Ao longo da gravidez, é natural que as mulheres se deparem com dúvidas relacionadas ao parto, e uma delas é sobre o momento ideal para realizar a cesárea. É importante ressaltar que, em gestações com risco habitual, os profissionais de saúde recomendam o parto vaginal por ser mais seguro para a mãe e benéfico para o bebê. No entanto, desde 2016, o Conselho Federal de Medicina (CFM) estabeleceu que a cesariana eletiva pode ser realizada a partir da 39ª semana.
Antes de optar por uma cesárea, é importante que a gestante tenha acesso às informações abrangentes sobre qual via de parto é mais adequada para o nascimento do seu bebê. Segundo o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cesárea é recomendada para os casos em que o parto normal seja um risco. No entanto, quando realizada sem indicação, a OMS alerta que a intervenção cirúrgica pode aumentar o risco de mortalidade materna e neonatal. Já o parto normal, segundo o Ministério da Saúde, diminui o tempo de internação hospitalar e de recuperação no puerpério, tem menores chances de infecções e hemorragias e reduz a probabilidade de depressão pós-parto.
![Cesárea é indicada para gestações de alto risco (Foto: Getty Images) — Foto: Crescer](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/yVTP866PYrCcsiqHHKZ4vcKSs2I=/0x0:620x480/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2022/M/f/caPTcAQNG2YiWZVLZAoQ/2020-02-21-gettyimages-147969765.jpeg)
Além disso, o parto normal ainda incentiva o protagonismo da mulher no trabalho de parto e na maternidade, aumenta as chances do aleitamento materno, diminui os riscos de internações por prematuridade e transtornos respiratórios, favorece vínculo entre a mãe e o bebê, o desenvolvimento normal da microbiota e a adaptação neurológica dos bebês nas primeiras 48 h de vida. “Fazer uma escolha consciente acerca da via de nascimento é fundamental. Hoje lidamos com uma medicina que pode ser bastante capitalista, inclusive distorcendo indicações de cesariana para que caibam na agenda do profissional. Uma mulher que deseja uma cesariana deve ser respeitada tanto quanto uma mulher que deseja um parto normal. Ambas devem receber a melhor assistência possível, seja no público ou no particular. Infelizmente, o que vemos é que muitas mulheres acabam sendo submetidas a cesarianas desnecessárias e indesejadas – e um dos motivos para isso é o desconhecimento. Ter acesso às informações baseadas em evidências é fundamental para tomar a melhor decisão”, ressalta a médica carioca Ana Jannuzzi e colunista da CRESCER.
Quando a cesárea é necessária
- Quando a placenta cobre o colo do útero, impedindo a saída do bebê – a chamada placenta prévia. A cirurgia é agendada antes de o trabalho de parto ter início, para não haver risco de sangramento. O diagnóstico só acontece a partir da 30ª semana.
- Quando há descolamento prematuro da placenta.
- Quando a mãe tem AIDS. Se a carga viral for alta ou desconhecida, a cesárea deve ser agendada. Se a carga viral for indetectável, pode ser parto normal.
- Se a mãe tem herpes genital, com uma lesão ativa até 1 mês antes do parto. Quem tem a doença pode prevenir as lesões tomando medicamentos.
- Em alguns casos raros de doenças cardíacas.
- Se o bebê está atravessado. Antes, o médico pode tentar ajudá-lo a ficar na posição correta.
- Quando o cordão penetra no canal de parto antes da cabeça do bebê. Também só será possível perceber isso depois de o trabalho de parto ter começado.
- Quando o bebê apresenta uma redução drástica no fluxo de oxigênio ou nos batimentos cardíacos. Isso acontece apenas em torno de 1% dos casos.
- Se a abertura do colo da mãe é pequena para o bebê, algo que ocorre em menos de 5% dos partos.
Casos que devem ser estudados com o médico
- Se o bebê estiver sentado e a mulher já tiver tido parto normal antes.
- Quando foram feitas duas ou mais cesáreas anteriores.
- Se a mulher tem defeitos na bacia, algo que provavelmente ela já descobriu antes de engravidar, por meio de um simples exame de toque.
- Se a criança está frágil demais, ou seja, se há retardo do crescimento.
- Se o parto para de progredir. Nesse caso, há recursos para estimular a continuidade, como o hormônio ocitocina.
- Se há alteração na circulação do sangue entre mãe e bebê, medida pelo exame de dopplerfluxometria.
- Pressão alta na gravidez (acima de 13 x 9). Em muitos casos, o ideal é acelerar o parto com o uso de ocitocina.
- Quando a mãe tem pré-eclâmpsia, doença típica da gravidez que eleva a pressão arterial, o parto também deve acontecer rápido. Mas é possível prevenir a doença com um bom pré-natal, dieta balanceada e aspirina para quem tem risco.
- Quando a cesárea não é necessária
- Cordão enrolado no pescoço do bebê (não importa quantas voltas), desde que o bebê esteja bem.
- Falta de dilatação. Pode ocorrer por um distúrbio raro no colo do útero (menos de 1% das mulheres o têm), mas, na maioria das vezes, se não dilatou é porque não chegou a hora mesmo.
- Se passou da semana número 40 da gravidez. É normal esperar até 42 semanas, monitorando o bebê.
- Se a mulher tem mais de 35 anos.
- Se a mulher teve uma cesárea anterior.
- Se o trabalho de parto está demorado. A mulher pode passar vários dias sentindo algumas contrações, sem ter entrado em trabalho de parto. Os médicos só consideram trabalho de parto quando há mais de 3 cm de dilatação e contrações regulares. Aí, então, o processo pode levar entre 8 e 18 horas.
- Bacia estreita (esses casos são raríssimos e, em geral, a mulher já descobriu a alteração antes).
- Bebê grande demais (um bebê precisa ter mais de 4,5 quilos para ser considerado grande. É bem raro).
- Se a mulher tem verrugas genitais, mioma ou HPV (a não ser que obstruam a passagem do bebê).