Cantora Elisa Gatti viraliza com música sobre combate ao abuso infantil

No vídeo, Elisa está na frente de várias crianças com as cabeças abaixadas usando coroas. Ela começa a cantar sozinha e, logo depois, todos se juntam ao coro.

Confira a letra:

"Toda criança tem que aprender que o seu corpinho é muito precioso, mas com algumas partes a gente tem que ser ainda mais atento e mais cuidadoso. Carinho não pode ser segredo. Carinho não pode te dar medo. Seu corpo tem que ser respeitado e se alguém te tocar, sem você deixar, isso tá errado"

Publicada em 15 de maio, a música viralizou, sendo compartilhada por perfis famosos na web, como a psicóloga Leiliane Rocha, alcançando mais de 13 milhões de visualizações no Instagram. Nos comentários, os internautas elogiaram a letra de Elisa. "Eu me emocionei aqui! Que essa música seja cada vez mais comum em lares e creches para todas as crianças conhecerem", escreveu um usuário. "Obrigada por compartilhar seu dom conosco para que nossos filhos aprendam a se defender e se sentirem seguros", disse outro. "Que coisa mais linda! Uma maneira certeira de se comunicar com as crianças e com os pais de uma forma impactante e leve", comentou um terceiro.

Elisa imaginava que a canção poderia fazer sucesso, só que não esperou tamanha repercussão. "As pessoas precisam realmente ver e falar sobre esse assunto. Não é sobre mim, é sobre conscientizar e salvar as crianças. Usar a arte é uma maneira muito eficiente e efetiva para proteger as crianças", diz em entrevista exclusiva à CRESCER.

ASSISTA:

A ideia para a letra da música surgiu no ano passado, enquanto ela participava de um podcast sobre temas sensíveis da infância, incluindo o abuso e o assédio infantil. "Uma especialista que também estava sendo entrevistada disse que uma das coisas que os abusadores mais falam para as crianças é essa história do segredo. Eu voltei para casa com essa frase na cabeça e decidi que precisava fazer uma música sobre isso", lembra.

Então, ela pesquisou as orientações para retratar o assunto e escreveu a letra. "Eu postei no meu perfil cantando com a minha filha, que tinha três anos e meio na época, e o vídeo viralizou, porque foi em maio [mês da Campanha de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes]. Eu não sabia, foi uma coincidência", recorda. No final do ano, ela recebeu uma proposta de uma editora para lançar um livro infantil com a canção "Carinho não pode ser segredo". "Fizemos a letra da música ilustrada, colocamos um QR code para ouvir nas plataformas e acrescentamos orientações de uma psicóloga infantil sobre o tema", explica.

Quando a música viralizou pela primeira vez, ela recebeu muitos vídeos de crianças de corais de escola cantando e teve a ideia de produzir um videoclipe. "A minha ideia era gravar crianças cantando a música comigo. Entrei em contato com a ONG Nação Valquírias e conseguimos gravar com 60 crianças", diz.

O momento da filmagem foi muito especial para Elisa. "Foi um momento único e mágico, porque estar no meio das crianças e ouvi-las cantando uma mensagem tão forte foi algo muito emocionante. Eu acho que essa música tocou muito nas crianças interiores dos adultos também, muita gente começou a mandar seus relatos para mim, pessoas que nunca tinham falado sobre o abuso que sofreram na infância e de certa forma se libertaram um pouquinho", destaca.

Elisa sente que o objetivo da música está sendo comprido. "A pretensão era exatamente essa de fazer as pessoas falarem sobre o assunto, curarem suas próprias feridas e, principalmente, conversarem abertamente com as crianças dentro de casa", ressalta. "Eu tentei fazer um movimento muito integrado com várias frentes diferentes para que as pessoas se sensibilizem, toquem nesse tópico e tenham materiais para poder discorrer sobre com os pequenos", acrescenta.

Saiba quais são os sinais que podem indicar que alguém mexeu com o seu filho ou que ele sofreu abuso sexual. Mas vale o alerta: não é porque a criança apresenta algum desses sinais que ela necessariamente sofreu um abuso. "Geralmente, não é um sinal só, mas um conjunto de indicadores. É importante ressaltar que a criança ou o adolescente deve ser levado para avaliação de especialista caso apresente alguns sinais ou sintomas", defende a SBP.

1. Mudanças de comportamento de repente: agressividade, medo, pânico, silêncio em crianças que costumeiramente falam bastante ou extroversão demasiada em tímidas e vergonha em excesso são sinais de alerta, ainda mais se a criança nunca apresentou esse comportamento
2. Regressão de comportamentos: a criança volta a apresentar, de uma hora para a outra, comportamentos que ela já não tinha mais. Passa a fazer xixi na cama, chupar o dedo, ter medo de dormir sozinha...
3. Recusa em ficar perto de alguém em específico: é comum que as crianças queiram ficar longe de seus abusadores
4. Proximidade exagerada com alguém em específico: também pode acontecer o efeito contrário - a proximidade excessiva pode ser um sinal
5. Uso de palavras diferentes para falar sobre as partes íntimas: caso a criança comece a usar expressões diferentes das usadas em casa para nomear as partes íntimas, vale perguntar onde/em que situação ela aprendeu aquela palavra
6. Marcas no corpo e assaduras: são os sinais mais óbvios de violência sexual. Marcas roxas, batidas, inchaço na região genital, vestígios de sangue, dor para fazer cocô ou xixi, assaduras... Ao menor sinal de suspeita, o melhor é procurar o pediatra e fazer uma avaliação médica
7. Interesse sexual não condizente com a idade: fazer brincadeiras de cunho sexual, desenhar figuras que remetem às partes íntimas ou até apresentar uma curiosidade desproporcional sobre assuntos ligados à sexualidade também valem atenção
8. Mau desempenho escolar e dificuldade de concentração: quando as crianças passam por desafios emocionais, um dos primeiros lugares onde elas demonstram isso é na escola
9. Mudanças no padrão de sono e de alimentação: a criança pode passar a ter pesadelos, insônia ou até medo de ficar sozinha. Também pode apresentar falta de apetite e transtornos alimentares.
10. Comportamento inseguro e retraído: não ficar perto de amigos, se isolar, ter dificuldade para confiar nas pessoas, se recusar a participar de atividades que antes gostava, evitar contato físico, chorar sem motivo aparente, usar roupas de manga longa e capuz mesmo no calor...

• Como saber se mexeram no meu filho?

Por mais devastador que seja receber essa notícia, a psiquiatra infanto-juvenil Jaqueline Bifano orienta manter a calma e agradecer à criança por ter contado. Proteja a privacidade da criança e não comente sobre o que aconteceu com outros adultos na frente dela. Garanta que ela não tem a mínima culpa sobre o ocorrido, que você continua a amá-la muito e que fará tudo o que for possível para protegê-la.

Alguns adultos podem acreditar que a criança se sentirá melhor se ouvir que o abusador será severamente punido ou ferido, mas, isso não é recomendado, pois pode assustar ainda mais os pequenos em uma situação que já é bastante delicada. Denuncie o crime e busque ajuda profissional para a criança e para você.

Para a psiquiatra infanto-juvenil, o apoio de adultos protetores e o acompanhamento profissional especializado são essenciais para que a criança se recupere. “Os pais podem ajudar nesse processo mantendo um diálogo aberto, reforçando que estão ali para ajudar a enfrentar esse momento e que a criança pode contar com eles”, afirma. “Eles devem mostrar que amam, apoiam e protegem e que não vem a criança de forma diferente por causa do que aconteceu. Vale reforçar a força e a coragem que o pequeno está tendo ao enfrentar tudo isso”.