos o pico de incidência de gestação natural após a correção da varicocele", relata o presidente da ABEMSS.

Segundo o médico, alguns tratamentos também podem considerar o uso associado de antioxidantes, como vitamina E, vitamina C, ácido fólico, coenzima Q10, selênio, entre outros. Embora possam ser úteis, o urologista ressalta a importância de ter expectativas realistas, pois não há tratamento milagroso. Ele também alerta para o perigo da administração indiscriminada de testosterona como forma de aumentar os níveis de espermatozoides, pois isso pode, na verdade, interromper sua produção e levar a quadros azoospérmicos.

Tratamentos e ajustes na rotina concluídos, é necessário repetir o exame para obter um novo status do sêmen. “Sempre que temos uma mudança, é importante confirmá-la com um novo espermograma para ter certeza de que houve uma alteração. O ideal é em torno de três meses, que é justamente uma nova leva de espermatozoides completamente novos”, diz o urologista.

E você sabia que o espermograma também pode ser realizado como medida preventiva na adolescência? Embora não seja comum levar os jovens ao urologista, começar a monitorar desde cedo pode ajudar a resolver problemas futuros, como a varicocele. Se essa condição for identificada na adolescência, é possível tratá-la antes que afete a fertilidade na vida adulta. O mesmo vale para a profilaxia contra o HPV, que também pode causar problemas de saúde reprodutiva.

Métodos indicados diante da infertilidade

Com todos os tratamentos realizados, o casal pode retomar as tentativas de engravidar naturalmente, o que, de acordo com o médico, ocorre com frequência. Há casos, no entanto, em que não se tem a melhora ou não se fecha um diagnóstico. “Um espermograma normal não é uma prova de fertilidade. Em 30% dos casais inférteis, realizamos uma investigação completa e não encontramos absolutamente nenhuma causa específica, o que chamamos de infertilidade idiopática”, indica Gustavo.

Nesses casos, após um ano de tentativas (ou no período considerado seguro para o casal), os médicos podem sugerir os métodos de reprodução assistida. Geralmente, são indicadas a inseminação artificial e a fertilização in vitro (FIV).

Menos invasiva, a inseminação artificial é um procedimento mais simples ,em que há uma introdução direta dos espermatozoides selecionados na cavidade uterina durante o período fértil. É indicada para pacientes com casos leves a moderados de infertilidade, quando há baixa contagem ou baixa motilidade dos espermatozoides, por exemplo. É como uma “ajuda” para que a gravidez ocorra.

Já na fertilização in vitro, um óvulo e um espermatozoide são unidos, em laboratório, para formar embriões e, posteriormente, são transferidos para o útero. Costuma ser indicada para problemas de fertilidade mais complexos, como nos casos em que o espermograma aparece zerado ou quando a qualidade seminal é ruim.

“Hoje em dia é feita uma técnica chamada injeção intracitoplasmática de espermatozoides. Ao invés de colocar os espermatozoides ao redor do óvulo e esperar que algum consiga penetrar, fazemos uma injeção de um bom espermatozoide lá dentro. Isso faz com que a gente consiga uma chance mais real de origem de embrião”, diz o urologista.

O médico alerta, no entanto, que o casal precisa estar ciente das taxas de sucesso — 15% a 20% por tentativa na inseminação intrauterina e 40% a 45% na FIV — ao optar pelos procedimentos. Além das expectativas, é necessário considerar os custos dos tratamentos. A inseminação custa, em média, R$ 5 mil, enquanto a FIV pode ficar de R$ 25 mil a R$ 45 mil.

Qual o valor de um exame de espermograma?

O valor do espermograma pode variar bastante de acordo com a região do país, o laboratório e os profissionais envolvidos. Pode custar de R$ 60 a R$ 500*, mas também pode ter cobertura de planos de saúde.

*Valores consultados em maio de 2023 (Lab R$ 300 a 400; Dr.Consulta R$ 63; Fleury R$ 400; Clínica Einstein R$ 411)

Fonte: Gustavo Marquesine Paul, urologista, membro da Disciplina de Reprodução do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e presidente da Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual (ABEMSS)

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