Elisama Santos - Entre laços

Por Elisama Santos

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 9 anos, e Helena, 7. Autora do livro "Educação não violenta"

 


A imagem da mãe exausta, comendo em pé, enquanto tira as roupas da máquina de lavar, responde a um e-mail e auxilia o filho com a lição não pode ser vendida como um símbolo de doação altruísta e amor materno. Histórias de mães que abriram mão dos seus sonhos, negaram vagas de emprego ou trancaram a faculdade porque eram inconciliáveis com a maternidade não podem ser repassadas com filtro vintage e música emocionante. Como vimos com frequência no mês das mães, o mês oficial da glamourização da exaustão materna. A guerreira, a que doa tudo em nome da felicidade do rebento, a que sustenta o peso emocional e logístico da família, sem reclamar.

As dores da maternidade não devem ser motivo de orgulho e exposição — Foto: Freepik
As dores da maternidade não devem ser motivo de orgulho e exposição — Foto: Freepik

Eu me lembro das homenagens às mães na infância: a música do avental sujo de ovo, que cantávamos anualmente, as fotos de mulheres com bobes no cabelo, o papai no bolso e a mamãe no coração. Cada letra ensinava a nós, meninas, o nosso papel. Também ensinava aos meninos o que esperar de nós. Homenageávamos as nossas mães sem pensar em quem eram de verdade, o que sentiam, o que sonhavam, o que desejavam. Mães eram mães e isso deveria bastar, os sacrifícios eram prova do quanto eram especiais.

Os tributos atuais são mais sutis, mas não menos opressores. Nos retiraram os aventais e os bobes, mas seguimos servindo, cuidando, ofertando cada segundo do nosso tempo, recebendo apenas sorrisos, flores e perfumes em troca. Seguindo a cartilha do momento, as palavras de ordem aparecem nas peças comerciais, longe dos seus reais significados: puerpério, machismo, equidade. Ditas e repetidas sem que sejam colocadas em prática. São enfeites, como o vaso de flores do cenário. Agora nos dizem: “ser mãe é difícil!”, e complementam “você aguenta!”.

Sim, educar um ser humano é difícil, mas não precisa ser exaustivo. Se fôssemos culturalmente ensinados a cuidar das crianças como parte importante do grupo, se todos e todas assumíssemos a nossa parte em apoiar a família mais próxima, independentemente da vontade pessoal de ter filhos, a maternidade seria exercida com mais equilíbrio. Se os meninos brincassem de bonecas e vassouras e soubessem que quem suja limpa e quem respira é capaz de cuidar, mulheres não teriam de ser gestoras e operárias da família. Mas ninguém faz a sua parte e a mulherada se vê solitária, acreditando que ser polvo é um dom divino. Abraça o cansaço como prova de amor, porque ele precisa ganhar um sentido para ser menos doloroso. Chora com a campanha que mostra a rotina da mãe que adormece no sofá. O que nos faz exaustas é a falta de apoio, não o amor aos nossos filhos. Amá-los é uma experiência linda, prejudicada pela sobrecarga. Não glamourizem o que deveria envergonhar a sociedade inteira.

Tenho fé de que, no futuro, as homenagens do Dia das Mães reflitam uma maternidade real justa e bem amparada. E que ser mãe e estar exausta não sejam sinônimos.

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer
Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer

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