• Aline Dini
Atualizado em
óvulo espermatozoide fecundação fiv (Foto: thinkstock)

óvulo espermatozoide fecundação fiv (Foto: thinkstock)

As ondas de calor causadas pelo aquecimento global podem ser uma ameaça também à fertilidade masculina. É o que sugere uma pesquisa feita pela Universidade de East Anglia, no Reino Unido, divulgada em novembro deste ano pela instituição. Já é consenso entre médicos que o calor é um possível vilão nesse quesito – a temperatura ideal para a saúde do esperma é entre 3 a 4 ºC a menos que a corporal de 37 ºC. “Um exemplo disso é que os homens que trabalham em caldeiras, em fornalhas e siderúrgicas têm uma tendência maior à infertilidade“, diz o ginecologista Paulo Gallo, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e diretor médico da Clínica Vida Centro de Fertilidade (RJ). Mas a relação direta entra a infertilidade e o aquecimento global chama a atenção dos especialistas.

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Gallo afirma que, apesar de a pesquisa não ter sido feita com humanos – cientistas analisaram um tipo específico de besouros, que foi separado em grupos, sendo que a parte exposta a temperaturas mais altas teve diminuição do número e qualidade dos espermas – o estudo foi muito específico e bem controlado. “Ele nos mostrou de forma bem segura e sem sombra de dúvidas que o aumento progressivo da temperatura do planeta pode interferir na fertilidade masculina de forma importante.”

Estudos recentes mostram que, no último século, houve uma diminuição na qualidade e capacidade da produção espermática nos homens, comparando espermogramas do início do século com as atuais: “Observamos que, tanto a qualidade como a quantidade de espermatozoides diminuíram na população humana. Isso pode ter relação não só com o aquecimento global, mas também com uma série de outras substancias artificiais que foram introduzidas na sociedade, como pesticidas agrícolas, hormônios para melhorar a produção da carne, substâncias usadas nos plásticos que embalam alimentos, e por aí vai”, diz.

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O corpo masculino e o calor
Há muito tempo, a ciência mostra que o aumento de temperatura não faz bem para os testículos - e o corpo do homem “sabe” bem disso: tanto é que os testículos dos mamíferos ficam na bolsa escrotal, afastada do abdômen, para não sofrer a ação das altas temperaturas. “O organismo é tão inteligente que, quando a temperatura externa está mais alta, a tendência é que os ligamentos expandam os testículos e eles se afastem da cavidade abdominal exatamente para manter a temperatura ideal de funcionamento. O oposto também acontece. Quando faz muito frio, a tendência é haver um reflexo chamado cremastérico, em que o testículo encolhe e se aproxima mais da cavidade, para se aquecer um pouco”, explica Gallo.

Como são produzidos os espermatozoides?
Ao contrário da mulher, que já nasce com todos os óvulos, os testículos do homem possuem células germinativas que, continuamente, ao longo de toda a vida, produzem espermatozoides. É a chamada espermatogênese. Com o aumento da temperatura, há uma destruição dessas células. Se essa elevação de calor atingir altos graus por um longo tempo, isso pode até levar a um efeito mais grave, comprometendo em definitivo a espermatogênese. “De modo geral, esse aumento vai interferir na divisão celular, podendo reduzir a quantidade e a qualidade produzida. Os espermas podem então sofrer com a diminuição de motilidade, que é importante para que consigam passar pela cavidade do útero e trompas para, então, encontrar o óvulo”, diz Gallo.

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O que fazer para evitar? 
Para quem mora ou trabalha em lugares muito quentes, a recomendação do especialista em fertilidade é usar roupas mais arejadas, evitar calças apertadas, não passar muitas horas andando de bicicleta e evitar trabalhar com o laptop no colo.

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