• Juliana Malacarne, do home office
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Menina triste (Foto: Getty Images)

O caso de uma menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada em São Mateus, Espírito Santo (ES), chamou atenção para a violência sexual contra crianças. O principal suspeito do crime é um dos tios da menina que foi preso nesta terça (18) em Minas Gerais e admitiu “informalmente” à polícia que cometera o crime.

De acordo com o depoimento da criança, o homem abusava dela desde os 6 anos de idade. Em um vídeo que circula pelas redes sociais, o acusado pede que o DNA do feto seja comparado com amostras do avô e de um outro tio que também moravam com a criança.

Nesta segunda (17), a menina passou por um procedimento para interromper a gravidez em um hospital referência de Pernambuco e seu quadro de saúde é estável. De acordo com a legislação brasileira, a interrupção da gravidez pode ser realizada caso seja decorrente de estupro, apresente risco de vida à mulher ou seja constatada anencefalia fetal.

O caso da menina provocou comoção nacional e uma mobilização de apoio nas redes sociais. Entre eles, o humorista e youtuber Whinderson Nunes se ofereceu para pagar os profissionais que farão o acompanhamento psicológico da criança e o youtuber Felipe Neto se prontificou a cobrir os gastos com educação da menina até a vida adulta.

No Brasil em 2018, de acordo com o Ministério da Saúde, 13409 crimes sexuais foram notificados contra crianças de 0 a 9 anos. Entre as vítimas nessa faixa etária, 76,4% eram meninas e 23,6% eram meninos. Cerca de 70% dos crimes aconteceram dentro de casa e em apenas 6% dos casos o autor não era conhecido da família.

A situação é dolorosa e muitas vezes é difícil para a criança contar o que está acontecendo. A seguir você confere alguns sinais de alerta que podem ajudá-lo a proteger ser seu filho e sugestões de como agir se um crime desse tipo for descoberto.

Encoraje o diálogo aberto

Uma das melhores maneiras de proteger uma criança do abuso sexual é manter um diálogo aberto com ela, de acordo com a idade. Isso inclui ensinar às crianças os nomes corretos dos órgãos genitais e explicar que o corpo da criança é só dela. Ninguém tem o direito de mexer nele sem consentimento. Deixe claro que, se qualquer adulto tentar fazer algo que a deixe desconfortável ou se sentindo mal, ela deve te contar e não precisa ter medo, pois você jamais irá puni-la.

Com as crianças mais velhas, vale conversar sobre o uso seguro da internet, ativar filtros de segurança no computador e ficar por perto quando seu estiverem navegando sempre que possível.

Por que algumas crianças não contam sobre o abuso?

De acordo com a psiquiatra infanto-juvenil Jaqueline Bifano, da Casa de Saúde Santa Maria (MG), a falta de intimidade emocional pode impedir algumas crianças de se abrirem com os pais. “Para contar o que está acontecendo, a criança precisa sentir que não será julgada, que não vão questionar a veracidade do que aconteceu, nem repreendê-la”, conta. “Muitas vezes, o abusador também ameaça a criança e ela tem medo de que ele possa fazer algo contra a família. Há ainda casos em que adultos nunca conversaram com a criança sobre o assunto então ela não sabe que determinados comportamentos de adultos são errados”.

Quais são os sinais que podem indicar abuso sexual?

Nenhum dos indícios a seguir comprova que a criança foi vítima desse tipo de crime e todos podem ser motivados por outras circunstâncias. Mas é importante ficar atento, de acordo com a psiquiatra Jaqueline, se a criança apresentar:

- Mudança repentina de comportamento. Por exemplo, uma criança extrovertida que, de repente, rejeita o contato social, ou uma criança tranquila que passa a demonstrar inquietação e agressividade em excesso.

- Distúrbios no sono.

- Distúrbios alimentares como anorexia e bulimia.

- Crises de choro constantes e repentinas.

- Regressão a etapas do desenvolvimento já superadas como xixi na cama e chupar o dedo.

- Queda brusca e repentina no desenvolvimento escolar.

- Vontade intensa de evitar situações e de encontrar pessoas específicas.

- Sinais de hiper sexualidade, como a simulação de atos sexuais com brinquedos.

- Dor de cabeça ou de estômago constante e sem causa identificada.

- Sinais físicos como inchaço, ferimentos ou hematomas ao redor da boca e dos órgãos genitais.

O que fazer se você desconfia que seu filho foi vítima de violência sexual?

Converse com a criança utilizando o vocabulário que ela conhece e faça perguntas diretas, mas não direcionadas como: “Alguém tem tocado em você?” ou “Sobre o que você e ele conversaram quando a mamãe e o papai estavam na cozinha?”.

Crianças são ótimas em identificar as emoções dos adultos, então, fique atento para conduzir a conversa de forma tranquila, pois se o pequeno sentir que você está tenso ou nervoso, ele pode se fechar. “Os pais devem dizer que notaram uma mudança de comportamento, sem julgar ou repreender, e que estão ali para ajudar o filho a resolver o problema”, afirma Jaqueline. O acompanhamento de um psicólogo nos casos de alterações bruscas de comportamento também é recomendado.

Como agir se seu filho revelar que sofreu abuso sexual?

Por mais devastador que seja receber essa notícia, mantenha a calma e agradeça à criança por ter contado. Os pequenos observam as reações dos adultos para decidirem como devem agir e o mais importante é assegurar a criança de que vocês vão superar isso juntos e que vocês vão ficar bem.

Proteja a privacidade da criança e não comente sobre o que aconteceu com outros adultos na frente dela. Garanta que ela não tem a mínima culpa sobre o ocorrido, que você continua a amá-la muito e que fará tudo o que for possível para protegê-la.

Alguns adultos podem acreditar que a criança se sentirá melhor se ouvir que o abusador será severamente punido ou ferido, mas, isso não é recomendado, pois pode assustar ainda mais os pequenos em uma situação que já é bastante delicada. Denuncie o crime e busque ajuda profissional para a criança e para você.

Para a psiquiatra infanto-juvenil, o apoio de adultos protetores e o acompanhamento profissional especializado são essenciais para que a criança se recupere. “Os pais podem ajudar nesse processo mantendo um diálogo aberto, reforçando que estão ali para ajudar a enfrentar esse momento e que a criança pode contar com eles”, afirma. “Eles devem mostrar que amam, apoiam e protegem e que não vem a criança de forma diferente por causa do que aconteceu. Vale reforçar a força e a coragem que o pequeno está tendo ao enfrentar tudo isso”.