Elisama Santos - Entre laços

Por Elisama Santos

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 9 anos, e Helena, 7. Autora do livro "Educação não violenta"

 


Existem dias em que odeio ser a adulta da relação. Dias em que quero sair batendo porta, mostrando a língua e gritando bem alto: “Problema seu, eu não quero mais ser a sua mãe!”. Quero dar de ombros, virar os olhos, cruzar os braços e não fazer nada, me sentindo a mais injustiçada dos seres, como eu fazia – ou ficava apenas na vontade de fazer – quando tinha 14 anos. Essa coisa de ter maturidade e recurso emocional para lidar com as dificuldades da parentalidade é missão complexa – me sinto Tom Cruise saltando de aviões em um dos filmes Missão Impossível.

Mãe cansada com bebê no berço — Foto: Freepik
Mãe cansada com bebê no berço — Foto: Freepik

Tenho inveja das pessoas naturalmente tranquilas. Daquelas que não precisam respirar fundo, que não se irritam com imprevisibilidades, que são equilibradas sem muito esforço. Eu, claramente, não estou nesse grupo. O meu padrão é a criança desaforada que coloca a mão nas cadeiras e faz careta quando contrariada. Preciso acalmar a Elisaminha dentro de mim algumas vezes ao dia ou ela briga com os meus filhos e o caos se instaura. Ser a adulta, por aqui, é um exercício intencional que, por vezes, exige algumas inspirações profundas e copos d’água.

Nós não escolhemos como vamos nos sentir. Não escolhemos a nossa história de vida, o contexto social e cultural em que estamos inseridos. Não escolhemos se mamãe e papai foram amáveis, compreensivos e tranquilos com os nossos erros. Não escolhemos as referências que tivemos sobre o que é ser adulto ao longo da vida. Nenhuma marca na nossa história desaparece magicamente apenas porque decidimos que seremos acolhedores e gentilmente firmes com as nossas crianças. Nosso amor coexiste com as nossas dores e feridas.

“A ilusão de que deveria ser fácil apenas piora as coisas. A gente se sente incapaz, desnorteada”
— Elisama Santos

A gente escolhe, no entanto, o que vai fazer diante de toda essa mistura. A gente escolhe se vai xingar mentalmente, respirar fundo e lidar com o desafio nº 15.492 do dia ou se vai deixar os impulsos guiarem sem freio. A gente escolhe o que vai fazer com a dificuldade de escuta ou a impaciência no momento do banho. Não fazer nada e torcer para que as coisas melhorem sozinhas também é escolha.

A ilusão de que deveria ser fácil apenas piora as coisas. A gente se sente incapaz, desnorteada, incompetente. As redes sociais, com suas várias dicas de como lidar com esse ou aquele comportamento, fazem tudo parecer descomplicado. Como assim, você não consegue? Como pode ser tão difícil pra você? Basta ser o adulto!

Não é “só” ser o adulto. É tudo isso. É gigante. É um esforço imenso. Essencial, importantíssimo e igualmente desafiador – sobretudo quando não tivemos adultos que assumiram o seu papel de anfitriões gentis em nossa educação. Sim, erraremos, deixaremos os medos e as dificuldades falarem mais alto que o amor. Que, inclusive nesses momentos, sejamos adultos responsáveis e respeitosos para assumirmos e repararmos os nossos erros.

Nesse aprendizado dificílimo, que a gente aprenda a ampliar as opções de o que fazer com o nosso querer. Que os dias de Ethan Hunt (personagem de Tom Cruise em Missão Impossível) sejam as exceções. Amém!

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer
Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer

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