Ao longo de toda a gravidez, o percentil fetal é um termo sempre presente nas consultas periódicas com o obstetra. Resultando em um número que pode ir de 0 a 100, trata-se da relação entre o peso estimado do bebê e a sua idade gestacional.
É importante entender que esses dados tomam como referência uma curva de crescimento fetal e que ela deve ser, idealmente, o mais adequada possível à população na qual será usada. Assim, quanto mais perto o resultado dessa relação entre peso/idade gestacional estiver da maioria populacional, mais próximo ao percentil 50.
“Alguns vão ficar mais abaixo, outros vão ficar mais acima”, explica Leandro Gustavo de Oliveira, obstetra do Hospital e Maternidade Santa Joana. “Para aqueles que ficarem abaixo do percentil 10, passamos a nos preocupar um pouco com a possibilidade de serem fetos classificados como pequenos para a idade gestacional (PIG) ou até mesmo com restrição de crescimento fetal. E aqueles que ficam acima do percentil 90 nessa curva passamos a classificar como bebês grandes para a idade gestacional (GIG)”, detalha o médico.
Ele explica ainda que o termo “macrossomia” não tem relação com a idade gestacional. Para alguns autores, por exemplo, nos Estados Unidos, são macrossômicos todos os fetos com mais de 4,5 kg em qualquer momento da gravidez (embora seja mais comum no final). Assim, todo bebê macrossômico será GIG, mas nem todo GIG será macrossômico. Leandro salienta que, no Brasil, o mais adequado é tomar os 4 kg como referência.
Quais fatores levam o bebê a ficar grande?
O primeiro ponto é o potencial genético da criança. Se ela tem pais altos, as possibilidades de que seja um bebê grande são maiores. “São os fetos que fogem um pouco da curva para aquela população”, explica o médico do Santa Joana.
Quando essa predisposição familiar não é observada, porém, pode ser um caso patológico. “Sem dúvidas, o principal determinante para um bebê grande para a idade gestacional é o diabetes, seja ele já apresentado antes da gravidez ou que se inicia durante a gestação”, diz Leandro.
Ele reforça, porém, que outras possibilidades existem, destacando as alterações metabólicas (de gorduras, colesterol, triglicérides, proteínas, carboidratos e outras) que interferem no desenvolvimento placentário e podem gerar um bebê maior para a idade gestacional.
Bebê grande não implica cesárea, mas é preciso avaliar
Dessa forma, ao ir acompanhando o feto ao longo de toda a gestação e, principalmente, nas últimas semanas que antecedem o nascimento, é possível que o obstetra avalie que o tamanho dele pode apresentar contraindicações ao parto normal. Segundo Leandro, bebês com mais de 4 kg, independentemente da idade gestacional, já devem chamar a atenção. Vale lembrar que o peso médio para os nascidos a termo fica entre 2,5 kg e 4 kg.
“Do ponto de vista do bebê, os riscos são a possibilidade de algum tipo de sofrimento, falta de oxigenação durante o trabalho de parto e parto, e também o grande risco do que chamamos de distócias, que são anomalias ou alterações na evolução do trabalho de parto”, alerta o obstetra. Segundo ele, bebês grandes podem ter mais dificuldade para descer pelo canal vaginal e se posicionar corretamente, sendo a passagem dos ombros a questão mais complicada.
“São bebês que têm mais possibilidade de apresentar o que chamamos de distócia de ombros, que é quando a cabeça aflora pela vagina, mas os ombros ficam encravados”, explica Leandro. Esse problema é mais comum em filhos de mães diabéticas e acredita-se que seja decorrente da presença de uma gordura que aumenta a densidade entre os ossos dos ombros, dificultando que eles reduzam o diâmetro para passar pelo canal vaginal.
Já para a mãe, existem riscos maiores de lacerações do canal de parto, sangramento com hemorragia e necessidade de transfusão sanguínea e mudança de emergência para o parto cesárea. “Não quer dizer que o bebê grande para idade gestacional não possa nascer de parto vaginal. Ele pode, e muitos nascem assim. A questão importante é que, quando uma mulher decide ter um parto vaginal com um bebê GIG, é preciso que ela seja informada sobre os riscos”, salienta Leandro.
Avaliação da bacia óssea da mulher
Além de observar o tamanho do feto, é possível avaliar a bacia da mãe e a proporcionalidade entre ela e bebê. “Quando eu examino uma paciente e vejo que as dimensões da bacia óssea dela são compatíveis com um bebê grande para a idade gestacional, eu consigo ter uma ideia um pouco mais real da possibilidade de aquele parto acontecer”, ilustra Leandro. “Com relação a avaliação do bebê, quando eu tenho um feto lá no final da gravidez que já está querendo se encaixar, já está querendo descer pelo canal de parto mesmo antes de ter contrações que promovam isso com a maior efetividade, isso também é um bom sinal, ou seja, vejo de uma maneira mais favorável [ao parto normal]”, acrescenta.
Por outro lado, se a mulher chega ao final da gravidez com um bebê GIG, que não se adapta muito bem àquela bacia, pode ser indicação de que o parto normal talvez apresente dificuldades importantes. “Então, eu preciso avaliar de uma maneira um pouco mais objetiva. O que não pode acontecer é minimizar os riscos - eles têm que ser discutidos de uma maneira de fácil entendimento para a paciente, mas não podem ser minimizados”, finaliza Leandro.